A reconstrução do Rio Grande do Sul após ser varrido pela enchente histórica passa por esforços em diversas frentes. No setor privado, iniciativas como o programa Reconstrói RS emergem para unir o espírito empreendedor e comunitário em prol de ações que sejam rápidas e resolutivas na reconstrução do Estado.
O projeto é liderado por Instituto Ling, Instituto Floresta e Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), e foi tema de reunião do Tá na Mesa. O evento promovido semanalmente pela federação foi retomado nesta quarta-feira (29), de forma online, já que o Palácio do Comércio, sede da entidade, passa por reparos depois de também ter sido impactado pela enchente.
A apresentação foi conduzida pelo presidente da Federasul, Rodrigo Costa. Passada a primeira etapa de enfrentamento da catástrofe, o dirigente diz que o Estado entra agora em fase de superação e de resiliência. Para isso, reforçou que a entidade e o setor empresarial darão apoio para a retomada dos negócios e das cidades:
— Acreditamos que o espírito comunitário, quando ele se junta com a capacidade de empreender, de gerar riqueza e oportunidades de trabalho, é de onde sai a superação. Com este projeto, temos a oportunidade de trazer o espírito comunitário e a capacidade de empreender, que precisaremos muito no Estado do Rio Grande do Sul.
William Ling, presidente do Instituto Ling, disse que uma das inspirações para a concepção do projeto veio de Nova Roma do Sul, município que reconstruiu uma ponte destruída pelas águas em tempo recorde no ano passado. A mobilização da comunidade arrecadou R$ 9 milhões para a construção da nova travessia.
— É um modelo descentralizado, em que o protagonismo está lá na ponta. Estamos estimulando que as comunidades se organizem, busquem cooperação, juntem recursos, e nós entraremos para alavancar e complementar para que se viabilize rapidamente e sem intermediação — disse Ling.
Os detalhes de como vai funcionar o aporte de recursos serão divulgados nos próximos dias. Enquanto isso, as entidades incentivam que os municípios ganhem tempo elencando os seus projetos prioritários para buscar a cooperação.
O Instituto Ling será a estrutura jurídica que irá canalizar os recursos direcionados para cada obra, explicou Ling. O pré-anúncio do projeto foi feito em Nova York, no início do mês, onde foi revelado um fundo financeiro que hoje já conta com aproximadamente R$ 80 milhões para ajudar na construção do Estado.
Presidente do conselho do Instituto Cultural Floresta, Claudio Goldsztein compartilhou o que viu na linha de frente dos resgates para situar sobre a dimensão desta enchente em relação aos episódios que já haviam atingido o Estado em 2023. O tamanho da tragédia exigiu organização ainda maior da sociedade civil, dos resgastes à recepção dos mantimentos, para que o maior número possível de pessoas pudessem ser salvas.
Goldsztein citou ações como a compra de mais de 300 antenas starlink para garantir a cobertura de sinal de internet em diversos municípios afetados. Também foi criado um centro de distribuição para receber os donativos de doadores que prefiram fazer doações diretas. O local já recebeu mais de 120 caminhões nas últimas duas semanas. Os itens são fracionados e direcionados para entrega em pontos atingidos.
— Este é o trabalho atual e agora estamos com olhos para os projetos de reconstrução — disse o empresário.
De Santo Ângelo, o vice-presidente de micro e pequenas empresas da Federasul, Douglas Ciechowicz, citou as intervenções feitas no aeroporto do município, que se tornou um dos hubs no Interior enquanto o Salgado Filho segue fechado por tempo indeterminado em Porto Alegre. Com orientação da Federasul, disse Ciechowicz, os entes privados entenderam a sua importância na atuação desta crise em específico, dando celeridade aos processos.
— A comunidade entendeu que a força do coletivo consegue mover montanhas. Construir pontes. As associações comerciais têm que atuar para conseguir esses recursos e atingir o maior número de pessoas num curto prazo — defendeu.
Rafael Goelzer, vice-presidente de integração da Federasul, acrescentou que o olhar empreendedor do gaúcho, conhecido por ganhar fronteiras em outros Estados, tem papel importante neste movimento de retomada. Para Goelzer, o projeto Reconstrói RS vai muito além dos valores financeiros empregados.
— Ele trabalha os valores da alma, do altruísmo, do associativismo empreendedor, o interesse social, e, mais do que isso, a capacidade de transformação que a sociedade tem unida — destacou.