Empresas atingidas pela enchente no Rio Grande do Sul já realizaram operações de crédito que superam R$ 1 bilhão por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Esses contratos fazem parte das medidas anunciadas pelo governo federal já no primeiro pacote de apoio à reconstrução, em 9 de maio.
Como demonstra o Painel da Reconstrução do RS, ferramenta desenvolvida pelo Grupo RBS, operações de crédito representam a maior fatia do socorro do Palácio do Planalto para socorrer as empresas gaúchas. Para reforçar o Pronampe, o governo federal realizou um aporte direto de R$ 4,5 bilhões para concessão de garantias no Fundo Garantidor de Operações (FGO). A partir deste recurso, o governo projeta a concessão de crédito no total de até R$ 30 bilhões.
As operações do Pronampe solidário ao Rio Grande do Sul tiveram início por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que lideram as contratações de crédito. Posteriormente, Banrisul e Sicredi também foram autorizados pelo governo federal a operar a linha especial do programa.
O Banco do Brasil é a instituição que mais realizou contratações até o momento. Até quarta-feira (12), já liberou cerca de R$ 760 milhões em crédito contratado, para aproximadamente 6,6 mil clientes.
— Essas micro e pequenas empresas poderão começar a refazer seus negócios, voltando a gerar trabalho e renda, participando efetivamente na recuperação da economia local — avalia a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros.
A Caixa, também até quarta-feira, assinou cerca de 2,7 mil contratos, totalizando aproximadamente R$ 324 milhões em crédito concedido. Somado aos R$ 760 milhões já operados pelo Banco do Brasil, o total chega a R$ 1,084 bilhão. Banrisul e Sicredi ainda contabilizam os valores contratados.
Dinheiro já permite recuperação
Um dos negócios que solicitou recursos via Pronampe e já está aplicando o dinheiro liberado é o bar e restaurante Olivos 657, localizado na Rua da República, na Cidade Baixa, em Porto Alegre. Após ter tido o melhor faturamento mensal de seus 12 anos de história em abril deste ano, o Olivos foi inundado no início de maio, fechou as portas por cerca de 40 dias, reabrindo somente nessa quarta-feira.
Um dos sócios do restaurante, Frederico Müller calcula prejuízo direto de pelo menos R$ 80 mil com a inundação, além dos valores que deixaram de ingressar enquanto estava com as portas fechadas. A água que entrou no imóvel comprometeu móveis, geladeiras, utensílios de cozinha, alimentos e objetos de decoração, entre outros.
— O prejuízo foi grande, e veio em um momento inesperado. Ficamos sabendo dessa opção do Pronampe, fui até o Banco do Brasil, onde já era correntista, e consegui fazer o procedimento. O dinheiro entrou após alguns dias na conta, e já estamos usando para financiar a restauração do bar, comprar os móveis e utensílios que a gente precisa e pagar a folha — afirma Müller.
Outra empresa que já faz uso de recursos obtidos pelo Pronampe é a cervejaria porto-alegrense Chosen Beer. Além de ter um bar no bairro Rio Branco, a Chosen mantém as operações da cervejaria em um galpão, ao lado de outro bar da marca, no bairro São Geraldo, gravemente atingido pela enchente na Capital.
— Com o alagamento perdemos equipamentos, estoque e tivemos danos estruturais. A gente calcula nosso prejuízo em cerca de R$ 150 mil, que foi também o valor que solicitamos pelo Pronampe. Estamos usando esses recursos para recuperar nossa operação e ter capital de giro no caixa, pois além de nossos custos fixos regulares, temos que arcar agora com as despesas da retomada — detalha Marcelo Caselli, um dos sócios da Chosen Beer.
Quais são os benefícios
Os pequenos negócios localizados em municípios em situação de calamidade podem contar com subsídio de 40% do valor do empréstimo. Isso significa que, ao contratar um crédito de R$ 100 mil, por exemplo, o empreendedor precisará pagar R$ 60 mil ao banco. Foi reservada a quantia de R$ 1 bilhão para garantir esse subsídio.
Essas operações têm ainda dois anos de carência antes de começar o pagamento, e possibilidade de parcelar o valor em até 60 prestações. Os empreendedores poderão solicitar montante referente até 60% do faturamento do ano anterior, com um limite de até R$ 150 mil. Os juros são a taxa Selic mais 6%.
— Essa medida foi muito importante neste primeiro momento para socorrer essas empresas, tão impactadas com as enchentes e a interrupção de suas atividades, afetando muito seu caixa e sua capacidade de funcionamento. Por isso, o subsídio de 40% do valor para empresas em municípios em situação de calamidade é tão importante, para ajudar nessa retomada, assim como o maior prazo de carência antes de iniciar o pagamento — avalia o gerente de produtos do Sebrae RS, Augusto Martinenco.