Após avanço de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, a tendência é de desaceleração da economia do país nos próximos meses, segundo especialistas. Inflação persistente e efeitos da alta do juro básico para conter os preços são alguns dos ingredientes principais dentro dessa projeção de perda de ritmo.
O professor Fernando Ferrari Filho, titular do curso de pós-graduação em Economia da UFRGS, afirma que, além de inflação e juros elevados, o desemprego, que continua alto mesmo com redução na taxa, também influencia em crescimento menor nos próximos meses. Esse e outros fatores devem diminuir a tração no consumo, segundo o especialista:
— O desemprego ainda está elevado e as famílias têm um endividamento que é significativo. Tem a inflação alta, que faz o Banco Central ter um viés de elevação da taxa de juro. Então, eu acho pouco provável que o consumo das famílias continue com essa dinâmica observada no primeiro trimestre.
Ferrari Filho também cita o desempenho dos investimentos como outro termômetro que aponta para o arrefecimento da economia nos próximos meses. A queda de 3,5% na formação bruta de capital fixo, que mede o apetite de aporte das empresas em bens para produzir, no PIB do primeiro trimestre sinaliza menor capacidade de recuperação, segundo o professor.
— Se o investimento acusa uma queda de 3,5%, acho pouco provável que o PIB no segundo trimestre e no terceiro trimestre seja superior. A tendência é a economia ter um comportamento inferior ao primeiro trimestre — explica Ferrari Filho.
A economista-chefe para América Latina da seguradora de crédito francesa Coface, Patricia Krause, cita que o combo de inflação persistente e Selic elevada é o principal motivo da perda de ritmo da economia do país nos próximos meses. Ela destaca o delay dos efeitos da sequência de alta no juro básico nesse processo.
— A gente pode estar próximo de um ajuste final de juros, mas tem a alta que já foi acumulada e que toma um tempo para que seja perceptível na economia — pontua Patricia.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal também projeta desaceleração do PIB nos próximos meses. No entanto, ele avalia que essa tirada de pé do acelerador não será tão brusca:
— Claro que vai existir uma desaceleração nos próximos trimestres, mas não muito acentuada. O juro real ainda está baixo, tem o Auxílio Brasil, o desemprego está diminuindo e as exportações, que ajudaram no primeiro trimestre, podem continuar auxiliando.
Portugal destaca que a inflação tem menos impacto no orçamento das pessoas de classes econômicas mais altas, mas reforça que o avanço do emprego e o Auxílio Brasil também estimulam o consumo de famílias com renda menor.
Em linha gerais, os economistas ouvidos pela reportagem de GZH estimam que a economia do país feche o ano com avanço na casa de 1%. Desempenho que significa retomar patamares mais tímidos, observados em anos anteriores à pandemia de coronavírus.