A surpresa com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2022 só não foi maior porque a melhora das expectativas aparecia em indicadores antecedentes.
Mas o avanço de 1% no período de janeiro a março em relação ao trimestre anterior (outubro a dezembro de 2021) foi uma boa surpresa diante das perspectivas de estagnação e até ligeira queda existentes até quase o fim do período.
Entre as tentativas de antecipar o PIB do trimestre, o Monitor FGV era ainda mais otimista: estimava avanço de 1,5% na mesma base de comparação, ou seja, com o período imediatamente anterior. Havia projeções ainda mais generosas, como a do economista Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, de 1,8%.
Conforme Oliveira, mesmo abaixo do esperado, o resultado teve "importante ajuda" do setor externo, beneficiado pela produção e exportação agrícolas. Nesse caso, a mesma alta de preços que se sente nos combustíveis e no supermercado empurrou para cima os números do PIB. Como quase todas as matérias-primas básicas, as chamadas commodities, estão custando mais, o resultado da venda desses produtos por empresas e produtores brasileiros ajudou a impulsionar o PIB.
Embora seja difícil de ver, esse efeito das commodities não se restringe ao PIB do agropecuário, frisa o economista: beneficia também o setor industrial e de serviços, como os segmentos de transporte e logística. E também houve recuperação em serviços mais dependentes de consumo interno, que haviam sido profundamente impactados pela pandemia.
Então, apesar de vindo abaixo das previsões mais otimistas, o PIB ficou bem na foto do retrovisor. Na imagem de futuro que é possível formar com os dados do IBGE, a mensagem é de cautela. O indicador de investimento, chamado Formação Bruta de Capital Fixo, que mostra construção civil e aquisições de máquinas e equipamentos para produção futura, caiu 3,5% na comparação com o trimestre anterior. Para comparar, esse mesmo item havia subido 8% no primeiro trimestre de 2021 — um ano de recuperação no PIB.
Em linha com esse sinal, a maioria dos economistas projeta desaceleração a partir do segundo semestre, que começa em 28 dias. Isso tende a ocorrer, detalha Oliveira, por quatro fatores: efeito tardio da alta acumulada da Selic (leva de seis a nove meses para atuar na ponta do consumo), manutenção da inflação em patamares elevados, redução no ritmo da economia global com elevação de juro em várias latitudes e diluição do efeito de superação da pandemia e das medidas pontuais de estímulo que suavizaram o choque da covid.
Tudo isso tende a transformar o resultado do PIB do primeiro trimestre no melhor de 2022. A menos, claro, que surjam novas boas surpresas.
Atualização 1: a coluna empatizou com a definição de Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital, sobre o PIB do primeiro trimestre: "é um número abaixo do esperado com cara de acima". Costa explica: o PIB foi ligeiramente menor do que o mercado esperava. Mas avalia que não deve haver revisão para cima do PIB, exceto dos que têm previsão de 0,5% a 1%, porque esses números já ficaram defasados.
Atualização 2: o resultado agridoce do PIB no primeiro trimestre estimulou a criatividade dos economistas. Depois do "número abaixo do esperado com cara de acima" da Alphatree, foi a vez de a XP buscar um resumo ambivalente: "uma surpresa negativa para o trimestre, um salto enorme para o ano" foi a definição de Rodolfo Margato, economista da corretora. E a explicação foi "o PIB cresceu abaixo das expectativas no primeiro trimestre, mas confirmou a força da atividade doméstica no início de 2022".