A inflação na região metropolitana de Porto Alegre voltou a apresentar queda após cinco meses de altas, marcadas por flutuação entre aceleração e desaceleração. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, ficou em -0,59% em julho na Grande Porto Alegre — abaixo dos 0,70% registrados no mês anterior. O dado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta terça-feira (9).
No acumulado do ano, o IPCA tem alta de 3,24%. Em 12 meses, o indicador saiu da casa dos dois dígitos e está em 8,69% na Região Metropolitana.
Dos nove grupos pesquisados no índice, apenas dois apresentaram deflação em julho: transportes e habitação. Dentro desses grupos, retração em itens como combustíveis e energia elétrica tem destaque. Essa queda já era esperada após redução em impostos e em preços nesses dois ramos nos âmbitos federal e estadual nos últimos meses. O cenário observado no Estado segue na esteira dos movimentos registrados no país.
— Vale lembrar, em primeiro lugar, que a gente teve uma redução de R$ 0,20 no preço médio da gasolina vendida pela Petrobras para as distribuidoras no dia 20 de julho. Além disso, teve a redução do ICMS a partir do dia 23 de junho sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações na esteira da Lei complementar 194, de 2022. Essa lei também contribuiu para o resultado no grupo de habitação — lembra o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), reforça que a queda no indicador em julho não foi generalizada. Conforme o especialista, os alimentos continuam pesando no orçamento das famílias. O grupo de alimentação e bebidas apresentou a maior alta no mês na inflação na média nacional e na Grande Porto Alegre.
— A queda só não foi mais intensa por umas pressões no radar que vêm do grupo de alimentos.
No grupo de alimentos e bebidas, a maior variação ficou por conta do leite longa vida e de derivados. O IBGE atribui esse movimento a aspectos sazonais ligados à safra.
— Essa alta do produto se deve, principalmente, a dois fatores: primeiro porque estamos no período de entressafra, que vai mais ou menos de março até setembro, outubro, ou seja, um período em que as pastagens estão mais secas e isso reduz a oferta de leite no mercado e o fato de os custos da produção estarem muito altos — afirmou o gerente da pesquisa ao comentar os dados da média nacional, que segue o mesmo movimento de alta.
País
Também com impacto da queda nos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina e do etanol, e da energia elétrica, o IPCA ficou em -0,68% em julho no país. A queda ocorre após a variação de 0,67% em junho. O resultado de julho é a menor taxa registrada na série histórica do indicador, iniciada em janeiro de 1980. No ano, a inflação acumulada no Brasil é de 4,77%. Nos últimos 12 meses, o indicador está em 10,07%.
Mesmo que a queda de julho tenha sido verificada majoritariamente em transportes e habitação, o economista André Braz afirma que a diminuição de preços em combustíveis e energia também gera efeito cascata sobre outros itens:
— Você tem um efeito direto que já foi verificado nesse IPCA, que é a queda no preço da gasolina na bomba e da energia, e efeitos indiretos, que vão ser colhidos através desses insumos mais baratos e seus efeitos na atividade produtiva. Que espero que seja de desaceleração nas pressões inflacionárias.
Braz destaca que, além desse efeito, o possível impacto da recessão em economias de outros países sobre o preço de algumas commodities, como milho, soja, trigo e minério de ferro, também pode aliviar a pressão dos preços no Brasil:
— Então, a gente vai colher os benefícios de uma estrutura de custos menor nas empresas e também insumos ficando relativamente mais baratos, embalados por um apetite menor de grandes economias.
No entanto, o economista do FGV Ibre destaca que boa parte da queda no IPCA em julho é efeito de renúncia fiscal. Esse fator pode reverberar nos serviços prestados pelos governos à população e em investimentos em infraestrutura, segundo o especialista.