O dólar engatou uma sequência de oito dias consecutivos de queda no Brasil. A moeda americana iniciou a semana passada abaixo dos R$ 5 e permaneceu assim até sexta-feira (25), fechando o dia em R$ 4,747. Esse é o menor valor desde março de 2020. Efeitos da guerra na Ucrânia e a série de altas na taxa de juro básico do país estão entre os principais componentes que explicam esse recuo, segundo especialistas.
O professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS Pedro Dutra Fonseca afirma que a queda do dólar ocorre, principalmente, diante de fatores internos, que acabam se misturando com aspectos do mercado mundial. O juro alto, que atrai investidores externos, e a valorização das commodities diante da guerra na Ucrânia são alguns dos ingredientes que explicam a retração no valor do dólar, segundo Fonseca.
— Como o Brasil é um grande produtor de minérios e de commodities, uma visão que se tem internacionalmente é de que não é um país que vai ser prejudicado com a guerra, que não vai ser tão abalado como, por exemplo, os países europeus — explica o professor de Economia.
O economista-chefe do Sicredi, Pedro Ramos, afirma que, além desses fatores, a relação menos direta de países da América Latina e da África com as regiões envolvidas no conflito no leste europeu também ajuda a explicar a valorização do real na conversão com o dólar. Isso ocorre porque investidores migram seus negócios.
— Os países emergentes da América Latina e da África estão praticamente inertes a esse efeito. Então, de certa forma existe um efeito de tentar sair de quem está direta ou indiretamente relacionado aos países do conflito. Isso favorece os países da América Latina, que tem uma condição de não exposição a esses mercados — explica Ramos.
O economista também cita que o Brasil tem potencial de elevar a produção de petróleo nos próximos anos, o que pode entrar nesse movimento de valorização cambial. O fato de o país ter jazidas ainda não exploradas reforça essa avaliação, segundo Ramos.
— Também pelo canal de investimento, você acaba olhando o Brasil como um player relevante para esse mercado que não se sabe como vai ficar diante da guerra entre Rússia e Ucrânia, que tira um dos maiores players de petróleo do mundo — salienta o economista.
Mesmo não ocupando a primeira colocação nesse sentido, o Brasil é um dos destaques entre as nações fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, de acordo com o especialista.
Futuro
Fonseca, da UFRGS, avalia que o dólar deverá subir novamente nos próximos meses diante da proximidade das eleições presidenciais no país. A corrida eleitoral e a instabilidade política costumam ter efeitos no mercado econômico. Junto disso, um possível aumento da taxa de juro nos Estados Unidos também pode reverter esse cenário de moeda americana em queda, segundo Fonseca. O professor explica que isso ocorre porque os investidores enxergam um aporte mais estável na economia americana:
— Se o Federal Reserve começar a aumentar os juros, o investidor pode começar a buscar outro local para colocar seu dinheiro.
O economista-chefe do Sicredi concorda com a estimativa de possível volatilidade do preço do dólar diante de período eleitoral e elevação de juro nos Estados Unidos. No entanto, Ramos destaca que existe a possibilidade de apreciação do real após forte desvalorização durante a pandemia.