Do presunto ao salame, a falta de embutidos nos últimos dias tem chamado a atenção nas prateleiras de supermercados no Estado. O principal gargalo apontado por varejistas e pelo setor produtor de carne suína é logístico: as enchentes deixaram rodovias alagadas, pontes caídas e estradas destruídas ou danificadas, e isso dificulta tanto o abastecimento do varejo com produto final, quanto o abastecimento das indústrias com matéria-prima.
De acordo com o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, a questão de reposição tem a ver também com o número de marcas com que cada supermercado trabalha:
— Um dos fornecedores pode ter ficado com o depósito alagado, ou está com problema de acesso. O que antes fazia 200 quilômetros para se deslocar, agora pode estar fazendo 400 quilômetros.
No caso de Longo, que também é dono do Supermercado Super Apolo, na Serra, faltou presunto por dois dias.
Nas unidades do Grupo Zaffari, o problema foi parecido. Em nota, a empresa informou ainda que chegou a acionar outros fornecedores, "porém esses não conseguem atender a 100% da demanda".
O mesmo ocorreu na Via Atacadista, que tem unidades nos municípios de Bento Gonçalves, Farroupilha, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul e na Capital. Para Alexandre Simioni, presidente do Grupo Passarela, dono da rede de atacado, o gargalo tem a ver também com uma "demanda fora da curva":
— Muita gente está fazendo marmita para os desabrigados, e algumas lojas na Grande Porto Alegre estão fechadas. Então, essa demanda vai para outras. Não tinha estoque preparado para tudo isso. Ainda mais por esses produtos serem perecíveis.
Para a semana que vem, Simioni acredita que a situação seja normalizada na maior parte da sua rede. Em Porto Alegre, no entanto, ainda não há previsão. Situada no Bairro Sarandi, a loja da Via Atacadista da Capital está inundada. Com 190 funcionários, o prejuízo estimado é de, no mínimo, R$ 20 milhões.
— Assim que baixar a água, vamos ter trocar equipamento, fazer toda a limpeza, jogar fora mercadoria, e é bastante mercadoria que tinha na loja — planeja o empresário.
Metade dos embutidos vendidos no RS vêm de fora
Na avaliação do setor de carne suína gaúcha, o desabastecimento pode estar ocorrendo também porque parte dos embutidos consumidos no Estado vem de fora. Presidente da cooperativa Dália Alimentos, de Encantado, Gilberto Piccini, estima que 50% a 60% desses produtos sejam de Estados como Santa Catarina e Paraná.
— E aí entra, mais uma vez, o gargalo logístico — reforça o dirigente.
No Estado, apenas 30% dos abates de suínos, matéria-prima dos embutidos, foram afetados pelas cheias. A maior parte dos frigoríficos voltados a esses produtos está localizada no Noroeste, segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Estado (Sips), região que foi menos afetada pela chuva. É o caso da Seara, da Alibem e da Aurora.
Por isso, Rogério Kerber, diretor-executivo do Sips, faz coro:
— O problema é de abastecimento de outros Estados para cá. A maior parte das unidades não têm problema de produção. Até porque trabalham com estoque de matéria-prima.
Com sede no Vale do Taquari, a Dália Alimentos é uma exceção. Há 19 dias sem funcionar em razão da falta de energia elétrica, a cooperativa espera retomar suas operações na próxima segunda-feira (20). Nesse período, não produziu.
— Nosso problema de logística foi para chegada de insumos, trazer a matéria-prima do campo para a agroindústira e deslocamento de funcionários.