O momento econômico que o mundo vive não tem precedentes, e navegar no empreendedorismo, neste momento, pode ser algo altamente arriscado. Por isso, conversamos com Ana Cecília Nunes, coordenadora acadêmica do Idear-PUCRS - Laboratório Interdisciplinar de Empreendedorismo e Inovação -, Mariana dos Santos, membro-fundadora da Odabá/Reafro-RS - Rede de Afroempreendedorismo, e Thiago Marcílio, analista de relacionamento com o cliente do Sebrae-RS, para saber como tornar a jornada como empreendedor mais eficiente para quem está dando os primeiros passos no mundo dos negócios.
Em que área investir?
Os especialistas apontam que é difícil apontar qual setor dará mais retorno financeiro a curto prazo. Contudo ressaltam que, atualmente, alimentação, eletrônicos, suporte em TI e acessórios para home office têm se destacado.
Identifique uma oportunidade
A coordenadora acadêmica do Idear-PUCRS afirma que o empreendedor precisa usar o conhecimento que já tem e a rede que está a sua disposição:
— Esses dois fatores são mais importantes do que se aventurar em uma área que, no momento, pode estar em alta, mas que não necessariamente é algo com a qual o indivíduo esteja familiarizado. O que pode tornar a empreitada mais arriscada.
Encontre seu ramo
Muitas vezes, o tempo dedicado ao negócio ultrapassa as 12 horas diárias e invade madrugadas. Por isso, tente encontrar um ramo que dialogue com o que você gosta, ressalta Mariana:
— Quem virou empreendedor durante a pandemia entrou por sobrevivência, mas é preciso pensar a vida pós-pandemia, também, e levar em consideração que seu negócio estará de pé após esse processo. Por isso, pense se a ideia que você tem em mente é com o que você pretende trabalhar pelos próximos anos.
Tenha uma reserva
O analista de relacionamento com o cliente do Sebrae-RS pontua que é preciso ter uma reserva financeira de, pelo menos, três meses para conseguir se manter. Lembre que muitos empresários não têm conseguido ter acesso ao crédito oferecido pelo governo federal.
Mapeie o ramo
Uma vez identificado o setor de atuação, colha o maior número de informações possíveis sobre ele. Estude quem são seus concorrentes, quem oferece o mesmo produto ou serviço que o seu na sua região, destaca Marcílio.
— Não é o momento de errar, então, conheça muito bem o ramo. Estude sua potencial clientela, identifique a melhor forma de se comunicar com ela. Se optar por alugar um espaço, analise quem é sua concorrência na redondeza. Feito isso, trace o plano de negócio, definindo estratégias, porque isso ajuda a reduzir riscos de investimento — afirma.
Comunicação
Procure engajar as pessoas com o produto ou serviço ofertado por você. A comunicação deve trazer informações sobre o que é comercializado, mas não somente isso. Busque trazer nas publicações informações relacionadas ao seu negócio. Por exemplo, se você vende marmitas funcionais, traga informações sobre os benefícios das combinações de cada combo. Em relação a qual canal de comunicação deve ser utilizado, não existe resposta pronta, segundo a membro-fundadora da Odabá/Reafro-RS:
— Isso depende do seu público. Por isso, é importante estudar seus clientes e saber qual rede social eles utilizam mais. O importante é estar onde sua clientela estará. Caso eles usem mais o Facebook ou Instagram, dá para criar anúncios por geolocalização. Se for o WhatsApp, dispare listas de transmissão com as novidades do produto ou serviço.
Transparência
A coordenadora acadêmica do Idear – PUCRS afirma que é importante dividir as incertezas, porque isso auxilia no processo de cocriação de algo que irá contemplar a clientela.
— Use as redes sociais para pedir sugestões sobre uma novidade que você pensa em lançar. Essa atitude gera ótimo engajamento do público com o que está por vir e estreita o relacionamento entre a marca e as pessoas — observa.
Crie um cadastro
Marcílio afirma que muitas empresas perderam oportunidade de venda durante a pandemia por não terem um cadastro dos clientes para mantê-los informados das novidades, promoções etc. Por isso, crie um cadastro, saiba como contatar seu público.
Como será a entrega?
Avalie qual o melhor meio para entregar o que você oferece. Se será por e-commerce, correio, transportadora, motoboy etc. No caso de produtos, por exemplo, Mariana faz uma ressalva:
— As pessoas têm muita pressa quando compram itens. No caso dos pequenos, a vantagem deles sobre os grandes pode ser o tempo de entrega, em função da proximidade com o público. Avalie como você pode diminuir o tempo de entrega do seu produto e sair na frente para, assim, fidelizar a clientela.
Atenção às despesas
Olhe para o seu processo produtivo e veja onde os custos podem ser cortados ou enxugados e procure organizar prazos de pagamento junto aos fornecedores para manter o fluxo de caixa equilibrado durante o mês, destaca o analista de relacionamento com o cliente do Sebrae-RS.
Finanças
Marcílio aponta que um dos principais erros de quem está começando a empreender é a falta de organização das finanças. Isso porque as pessoas tendem a não separar o dinheiro que é da empresa daquele que é pessoal:
— É muito comum que as pessoas retirem dinheiro direto do caixa e não separem um pró-labore. Isso faz com que o empreendedor não tenha controle sobre as retiradas. O correto é que ele determine um salário mensal. Esse salário é um custo da empresa e precisa ser levado em consideração na hora de precificar o produto.
Teste
Com planejamento, teste seu produto ou serviço e colha feedback dos clientes para saber o que eles acharam das novidades e alterações, aconselha a membro-fundadora da Odabá/Reafro-RS. O teste não precisa, necessariamente, ser gratuito, explica a coordenadora acadêmica do Idear-PUCRS.
— Quem está começando pode anunciar nos canais de comunicação que vai lançar o produto X e oferecer por um preço mais em conta a novidade para aqueles que já adquiriram algo da empresa, por exemplo. Aí, fica a condição de a pessoa estar disposta a conversar contigo para ela falar o que achou. Quando o produto for em quantidade maior para o grande público, já não terá problemas — afirma.
Diversifique suas receitas
Além de ter o seu produto como carro-chefe do negócio, opte também por pensar em outras alternativas de receita. Por exemplo, busque emplacar parcerias com patrocínio, financiamento coletivo com recompensas para quem doar, workshops e eventos online pagos sobre assuntos ligados ao ramo do seu empreendimento. Outra alternativa é adaptar o portfólio, aponta Ana Cecília:
— Pense em remodelar o seu portfólio de produtos, levando em consideração o contexto vivido. Por exemplo, lojas de roupas que passaram a vender máscaras também.
Atualize-se
Mariana e Marcílio ressaltam a importância de se manter constantemente atualizado sobre o que os concorrentes fazem e as mudanças no setor. Eles afirmam que é preciso procurar entender o mercado da forma mais completa possível para, então, estar apto a inovar. Inovação requer estudo, apontam.