O agravamento da situação das enchentes em diversos municípios do Rio Grande do Sul provoca uma corrida dos gaúchos aos supermercados. Em muitos estabelecimentos, houve dificuldades para encontrar estacionamento, faltavam carrinhos e havia a necessidade de reposição de itens de tempos em tempos, com esperas para o pagamento nos caixas superior a 30 minutos. A situação, conforme o relato de algumas pessoas, é mais complicada do que a verificada durante a greve dos caminhoneiros, em 2018, e a do início da pandemia, em 2020.
Leonel Silva Ribeiro foi um dos porto-alegrenses que recorreu às filas, nesta sexta-feira (3), para garantir algum estoque para enfrentar os próximos dias de incertezas.
— Eu vim reforçar o estoque um pouquinho. Graças a Deus, Ele me deu condições de eu comprar essa raçãozinha aí do dia a dia E vamos lá porque a vida tá dura e nós não cuidamos da natureza — comenta ao apontar para o carrinho reforçado, com ovos, café e leite, e mais alguns itens não perecíveis. — Se faltar luz, tem vela, fogão a lenha e carvão também.
Apesar de dificuldades logísticas para o transporte de hortifrutigranjeiros e a menor oferta de carnes, em razão de paralisações em plantas de abates de aves e suínos, sobretudo no Vale do Taquari, que geram situações atípicas em algumas regiões, o risco de desabastecimento generalizado é descartado pela principal entidade do setor do Rio Grande do Sul.
De acordo com o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, há situações regionalizadas e cidades isoladas, mas no momento em que começarem a ser desobstruídas as vias de acesso, o problema será amenizado.
— Nós ainda estamos preocupados em preservar as vidas, estamos ansiosos em ver que as pessoas todas estejam seguras quanto à alimentação. Realmente, desabastecimento geral não existe esse problema. Existe, sim, uma questão logística que no momento em que se desobstruírem alguns acessos a situação está normalizada — afirma.
De acordo com o dirigente, em alguns casos a liberação das rodovias ocorrerá ainda na sexta-feira (3). Ele projeta um quantidade maior de acessos normalizados na segunda-feira (6). Por outro lado, lembra que muitas pontes foram levadas pelas enxurradas e há problemas de comunicação por celular em algumas localidades isoladas, mas ainda assim tranquiliza a população quando à disponibilidade de alimentos.
— A realidade é essa: quanto ao alimento, as pessoas podem ficar tranquilas que tem muitas opções de produtos nos supermercados. Os frigoríficos, muitos estão com problemas de produção, de abate e logística, e no hortifruti existem caminhões carregados para entregar nos supermercados, mas não conseguem chegar. Então vamos ver, cada dia vai ter um novidade — complementa.
Há estoques para mais de 10 dias, informa grupo com lojas no Interior
Apesar da corrida aos supermercados — a falta de alguns produtos ocorre mais pelo excesso de demanda ocasionado pelas pessoas que estocam maiores quantidades de itens do que por questões de abastecimento —, redes com atuação no Interior garantem os estoques para mais de 10 dias.
É o caso do Grupo Peruzzo, que também inclui o atacarejo Ecomix, com mais de 25 unidades espalhadas por cidades como Santa Maria, Candiota, Dom Pedrito, Caçapava do Sul, Alegrete e São Borja. Lindonor Peruzzo Junior, vice-presidente da rede, informa que a matriz, localizada em Bagé, conta com dois centros de distribuição, um para produtos secos e outro para os congelados.
Os hortifruti, explica, chegam de Cachoerinha e já faltam algumas algumas frutas e ovos, o que deve permanecer ao longo do final de semana. Ele também verifica que a alta procura e a grande quantidade de compras, "em níveis fora do comum", salienta, de papel higiênico e água fazem com que esses itens estejam mais escassos no momento. Mas diz que não há qualquer problema relacionado a alimentos como leite e carnes. Há indícios de que pode vir a faltar açúcar, óleo de soja e leite a partir de terça-feira (7).
— A previsão é regularizar algumas coisas na semana que vem. Pode faltar um ou outro que pode ser substituído, mas não há motivo para pânico e não vai faltar alimento — reforça.
Rede relata dificuldade de abastecimento
A UnidaSul, holding que administra as marcas Rissul e o Macromix, informa, por nota, que as mais de 40 lojas de ambas, localizadas em Porto Alegre e Região Metropolitana, Vale do Sinos, Vale do Paranhana e Serra Gaúcha, estão com dificuldades momentâneas no abastecimento, já que os caminhões que fazem a reposição dos produtos estão sem acesso a esses municípios, mesmo por rotas alternativas.
A previsão é de que o abastecimento seja normalizado assim que a situação das estradas permitir.