A situação vivida na Granja Ferraboli, em Anta Gorda, no Vale do Taquari, se multiplica nas propriedades que trabalham com a atividade leiteira. A impossibilidade de acesso às propriedades rurais, associadas à falta de luz, água e ração, faz com que produtores de leite reduzam o número de ordenhas diárias ou até mesmo tenham de jogar fora produto que não pôde ser entregue.
— Aqui está feia a situação, não tem luz, água, ração para os animais também acabou. Jogamos 12 mil litros de leite fora, hoje de manhã nem conseguimos ordenhar as vacas, por não ter mais combustível — relata Diogo Ferraboli.
A granja, que é referência na produção de leite — na Expointer do ano passado, duas vacas do plantel foram as vencedoras do concurso leiteiro da Associação de Criadores de Gado Holandês (Gadolando) nas categorias jovem e adulta — é diretamente afetada pela condições trazidas pela chuvarada. Diogo relata que por volta do meio-dia desta sexta-feira (03) conseguiu um pouco de combustível para fazer a ordenha das vacas:
— Hoje a prefeitura está tentando liberar um acesso pra comunidade, estamos rezando para que dê certo, porque senão, os próximos dias, as próximas horas serão tristes.
Conforme o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS), entre 30% e 40% da coleta diária está sendo afetada pela conjuntura atual do Rio Grande do Sul.
Isso significa atraso ou inviabilidade de recolhimento. Também há laticínios com problemas que vão desde picos de luz até alagamentos, atingindo a estação de efluentes, área de máquinas e a parte elétrica, relata Guilherme Portella, presidente do Sindilat-RS. As empresas começam a ter dificuldades para receber insumos (como embalagens, por exemplo).
— Isso tudo tem dificultado a operação. Estamos todos em situação de emergência, tratando das pessoas, temos funcionários que foram atingidos. Cada indústria está procurando fazer o máximo possível por eles e pelos produtores — observa Portella.
Uma das medidas que vêm sendo organizada, em uma soma de esforços de indústrias, cooperativas, produtores e governo do Estado é a da coleta solidária, com troca entre as empresas. Uma ajuda na captação de outra, de acordo com a proximidade dos produtores.
— Muitos produtores entregam para uma indústria que está isolada e não tem como pegar, mas existem outras perto. Queremos só poder tirar leite das vacas e tentar entregar na indústria — reforça Marcos Tang, presidente da Gadolando e produtor de leite.