
A semana começou com o anúncio do acordo entre Estados Unidos e China para redução ou suspensão de diversas tarifas que foram impostas mutuamente entre os países nas últimas semanas, a partir de uma política iniciada por Donald Trump. O acordo entre chineses e norte-americanos trouxe um sentimento de alívio no mercado, e o dólar fechou a segunda-feira (12) em alta. Contudo, a variação do câmbio é influenciada por diversos outros fatores internos e externos, e alguns destes fizeram a moeda norte-americana fechar esta terça-feira (13) em queda significativa.
Na segunda-feira, os governos de Estados Unidos e China anunciaram um acordo para suspender por 90 dias a maioria das tarifas mútuas adotadas, caracterizando uma trégua pelo menos temporária na guerra comercial entre os países. Desta forma, os produtos chineses importados para os Estados Unidos passarão a uma tarifa de 30%, e os produtos americanos importados pela China a uma tarifa de 10%.
Inicialmente, o anúncio indicou uma redução nas incertezas provocadas pela política tarifária aplicada por Trump nos últimos meses. A moeda norte-americana voltou a se valorizar, encerrando a segunda-feira com alta de 0,53%, cotada a R$ 5,6849.
Como destaca a colunista de GZH Marta Sfredo, as principais bolsas americanas também subiram, acima da média: 2,81% no índice mais tradicional (DJIA) e 3,26% no mais abrangente (S&P 500) da bolsa de Nova York, e 4,35% na Nasdaq, de tecnologia. A chinesa Hang Seng, de Hong Kong, teve alta de 2,98%. O Ibovespa, no Brasil, não repetiu o entusiasmo e fechou com oscilação positiva de 0,04%.
— Além da redução das incertezas no mercado internacional, com as tarifas elevadas se enxergava o risco de mais inflação nos Estados Unidos e de menor crescimento econômico, o que também enfraquecia a moeda norte-americana. O anúncio do acordo também ajuda a reverter pelo menos parte desse cenário, apontando para uma possível tendência de recuperação do dólar frente às perdas que vinham ocorrendo nos últimos meses — avalia Marco Antônio Martins, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Apesar disso, a moeda norte-americana operou em baixa significativa nesta terça-feira, influenciada, entre outros fatores, pela divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, a inflação oficial, que aumentou 0,2% no mês passado.
— A projeção da variação cambial depende de inúmeros fatores, política monetária dos países, políticas fiscais, indicadores econômicos, riscos geopolíticos e por aí vai. Ontem (segunda) o dólar operou em alta influenciada pelo acordo, e hoje teve queda, influenciada pela divulgação da inflação de abril nos Estados Unidos, que contribuiu para a perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos, por exemplo. Por isso, o cenário da projeção é de incertezas, mesmo com o acordo, até por não sabermos quais serão os próximos passos do próprio acordo — comenta Oscar Frank, economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre.
Movimentação no Brasil
Após a alta registrada na segunda, o dólar fechou esta terça registrando queda de 1,32%, cotado a R$ 5,608, sendo o menor nível desde outubro de 2024. O principal índice (Ibovespa) da bolsa brasileira (B3) teve alta de 1,76%, fechando aos 138 mil pontos pela primeira vez na história.
O resultado desta terça, além do impacto da inflação de abril nos Estados Unidos, reflete também fatores internos do mercado brasileiro. Um destes foi a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), trazendo o indicativo de que o ciclo de aperto de juro pode se encerrar no patamar atual, 14,75%.
— Após o anúncio atrapalhado do governo brasileiro em novembro passado, sobre o pacote do corte de gastos que incluía a isenção do Imposto de Renda, o humor do mercado financeiro azedou de vez, entendendo que o governo poderia estar afrouxando a política fiscal, contribuindo para fazer o dólar disparar. Já nos últimos meses, o real vem se valorizando em relação ao dólar, por causa da incerteza no mercado internacional e também porque o ambiente fiscal no Brasil vem melhorando, apesar de ainda preocupar a ponto de manter a taxa de juros em patamar elevado — destaca o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, reforçando ainda que o real se valorizou 10,1% em relação ao dólar em 2025 até agora.
No Relatório Focus — pesquisa semanal feita pelo Banco Central junto ao mercado — divulgado na manhã de segunda-feira — ainda antes do anúncio do acordo comercial entre Estados Unidos e China —, as projeções para o câmbio já tinham sido revisadas para baixo. Para 2025, a estimativa caiu de R$ 5,86 para R$ 5,85. Para 2026, a estimativa caiu de R$ 5,91 para R$ 5,90, e passou de R$ 5,85 para R$ 5,80 em 2027, e de R$ 5,85 para R$ 5,82 em 2028.
— Como vários fatores interferem nas projeções, é sempre complexo fazer prognósticos, mas é difícil falar que a cotação vai ficar no patamar atual, porque ainda há riscos internos e o cenário internacional segue adverso, mesmo com uma redução das incertezas. Ainda assim, dá pra dizer que voltar ao patamar de R$ 6,20 que chegou no final do ano passado ficou mais improvável — complementa Agostini.
Importância do planejamento
A variação da cotação do dólar também impacta de forma significativa os brasileiros que têm viagens marcadas para o Exterior, ou que têm dívidas a pagar na moeda norte-americana, por exemplo. Para o professor Marco Antônio Martins, a dica para tentar se prevenir em relação à volatilidade da moeda é ter um planejamento prévio adequado.
— Para as pessoas jurídicas que têm gastos frequentes em dólar, o ideal é ter uma política de rede para lidar com a exposição cambial, avaliando de forma contínua essas movimentações. Para pessoas físicas que têm dívidas já contraídas em dólar, o melhor é pagar na medida que for possível, podendo se antecipar a possíveis altas da moeda. Já quem tem uma viagem para o Exterior marcada, é necessário fazer um planejamento prévio e ir adquirindo dólares de forma constante, para tentar driblar a volatilidade da moeda e chegar no que chamamos de preço médio, diluindo eventuais aumentos da cotação nesse período — ressalta.