O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou nesta segunda-feira (20) que não se deve aceitar a tese de que o Brasil não pode retomar o crescimento industrial. Mercadante discursou na abertura do seminário "Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI", promovido pelo BNDES em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
No evento, Mercadante defendeu de forma enfática o envolvimento do BNDES nas discussões sobre a retomada do crescimento industrial e na reavaliação da relação entre mercado e Estado.
— Não podemos aceitar a tese de que o Brasil não tem como se reindustrializar. Era assim durante quatro séculos, quando éramos exportadores de commodities. Mas já tivemos uma base industrial diversificada — afirmou Mercadante, lamentando o encolhimento da participação da indústria nacional no PIB nas últimas décadas.
— O BNDES voltou com tudo. Não vamos só pensar, mas executar. É ingenuidade achar que vamos nos reindustrializar (o país) sem a participação do Estado e sem banco público, como o BNDES. Vamos fazer isso junto com o setor privado, que tem papel de financiar o desenvolvimento. Podemos complementar e estar à frente nessa perspectiva de desenvolvimento industrial — acrescentou.
Ainda segundo o presidente do BNDES, o mundo desenvolvido, no que citou Estados Unidos e Europa, está fazendo política industrial e repensando a relação Estado-mercado, o que deve acontecer também no Brasil.
— Não temos a mesma margem de manobra dos Estados Unidos, mas esses países estão fazendo política industrial. O Brasil precisa olhar para essas experiências — destacou.
Para Mercadante, o Brasil pode se beneficiar da reorganização das cadeias de valor industriais neste momento de reglobalização, após a pandemia e, agora, de guerra na Ucrânia.
— Temos um novo desafio geopolítico. O Ocidente quer rever sua relação com a Ásia, e o Brasil pode aproveitar para atrair novos investimentos — disse. Em sua leitura, esse reposicionamento seria um primeiro desafio para o Brasil.
Depois, afirmou o presidente do banco, é preciso estar atento à corrida tecnológica associada às mudanças climáticas, quando os países ricos financiam energia renovável e setores auxiliares, como o de baterias e microprocessadores a juro baixo.
Mercadante lembrou que o Brasil ainda tem potencial a explorar em energia solar e eólica no Nordeste, que definiu como "pré-sal" dessas modalidades. Ele citou especificamente as possibilidades em energia solar fotovoltaica, e citou a Alemanha, que já financia plantas de hidrogênio verde a juro zero.
— Nossos juros são altos — reclamou, contudo, o presidente do BNDES.
Em consonância com o novo governo, Mercadante ainda prometeu combater o desmatamento dentro do banco, com bloqueio de financiamentos a iniciativas que carreguem essa mancha. Segundo ele, o BNDES vai trabalhar ao lado da Confederação Nacional da Indústria e da Fiesp a fim de pensar como esse caminho da reindustrialização pode ser facilitado.
— Essa é uma relação que veio para ficar — complementou.