O franguinho grelhado, a asinha, a coxa e a sobrecoxa continuam sem aliviar o bolso dos gaúchos. Tradicional item na panela ou no churrasco improvisado em assadeiras de lata no verão, a carne de frango em pedaços segue em alta na Grande Porto Alegre.
Ao contrário da tendência verificada no restante do país, onde a média inflacionária do produto entrou em declínio após três anos consecutivos de alta nos preços, a região metropolitana de Porto Alegre permanece com os valores em alta. Nos últimos 12 meses, até janeiro, a elevação acumulada é de 2,26% – menor do que o valor registrado em iguais intervalos de anos anteriores (veja no gráfico abaixo).
Em 2021, 2022 e 2023 o descontrole do mercado manteve a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na faixa de dois dígitos e fez com que o item, rotineiro na mesa dos gaúchos, pesasse no orçamento das famílias.
Agora, das 10 regiões consideradas pela pesquisa mensal, somente por aqui e em Vitória (ES) os custos apurados estão em rota de ascensão. Nas demais, a baixa chega a -11,33%, em Belém, -7,54%, em Recife (PE) e -5,27% em São Paulo, por exemplo (veja no gráfico).
Efeitos climáticos e corte de incentivos podem pressionar os preços
A reversão de tendências passa por dois fatores. O primeiro, conforme explica o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, está relacionado com a oferta e a demanda interna. O dirigente observa que a metodologia empregada pelo IBGE não reflete "totalmente" a realidade de diferentes cortes de frango no Estado, entretanto, aponta: houve redução de 5% nos abates de aves no Rio Grande do Sul na comparação entre 2023 e 2022
Segundo ele, é preciso considerar, além da diminuição da produção em 2023, outro problema latente. Nesse caso, são as questões climáticas, que influenciaram na menor atividade das indústrias e na suspensão dos trabalhos em cooperativas.
Com base nisso, houve acomodação da oferta, o que, por consequência, pode justificar uma elevação, classificada como "sazonal" pelo presidente da Asgav. Santos também lembra que, neste início de ano, o momento é de expectativa pela reversão dos cortes de incentivos fiscais (instituídos pelo governo do Estado) favorecedores dos custos do setor. De outro modo, antevê novos reajustes.
— Prevalecendo essa intenção de retirar o frango e os ovos da lista de itens que formam a cesta básica, novos aumentos vão acontecer inevitavelmente, atrelados à redução da nossa produção — argumenta.
O Estado responde, hoje, por 15% de participação no setor com cerca de 1,9 milhão de toneladas abatidas – 756 mil toneladas destinadas ao mercado externo. As exportações cresceram cerca de 3% no ano passado, mas o percentual não veio acompanhado de incremento na produção. Com menos oferta, prevalece a lei do mercado, e os preços sobem.