A nova economia – centrada em serviços, tecnologia, baixo impacto ambiental e mudança na lógica de consumo – já deixa contribuições mensuráveis no Estado quando o assunto é a criação de postos de trabalho. Em menos de um ano, as contratações na energia solar aumentaram em 85,4% – de 26,8 mil, em 2021, para 49,7 mil, em dezembro.
Foram 22,9 mil empregos em menos de 12 meses, avanço necessário para ampliar em 52,3% (com investimento de R$ 3,7 bilhões) a potência instalada em solo gaúcho para o patamar de 1,6 mil megawatts. O resultado é um dos frutos dos setores que puxam a transição energética com redução de emissões de CO2 no ambiente.
O administrador de empresas de Santa Cruz do Sul Jonatan Anton, 39 anos, está entre as pessoas que passaram a integrar, recentemente, o rol dos “empregos verdes”, ou seja, associados às fontes de energia limpa. Anton conta que trabalhou por 21 anos na indústria de tabaco. A decisão de mudar de ares, concretizada há 90 dias, veio “bastante” influenciada pelo desejo de unir dois fatores: rendimentos obtidos com a atividade e a contribuições positiva ocasionada pela profissão para o ambiente e as novas gerações.
— Meu filho tem oito anos, e preciso dizer a ele que meu trabalho deixa algo de bom para o mundo. Nesse caso, a energia limpa. Além disso, a área apresenta crescimento e oferece perspectivas seguras — resume Anton.
Tendência
O movimento do agora coordenador de compras da Solled Energia está em linha com as perspectivas do mercado. A empresa ampliou em 36% a quantidade de funcionários, entre janeiro e dezembro. Para 2023, a meta é 30% de incremento nas contratações.
— Buscamos qualidade, não é necessária experiência, pois essa formação é fornecida aqui, desde conhecimento técnico, de produto, funcionamento e técnicas de vendas. O crescimento é significativo em áreas como comunicação e marketing, engenharia elétrica e comercial. O caminho da sustentabilidade não tem mais volta, a energia solar já é a segunda maior geradora de energia no Brasil (RS é o terceiro entre Estados) — explica Janaina Silveira, diretora de RH.
A tendência apontada por Janaina é amparada por estudo da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, criada pela ONU), compilado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI). O levantamento mapeia 12,7 milhões de postos de trabalho abertos ao redor do planeta, na área de energia renovável, em 2021. Do total, 10% estão no Brasil e, até 2030, outros 30,2 milhões de empregos verdes deverão emergir para atender a transição em direção de alternativas energéticas menos agressivas ao ambiente.
A força do biodiesel
Outro exemplo gaúcho na nova economia está no biodiesel. O setor tem 57 unidades produtivas em 15 unidades da federação, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Estimativas coletadas em diversas entidades e repassadas pelo ex-superintendente de Abastecimento do órgão regulador e economista-chefe da ES Petro, Edson Silva, revelam 19 mil empregos diretos associados à atividade no Brasil.
Por outro lado, quando considerado o efeito multiplicador nos demais segmentos da economia, o número cresce. É o caso da agricultura familiar, que eleva a projeção para 373 mil empregos diretos e indiretos (ou 70.624 famílias). Conforme explica a assessoria da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), o Selo Biocombustível Social prevê a inclusão dessa faixa de produtores na cadeia de fornecimento de matéria-prima.
Expectativa
A indústria, por sua vez, adquire um determinado percentual mínimo (que varia em cada região) de produtos no segmento e oferece consultoria para melhorar técnicas de cultivo. Em 2021, as compras do programa somaram R$ 8,8 bilhões, o que contribui com o índice de desenvolvimento das microrregiões envolvidas.
A expectativa, após manifestações do novo governo, é de que o setor ganhe fôlego. A Ubrabio informa que cerca de 80% da produção familiar está concentrada no RS, o que elevaria a quantidade de gaúchos beneficiados, principalmente em razão dos que já atuam com soja. E as perspectivas, acrescenta a entidade, são favoráveis, pois a China demandará por mais farelo da comodity na próxima safra.
Para cada cinco toneladas esmagadas (farelo), sobra uma que gera o óleo vegetal e serve de base para azeite de cozinha ou biodiesel, que tem mercado mais organizado e a demanda sempre em alta.
Essa fonte de energia renovável é caracterizada por baixos índices de poluição. Da mesma forma que o etanol responde por um percentual na composição da gasolina (diminui a quantidade de combustível fóssil na fórmula), o biodiesel é adicionado ao diesel comum, também originado a partir do petróleo.
Bons ventos
No período de 10 anos encerrado em 2020, a construção de parques eólicos abriu 196 mil postos de trabalho no país. Isso equivale a uma média de 10,7 empregos verdes para cada megawatt (MW) de potência instalada: 23,3 mil MW, atualmente.
Com 1,83 mil MW, o RS é o quinto Estado do país em capacidade. Tem 80 parques e 830 aerogeradores em atividade, e há projetos que devem ampliar a participação gaúcha, hoje de 7,8% na geração nacional da fonte de energia limpa. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
É mais difícil definir volume de empregos porque o transporte e o processo industrial dos componentes de aerogeradores podem ser concluídos em unidades da federação diferentes daquelas em que os parques são instalados, observa a entidade. No entanto, com base na média projetada em todo o território nacional, a elevação de 2,5 mil MW registrada na potência instalada em 2022, pode ter criado 37 mil postos de trabalho na cadeia setorial, estima a Abeeólica.