Filha, sobrinha e bisneta de mulheres engajadas na luta pelos direitos humanos, Mainá Stock Godoy, 16 anos, está habituada a discutir política e igualdade de gênero nos almoços de família. A influência da árvore genealógica foi fundamental para proporcionar a bagagem que, hoje, divide com mulheres do mundo todo na reunião internacional da Comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Status das Mulheres.
Entre os dias 11 e 15 de março, a aluna do segundo ano do Ensino Médio está representando o Colégio Santa Inês, de Porto Alegre, no encontro promovido na sede da ONU, em Nova York, nos Estados Unidos. Participando de um intercâmbio naquele país desde julho do ano passado, a adolescente foi surpreendida pelo convite, feito em novembro de 2018.
— Não tinha ideia que poderia ter chance. Fiquei muito honrada. Quando recebi o e-mail da ONU, gritava no quarto — relembra a menina, que foi indicada pelo próprio Santa Inês, em resposta ao convite da congregação Irmãs Escolares de Nossa Senhora (IENS).
Por telefone, ela disse que, depois de receber a confirmação da participação no encontro, debruçou-se sobre documentos e relatórios dos anos anteriores. Contou com a ajuda da tia Bárbara Stock, professora universitária no Chile que estuda e trabalha com questões de violência de gênero, para desvendar a linguagem técnica da papelada e chegar pronta para a comissão.
— Foi tranquilo de tempo para eu me preparar. A vaga na comissão, que antes cabia a uma irmã da congregação IENS, tem sido cativa há dois anos. Não tínhamos representatividade, só a irmã, para quem mandávamos as nossas questões. Reivindicamos a participação das nossas jovens e, no ano passado, foi aberta essa possibilidade para a América Latina. Dessa vez, conseguimos mandar a nossa representante — diz a diretora do Santa Inês, Celassi Dalpiaz.
A escolha foi certeira: Mainá, além de boa aluna, é dedicada a muitas atividades que a escola oferta. Faz trabalhos voluntários, já foi membro do Grêmio Estudantil e participou dos grupos extracurriculares, como o de robótica. A facilidade com a língua inglesa também deu um empurrão.
Nesta sexta-feira (15), quase no fim daquilo que considerava algo muito distante da sua imaginação, a estudante diz que está "triste" com o término da experiência, mas se disse impressionada com o que viu e vivenciou.
— Tem ministros e pessoas importantes de vários países — contou, na manhã desta sexta-feira (15), enquanto aguardava uma palestra sobre violência da mulher na República Dominicana.
Sobre as lições e aprendizados, resumiu:
— É lindo e incrível. Foi importante para eu abrir meus olhos para todas as diferentes realidades. O ministro da Noruega falou como é incrível lá, eles estão muito na frente. Enquanto no Zimbábue, as meninas não têm acesso à educação.
No Brasil, a psicóloga Bianca Sordi Stock não mede palavras para descrever o orgulho que sente da filha única.
— Como mãe, é fantástico, um orgulho imenso. Quem é mãe de adolescente sabe como é complexo ser pai na contemporaneidade. São muitos desafios para a construção ética e responsável, principalmente com meninas. Ver ela lá é pensar na magnitude da experiência e no quanto isso pode inspirar outras meninas a se sentirem empoderadas — comentou, acrescentando que Mainá tem recebido mensagens de meninas de diversas escolas interessadas na sua experiência.
Depois de cumprir a agenda, Mainá volta para a escola que frequenta em Indianápolis, nos Estados Unidos, e, em junho, retorna para Porto Alegre com a missão de compartilhar na escola todas as discussões tratadas no encontro.