A expectativa para os próximos anos é de incentivo para produção de combustíveis renováveis, como etanol e biomassa, e o menor uso de combustíveis fósseis derivados do petróleo, como diesel, querosene e gasolina. Mas qual tipo é o mais poluente e como reduzir a emissão deles?
Quando se fala em poluição ambiental, o debate é sobre reduzir a emissão de gases produzidos durante um processo físico-químico: a combustão (queima) de combustíveis que produz energia para mover veículos e indústrias.
Diversos gases do efeito estufa são produzidos durante a combustão – o mais conhecido é o gás carbônico (CO2), que inclusive motiva uma nova atividade econômica: o mercado de créditos de carbono. Mas há outros resíduos, como partículas pesadas, responsáveis pela fuligem negra de escapamentos de veículos antigos.
Afinal, qual é o combustível mais poluente?
Na discussão sobre qual combustível é mais poluente, é preciso entender que os compostos wcom mais moléculas de carbono em sua composição química serão aqueles que mais produzirão moléculas de dióxido de carbono (CO2), explica Luiz Ferrari, professor de Química no pré-vestibular Gabarito.
Tente imaginar os diferentes combustíveis como uma cadeia microscópica de moléculas de carbono, assim como você aprendeu nas aulas de química da escola. Quanto mais carbono, mais moléculas de gás carbônico poluidoras serão geradas no processo de combustão.
— A grande diferença entre os três combustíveis que enxergamos nos postos — diesel, gasolina e etanol – é a quantidade de carbono. O diesel tem entre 15 e 18 (moléculas de) carbonos. Gasolina tem entre três e sete carbonos. Etanol tem dois carbonos. Queimar o diesel, um combustível com 18 carbonos, produz 18 moléculas de CO2. Portanto, o diesel é o maior poluente em termos de gás carbônico, que é o grande problema que se tem hoje e que se faz esforço para reduzir. Dos três combustíveis vendidos no posto, o etanol é o que menos produz gas carbônico — diz Ferrari.
A produção de energia com combustíveis fósseis, além de gerar gases do efeito estufa, envolve um processo finito de extração do petróleo, gerado ao longo de milhões de anos com o sedimento de animais e plantas.
— Por que os combustíveis fósseis contaminam? Eles vêm do petróleo, que era matéria orgânica e se decompôs em milhões de anos até virar hidrocarboneto, um derivado de carbono. Eu retiro petróleo aprisionado, queimo e acumulo esse carbono na atmosfera, o que não deixa a radiação solar voltar para o espaço e aquece a atmosfera — diz o engenheiro mecânico Anderson De Paulo, pesquisador de biocombustíveis na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Como reduzir a emissão de CO2
Como a produção de petróleo leva muito tempo, cientistas buscaram criar alternativas renováveis, que podem ser produzidos no tempo de vida da espécie humana. É o caso do etanol, feito da cana de açúcar e do milho, do biodiesel e do biogás, gerados a partir de biomassa de resíduos orgânicos.
Essas alternativas são consideradas mais "verdes" não tanto por produzirem menos CO2 na combustão, mas porque a plantação (de cana de açúcar, milho, entre outros) que gera esse combustível absorve o dióxido de carbono na atmosfera por meio da fotossíntese, explica o engenheiro mecânico e de automóveis Marcio de Almeida D'Agosto, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do Instituto Brasileiro Transporte Sustentável.
— Os combustíveis renováveis tendem a emitir um pouco menos poluentes atmosféricos do que os fósseis, mas emitem do mesmo jeito. Etanol não é limpo. Mas, por ser renovável, ele tem potencial de impactar menos globalmente. A questão é ter ma economia circular de energia. Combustíveis renováveis capturam o dióxido de carbono da atmosfera pelas plantas, que são transformadas em biomassa. Queimo a biomassa e produzo dióxido de carbono, mas a planta captura de novo na fotossíntese, e aí controlamos em escala social — explica D’Agosto.
O pesquisador observa, contudo, que as substâncias geram resultados diferentes na combustão. O diesel, por exemplo, é mais problemático na emissão de óxido de nitrogênio (responsável pela sensação de queimação quando é respirado) e de material particulado (altamente cancerígeno). Já a gasolina emite mais monóxido de carbono (CO), que é tóxico e pode matar por asfixia.
Para além do material usados em veículos terrestres, há o querosene, usado na aviação, que gera uma quantidade de gás carbônico, na queima, entre o que é produzido por diesel e gasolina. O problema é a grande quantidade de querosene usada em viagens aéreas. Há, hoje, há um “bioquerosene”, derivado de biomassa renovável, mas com custo mais caro.
— Parte do petróleo se chama nafta. Essa nafta os petroquímicos chamam de filé do petróleo, porque aí estão as três vedetes do petróleo: gasolina, querosene e óleo diesel. A gasolina é para automóveis leves, querosene é gasolina de aviação e diesel é a gasolina dos transportes pesados. Querosene tem entre 12 e 13 carbonos e é um combustível potente e que libera muita caloria por queima — observa o professor de química Luiz Ferrari.