Aguardada há duas décadas pelos gaúchos, a ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, foi liberada nesta quinta-feira (19) para pousos e decolagens de aviões de grande porte. Com a finalização da obra pela Fraport, o principal terminal aeroportuário do Rio Grande do Sul agora espera canalizar as exportações gaúchas por via áerea, 95% feitas por meio de terminais fora do Estado. No entanto, depende do interesse das companhias aéreas em empregar aeronaves maiores, que podem transportar, por exemplo, até 140% passageiros a mais em comparação com um dos principais modelos de avião a jato que opera na Capital.
O traçado da pista foi ampliado em 920 metros, passando de 2.280 metros para 3.200 metros (3,2 quilômetros), e conta uma área de escape, chamada Resa, construída em grama.
Antes, com a pista de menor extensão, as aeronaves que costumavam operar no terminal eram o Airbus A320 e o Boeing 737-800, ambas com configurações que permitiam levar em torno de 180 passageiros. O novo desenho agora permite que três tipos de aeronaves maiores possam entrar na rota do Salgado Filho. São eles: o Boeing 747-400, com 397 toneladas, 13.450 quilômetros de autonomia e capacidade para levar 416 passageiros; o Boeing 777-300, que pesa 300 toneladas, tem autonomia de 11.120 quilômetros e pode transportar cerca de 400 passageiros; e o Airbus 330-900, que pesa 251 toneladas, tem autonomia de 13.334 quilômetros e transporta 335 passageiros.
Segundo a Fraport, a ampliação da pista significa potencial aumento de rotas e frequências diretas de voos para a Europa e os Estados Unidos a partir de aeronaves que combinam carga e passageiros e que voam direto para o Exterior, sem necessidade de escalas.
A decisão de incluir Porto Alegre no mapa de uma nova rota, no entanto, depende das companhias aéreas. Por enquanto, de acordo com a administradora do aeroporto, não há novas rotas definidas com aeronaves maiores. As empresas estão liberadas para utilizarem a pista com aviões de grande porte desde esta quinta, sem a necessidade de comunicar a concessionária.
Atualmente, a maior parte da produção do Rio Grande do Sul é transportada por rodovias até aeroportos de São Paulo, de onde, então, as cargas partem por via aérea para destinos finais em outros países. Nos últimos cinco anos, de 2017 a 2021, US$ 3,35 bilhões em mercadorias produzidas no Rio Grande do Sul foram exportadas por via aérea. Desse total, apenas US$ 155,9 milhões, ou seja, cerca de 5%, embarcaram no aeroporto Salgado Filho. Os dados são do Comex Stat, portal do Ministério da Economia que disponibiliza estatísticas sobre comércio exterior.
Esse cenário logístico muda de configuração com a ampliação da pista, garantindo economia e agilidade às empresas gaúchas que têm comércio internacional. Entre cargas e passageiros, o Rio Grande do Sul tem prejuízo anual de R$ 13,5 bilhões por não ter um sistema aeroportuário completo, conforme estudo da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (Câmara Log).
— Todas as nossas cargas aéreas vão a Guarulhos ou Viracopos para exportação. E existe a carga de importação que entra por outros locais, como Manaus, Salvador e até Minas Gerais, porque o RS carece de rotas aéreas. Esse é o tamanho do nosso problema — diz Paulo Menzel, especialista em logística e presidente da Câmara Log.
O consultor comemora a entrega da pista, mas enfatiza que é preciso avançar no sentido de tornar Porto Alegre um ponto de passagem atrativo nas rotas internacionais. Segundo Menzel, cada subida e descida de um avião tem custo operacional de US$ 30 mil.
— Sabemos que temos carga aérea em abundância. Agora temos a pista que comporta aviões modernos. Mas isso não basta. Precisamos de todo um trabalho comercial, de consolidação de carga, para que valha a pena para uma companhia passar por Porto Alegre — diz o especialista.
Ricardo Portella, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) e coordenador do Conselho de Infraestrutura da entidade, avalia que a ampliação aumenta a produtividade de todo o complexo logístico, refletindo em ganhos gerais na economia.
— Elimina um pedaço dessa perna de transporte rodoviário e amplia as possibilidades principalmente dos negócios que têm prazos mais apertados. Os sapatos, por exemplo, que são uma moda. Não podem chegar na Europa quando a estação já passou. Ou itens de alto valor agregado, como computadores, chips e equipamentos. É uma variedade que vem — diz Portella.
O dirigente acrescenta que a ampliação alça o Rio Grande do Sul a outro patamar porque cria um novo fluxo de pessoas e de empresas que transportam cargas. Segundo Portella, a nova extensão vai atrair tanto a demanda que já existe, e que hoje tem boa parte escoada por São Paulo, como criar novas rotas e negócios que ainda não existem.
De janeiro a março deste ano, 1.895 toneladas de cargas foram embarcadas e desembarcadas no terminal de Porto Alegre, conforme a Fraport. A expectativa é de que o volume aumente consideravelmente nos próximos anos.
Sem falar no transporte de passageiros, que também deve ser ampliado. Passaram pelo terminal 1,4 milhão de pessoas nos três primeiros meses do ano entre voos nacionais e internacionais.
Obra de ampliação iniciou em 2018
A obra de ampliação teve início em 2018 e foi finalizada em março deste ano. Desde então, aguardava-se as homologações necessárias para operação e ajustes finais de sinalização horizontal, finalizados nesta semana. Inicialmente, o contrato previa a conclusão e a homologação até o fim de 2021, mas, devido à pandemia e a demora na liberação da área onde ficava a Vila Nazaré, o prazo foi prorrogado pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) em mais oito meses.
No dia 25 deste mês, uma solenidade com a presença dos governos federal, estadual e municipal vai marcar a entrega oficial da ampliação. A entrega da pista estendida se soma a uma série de intervenções já aplicadas pela Fraport no aeroporto da Capital, como a ampliação do terminal de passageiros, o novo terminal de cargas internacional, a construção do edifício-garagem e de novas estruturas internas.
Colaborou: Anderson Aires