A queda do valor do dólar, observada nos últimos dias, deve impactar a economia do Rio Grande do Sul. No âmbito dos consumidores, a moeda americana com valor mais baixo diminui o ritmo de aumento de preços. Para as empresas, esse movimento reduz o retorno de companhias com força na exportação, mas diminui os custos para as que importam insumos e matérias-primas.
A moeda americana voltou a ficar abaixo dos R$ 5 após cerca de nove meses, fechou sequência de oito dias de queda e atingiu R$ 4,747, menor valor desde 11 de março de 2020 (R$ 4,723). No ano, o dólar acumula recuo de 14,86%.
Em um cenário de inflação e juro altos, o dólar em baixa tira força de um dos elementos que pressionam o valor dos produtos nas prateleiras. Mesmo sem potência para provocar redução de preços sozinho, esse movimento deve diminuir a intensidade dos aumentos enfrentados pela população nos próximos meses, segundo especialistas. Combustíveis e alimentos estão no rol de itens que podem apresentar essa desaceleração.
O professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS Pedro Dutra Fonseca explica como que o dólar em queda dá “uma folga ao consumidor” nos preços:
— Se o dólar cresce, a inflação tende a acompanhar. Sobe o preço da gasolina, do diesel, das matérias-primas. Assim como vale para cima, também vale para baixo. Se começar a cair o dólar, tem um tipo de pressão deflacionária. Isso de certa forma é uma folga para o consumidor. O problema é saber se essa folga vai perdurar.
A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, afirma que a valorização cambial no Brasil pode evitar altas ainda maiores nos preços dos produtos em um futuro próximo. Ou seja, não tem força suficiente para reverter valores em um cenário de matérias-primas e itens com valores elevados, mas diminui o ritmo da subida de preços no comércio:
— Uma coisa não consegue anular a força da outra. A gente vai continuar tendo pressões inflacionárias significativas. Só vamos ter um quadro que diz o seguinte: “olha, não piora”. Um câmbio que valoriza ajuda a amenizar essa pressão.
O economista-chefe do Sicredi, Pedro Ramos, também avalia que a manutenção do dólar com valor mais baixo contribui para desacelerar o aumento dos preços dos produtos. Nesse sentido, essa perda de ritmo é mais observada em itens atrelados ao dólar, segundo o economista:
— Os impactos mais perceptíveis, portanto, acabam sendo em cima de alimentos e combustíveis.
Para as famílias que estão com viagem marcada para o Exterior e precisam usar dólar, Ramos destaca que vale avaliar a compra da moeda em espécie. Se isso for viável, pode evitar surpresas com impacto de eventual da variação no preço da moeda no cartão de crédito no futuro.
— Diante do tamanho do risco que a gente vive, de guerra, cenário pré-eleitoral, a melhor estratégia é fazer a conta e ver se a viagem e os produtos cabem no bolso com o câmbio corrente. Se é isso, se sente confortável, que se opte por adquirir as moedas. Você chega no local e sabe o preço que está pagando — pontua.
Exportações e importações
O economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes, afirma que a retração no preço do dólar não chega a prejudicar as exportações no Estado neste primeiro momento. Mesmo com a perda de rentabilidade, a demanda mundial aquecida garante volume de produção e de vendas externas.
Por outro lado, indústrias que importam insumos e produtos ganham vantagem com o dólar em baixa. Isso pode ter impacto nos preços ao consumidor, mas existe um certo delay nesse processo, segundo Nunes:
— É ruim para o exportador em termos de rentabilidade, mas a gente acredita que ainda não chega a influenciar a demanda por exportações.
O economista destaca que um eventual cenário de longevidade desse movimento de queda pode prejudicar os exportadores, principalmente em novos contratos.
Pelo lado dos exportadores, as indústrias calçadista e de máquinas e equipamentos estão entre os segmentos que devem ser mais afetados por essa perda de rentabilidade. Já na importação, as empresas beneficiadas seriam aquelas que dependem mais de insumos vindos do Exterior, como as que produzem materiais plásticos.