Com a terceira maior capacidade instalada do país, o Rio Grande do Sul contabiliza mais R$ 2,2 bilhões em investimentos em projetos de energia solar até julho deste ano. Acumula, agora, 2,27 mil megawatts (MW) em geração própria, ou seja, a que tem origem nas operações ativas em residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos.
Em 10 anos, o setor soma R$ 11,9 bilhões em aportes, um avanço de 22,6% na comparação com os R$ 9,7 bilhões fixados no fechamento de 2022, o que também ajuda a aquecer a criação de vagas de trabalho. Nos primeiros sete meses de 2023, 18,4 mil foram contratados por empresas desse segmento no RS. Ao todo, são 68,1 mil empregos no Estado – um aumento de 37% nos primeiros sete meses, na comparação com as 49,7 mil carteiras assinadas do ano passado. E, ainda que o momento atual seja de ajustes, em razão de uma nova legislação em vigor, há margem para muito mais.
No país, que conta, atualmente, com 960 mil vagas preenchidas, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) estima que a marca de 1 milhão de ocupações possa ser atingida até dezembro. Emerson Borges Bohrer, 28 anos, é um dos integrantes deste grupo. Ele atua na Solar Serra, em Bento Gonçalves, desde março. É um dos novos contratados pela empresa que tem filiais em Veranópolis, São Marcos e Protásio Alves, no Rio Grande do Sul, além de Concórdia (SC) e Curitiba (PR), este ano.
Atraído pelos rendimentos, mas também pelas possibilidades que percebe no futuro, ele trocou a atividade que exerceu por dois anos no mercado imobiliário – mais especificamente no segmento de resorts – em Estados como Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Bahia, pelo ingresso efetivo na chamada nova economia – essa que é mais focada em serviços, tecnologia, baixo impacto ambiental e mudança na lógica de consumo.
— O Brasil tem muito potencial em energia renovável. Trata-se do mercado do futuro e o país está em processo de reeducação para atingir os patamares que existem na Europa e nos EUA, em que a maioria das casas já contam com placas solares — comenta.
APOSTA NA QUALIFICAÇÃO
Com foco em instalações de energia fotovoltaica, a Sollar Sul inaugurou em setembro do ano passado, uma nova sede em Taquari. O projeto nasceu em razão do crescimento da demanda, que já rendeu à empresa mais de 2 mil usinas em operação e de 70 mil painéis instalados em todo o Rio Grande do Sul.
O novo espaço no município do Vale do Taquari, comenta o CEO, Leonardo Porto, conta com mais de 4 mil metros quadrados, é fruto de um investimento superior a R$ 8 milhões e levou 14 meses para ser concluído. O prédio também acomoda um centro de treinamento para qualificar profissionais contratados pela própria empresa, que tem filiais em Teutônia, Charqueadas e Lajeado.
No final do ano passado, a Sollar Sul concluiu um processo de fusão avaliado em R$ 16 milhões em que a MA de Caxias do Sul, que conta com 16 mil parceiros no Estado, mas também atua em outros segmentos (circuito fechados de televisão, controle de acesso, alarmes, telefonia e conectividade), ficou com 49% de participação e recolocou a empresa com outro tamanho no mercado.
Capitalizado, Porto comenta que os rumos do negócio foram ampliados. As mais de 300 qualificações oferecidas no Centro de Treinamentos até então envolveram diversas áreas, da pré-venda e financeiros até instaladores e eletricistas, e também os parceiros do Grupo MA. Sobre o atual momento do setor, o empresário relata que foram seis meses de retração e os últimos dois de recuperação, puxada por preços 40% inferiores aos de dezembro, em razão da queda do dólar e da oferta de produtos em escala maior do que a demanda.
IMPASSE COM DISTRIBUIDORAS TRANCA O AVANÇO DE NOVOS PROJETOS NO ESTADO
Coordenadora da Absolar no RS, Mara Schwengber, explica: o crescimento dos primeiros sete meses do ano ainda é reflexo da explosão de novos projetos ocorrida entre novembro do ano passado e o dia 7 de janeiro de 2023. Essa era a data limite estabelecida pela Lei 14.300/2022 para que os consumidores interessados em realizar a própria geração de energia com isenção de taxas incidentes sobre o custo de distribuição por um período mais longo até 2045 ingressassem com os pedidos de instalação.
Da mesma forma, os projetos protocolados até o dia 7 de julho contam com um período de transição mais longo para a cobrança pelo uso da rede elétrica, até 2030. A coordenadora também chama a atenção para outro fator. Segundo ela, em razão de interpretação equivocada do artigo 73, as distribuidoras alegam que o sistema não pode absorver o chamado fluxo reverso, ou seja, a energia solar sobressalente que é jogada na rede quando o consumidor (que também é gerador) produz mais energia do que necessita.
Conforme algumas empresas prestadoras de serviços, o fato ocasionaria a sobrecarga em pontos específicos da rede em razão da falta de investimentos para abarcar a geração, por exemplo. Na semana passada, após encontro entre os representantes do setor, a RGE retomou as liberações, mas a CEEE Equatorial não parece disposta a revisar o posicionamento.
Em nota, a CEEE informa que cumpre “rigorosamente a regulação setorial, aplicando-a em seus procedimentos”. De acordo com o texto, a avaliações de novas conexões usam critérios técnicos e “não podem permitir a conexão de cargas maiores do que a capacidade de suas redes, de modo a preservar a segurança de todo o sistema de distribuição e evitar perturbações nas redes que possam comprometer o fornecimento aos consumidores”.
Ainda segundo o comunicado, “a realização de mudanças em dispositivos regulatórios não é de competência das distribuidoras, mas da Aneel (a agência reguladora do setor), cabendo à concessionária aplicar os dispositivos regulatórios vigentes”.
A Coordenadora da Absolar no RS argumenta que a RGE voltou a aceitar os projetos e a CEEE não cumpre integralmente a normativa, “porque ela não dá as opções ao cliente com os devidos custos envolvidos para cada uma das opções”. O procedimento, acrescenta Mara, só é feito por meio de um chamado na ouvidoria ou reclamação na Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica):
— Os estudos apresentados não são possíveis de serem auditados e comprovados e nem sempre a inversão de fluxo causa problemas técnicos na rede, podendo os projetos serem flexibilizados e liberados. Entendemos que a lei não está sendo cumprida e em muitos casos está se tirando do consumidor o direito de gerar sua própria energia — argumenta Mara, ao lembrar que existe o pedido de uma audiência pública sobre o tema no dia 14 de setembro na Assembleia Legislativa.