Se em maio a inflação de Porto Alegre foi a mais alta do país, em razão da tragédia climática que atingiu o Estado, em junho, figurou com a menor variação entre as 11 Regiões Metropolitanas avaliadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira (10), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da capital gaúcha fechou o mês passado em queda de 0,14%, na contramão da média apurada para o Brasil, onde houve avanço de 0,21% em igual período.
Enquanto na performance nacional, dos nove grupos avaliados pelo IBGE, sete fecharam em elevação, em Porto Alegre, foram verificadas baixas em quatro. Entre os segmentos que atuaram no campo negativo os destaques são os itens de Alimentação, com –0,52% e de Habitação, com –0,48%. Ambos registraram alta no país, de 0,44% e 0,25%, respectivamente.
O descolamento do IPCA gaúcho do brasileiro é um dos reflexos da enchente de maio para a economia gaúcha. Mas, conforme explica o economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal, há duas explicações para desempenho. O primeiro é a enchente, que pressionou os preços em maio e, em junho, quando as águas retrocederam puxaram também os preços para baixo. O segundo se refere ao regime tributário.
Isso acontece, segundo ele, por força dos decretos do governo estadual que encerravam incentivos fiscais de alguns itens, sobretudo, os da cesta básica, em maio. Como houve a retirada dessas medidas, o efeito foi o oposto, em junho. Houve menor incidência de ICMS nos produtos e a inflação voltou a cair, comenta Portugal.
– Então, nós tivemos esse pulo aqui no Rio Grande do Sul de enchente e aumento de imposto gerando a maior inflação do Brasil em maio, versus redução de imposto e diminuição da enchente gerando a menor inflação do Brasil – resume.
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo concorda e lembra ainda que em junho, sem os decretos que faziam com que os preços dos produtos da cesta básica ficassem mais caros, aconteceu “um grande ajuste de preço” nos alimentos.
– Basicamente porque a gente também tem essa força de alívio tributário. Em maio, além obviamente dos efeitos derivados da enchente, que pressionaram a capacidade de oferta de vários produtos e aumentaram a demanda de vários outros, o que tende a pressionar preços, a gente teve um aumento de preços de bens ligados à cesta básica em virtude do aumento de tributos.
Alívio nas enchentes e trégua na inflação
Na avaliação do economista-chefe da CDL-Porto Alegre, Oscar Frank, o resultado de maio, ocorre naturalmente, em função de tudo o que aconteceu no Estado e já se esperava para o comportamento dos preços.
Segundo ele, o desempenho da Capital está dentro de um processo inicial de reconstrução e de reestabelecimento das atividades, num sinal de melhor equilíbrio entre oferta e demanda no Estado. Para Frank, trata-se de um período de ajustes, que é essencial para explicar o dado.
— É claro que a gente ainda tem vários tipos de situações e problemas depois de tudo o que aconteceu, mas a gente já começou a reestabelecer parte do modal rodoviário, tem ainda o problema no aeroporto Salgado Filho, mas as cadeias de abastecimento começaram a voltar à normalidade a partir do momento também que as águas baixaram. Então, entendo que passa muito por aí e, sobretudo, a partir do início de junho a gente começou a ter melhor situação com relação às enchentes o que propiciou já uma situação melhor do ponto de vista dos preços — comenta.
Especificamente para os alimentos, o economista chama a atenção para produtos relevantes como o arroz e o leite que devolveram parte das altas apuradas em maio e registraram deflações em junho.
Menos risco de elevação de Juros
O Economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal afirma que o resultado nacional (0,21%) é positivo sobre vários aspectos. O primeiro, é a queda significativa na comparação com maio (0,46%). O segundo é ter ficado abaixo das expectativas do mercado, que projetava o IPCA entre 0,30% e 0,33% em junho.
O terceiro, e mais relevante, na avaliação do Economista, é o fato de afastar os temores de que o Banco Central (BC) possa voltar a levar a taxa de juro na reunião do dia 31 de julho. Isso acontece porque o resultado abaixo das expectativas e foi disseminado na economia, afetando preços de produtos industriais (que vieram mais baixos do que se imaginava), e dos serviços, ambos aspectos considerados nas decisões do Copom:
– Foi uma surpresa positiva generalizada, não foi um ponto fora da curva que puxou a média da inflação para baixo. Se a gente pensar numa inflação de 12 meses, que nem junho, nós estamos falando de uma inflação anualizada na ordem de 3%, portanto, compatível com a meta, o que abre espaço para o BC eventualmente voltar a puxar juros para baixo, quando boa parte das apostas de mercado nos últimos tempos apontava para voltar a subir os juros.