O diesel mais caro do que a gasolina, que ganha competitividade também sobre o gás natural veicular (GNV). Combustível renovável, o etanol praticamente não é vendido mais para abastecer veículos. Como escolher a melhor opção e a tendência para os preços foram pauta do podcast Nossa Economia com Márcio D'Agosto, professor da COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável:
Os preços dos combustíveis estão um tanto confusos, não?
Você usa um termo correto. Há uma bagunça na política de preço dos combustíveis, sem dúvida. Não faz sentido ter paridade de preço entre gasolina e etanol. Só vale abastecer com álcool se a divisão do preço dele pelo da gasolina ficar em até 0,7, porque ele tem menos intensidade de energia.
No Rio Grande do Sul, a média do litro do etanol está apenas R$ 0,01 abaixo da gasolina...
Há uma tendência de ter um preço mais competitivo próximo das regiões onde se produz o etanol, como interior de São Paulo e Centro-Oeste. Mas me parece que seria interessante o poder público para melhorar a condição do etanol, que, há muito tempo, chegou a ser colocado como sucessor da gasolina. E não faz sentido montadoras dizerem que cada país tem um etanol diferente. É álcool etílico, uma substância pura. Tecnicamente, mais do que a gasolina. Na verdade, há uma restrição ao combustível porque o Brasil é o único país que tem um maior potencial dele.
Qual a tendência para o GNV, que tem sofrido reajustes de dois dígitos desde o ano passado?
Não vejo sentido em adaptar o carro para GNV hoje. O melhor rendimento do gás é marginal se comparado gasolina, e depende muito da geração do kit de adaptação que você está usando no veículo. É caro e tem que ficar rodando para recuperar o investimento. O preço do gás natural pode chegar próximo de 1,2 vez o preço da gasolina.
E o diesel, que está custando mais de R$ 7 no Rio Grande do Sul, com uma gasolina abaixo de R$ 6?
É uma lástima. A maioria da frota brasileira de caminhões é movida a diesel, o que está fortemente relacionado com o PIB. Se tenho estrangulamento do desenvolvimento econômico, o transporte cai. Se o transporte de carga sofre restrição, estrangula o desenvolvimento econômico. O valor do diesel está compondo o preço do seu alimento, da sua bebida. Se você perguntar: "o que acontece em caso de disrupção no abastecimento de diesel?". Acontece crise econômica.
Qual a perspectiva para a transição energética, com a busca por outros combustíveis?
Mais uma vez, a gente tem escassez. O hidrogênio verde virá de onde? Provavelmente, da hidrólise de água usando energia renovável, eólica e fotovoltaica. A Europa quer. A parte logística deles é menos sensível. O Brasil precisa ter cuidado com o diagnóstico do que efetivamente precisa priorizar para substituição. Como falamos, é o diesel, para transportar cargas e passageiros. Acho que o Brasil deveria pensar seriamente em privilegiar a eletrificação e fontes alternativas de energia. As rotas de "anda e para" ajudam a regenerar a energia cinética. Quando você freia, parte daquela energia que estava na velocidade pode ser reaproveitada pela bateria.
Quando os veículos elétricos ficarão acessíveis?
Por enquanto, no Brasil, não se precisa trocar o carro a combustão pelo elétrico. Mas já melhorou muito. Nos últimos cinco anos, o preço caiu a menos da metade. A prioridade é eletrificar caminhões e ônibus. Mas quando eu for trocar por um caminhão elétrico, quero um veículo diferente, adaptado. Isso é bom porque fará o operador adaptar a sua operação.
Assista a entrevista na íntegra em vídeo:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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