A venda de veículos no Rio Grande do Sul segue mais aquecida no mercado de seminovos e usados diante dos problemas enfrentados pelo ramo de zero-quilômetro. O avanço nessa modalidade, entre automóveis e comerciais leves, foi de 23% nos nove primeiros meses de 2021 em relação a igual período do ano passado, segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
No geral, também levando em conta os dados de vendas dos novos, o comércio de veículos continua no azul no acumulado do ano no Estado, mas apresentou sinais de desaceleração em setembro. Integrantes do setor avaliam que a tendência de queda observada em setembro deve seguir no mercado zero-quilômetro. Já entre os seminovos e usados, deverá ser revertida em um futuro próximo.
Presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do RS (Agenciauto/Fenauto-RS), Rodrigo Dotto, afirma que a redução na oferta de veículos zero-quilômetro aquece o mercado de seminovos e usados. Dotto cita também a valorização dos veículos na esteira desse momento. A situação faz com que o carro seja usado como espécie de investimento, algo que não ocorria nos últimos anos.
O valor do carro está subindo. Então, as pessoas estão se sentindo confortáveis para comprar. Porque se ela se arrepender, ainda assim vai ganhar dinheiro
RODRIGO DOTTO
Presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do RS
— Nesse momento, o valor do carro está subindo. Então, as pessoas estão se sentindo confortáveis para comprar. Porque se ela se arrepender, ainda assim vai ganhar dinheiro. Inclusive, para nós, lojistas, tem carros que vendemos seis meses atrás e estamos recomprando por um valor maior do aquele que foi vendido — relata Dotto.
O preço dos automóveis seminovos e usados no país subiu 21,24% de outubro de 2020 até setembro deste ano, segundo dados da Agenciauto/Fenauto-RS, levantados via financiamentos. No caso dos comerciais leves, a elevação foi de 21,32%. Dotto diz que esse movimento também ocorre no RS.
Dados do IPCA, que mede a inflação oficial do país, também apontam avanço nos preços de veículos. O IPCA dos novos cresceu 8,94% no acumulado do ano na Grande Porto Alegre. No caso dos usados, a alta é de 12,35%.
Escassez
Na outra ponta, o mercado de automóveis e comerciais leves novos subiu 3,33% nos primeiros nove meses do ano ante igual período de 2020. Foram emplacados 72.417 veículos zero-quilômetro no Estado – 2,3 mil a mais em relação ao ano passado. Os dados são da Fenabrave/Sincodiv-RS, entidade que representa concessionárias e distribuidoras. Mesmo positiva, a alta é tímida levando em conta que a comparação ocorre sobre base fraca em boa parte de 2020, afetada pelo início da pandemia.
O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, afirma que a escassez de componentes na indústria, como os semicondutores, impacta a produção de veículos novos e, consequentemente, as vendas. Há também o preço elevado de alguns insumos para importação diante de taxa de câmbio alta. Veículos com maior tecnologia e que demandam mais componentes eletrônicos estão com tempo de entrega que chega a até 90 dias.
Tanto o segmento de novos quanto o de seminovos e usados tiveram tombo nas vendas em setembro desse ano na comparação com agosto. No ramo de seminovos, o recuo foi maior, 10,47%.
Em relação à queda no setor de seminovos e usados, o presidente da Agenciauto/Fenauto-RS diz que o tombo ocorreu diante dos aumentos do IOF, da Selic e dos preços da tabela Fipe, usada como parâmetro para valores de veículos. Dotto afirma que a queda é pontual e deve ser revertida.
— Tudo isso fez o consumidor dar uma segurada. Agora, no mês de outubro, já retomou bem forte. Acredito que a gente recupere essa queda de setembro. E, para o final do ano, a nossa perspectiva é de aumento em relação ao ano passado — pontua Dotto.
Regularização somente no próximo ano
Como a crise dos semicondutores e o preço dos insumos importados, como o aço, seguem pressionando a produção, o setor de veículos novos não estima cenário muito favorável para o futuro próximo. Um dos sinais dessa cautela foi exposto pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores no início de outubro.
A entidade, que representa as montadoras, reduziu a projeção para a produção deste ano: deverá variar entre 2,13 milhões e 2,22 milhões de unidades. Esses montantes representam aumento de 6% a 10% ante 2020. No início de 2021, a previsão era na casa dos 20%.
O presidente da Fenabrave/Sincodiv-RS, Paulo Siqueira, avalia que a desaceleração nas vendas observada em setembro deve seguir nos próximos meses. Taxa de câmbio alta e custos elevados de fretamento internacional somados à falta de semicondutores contribuem para esse cenário, destaca:
— A falta de oferta de veículos deve afetar naturalmente o volume de emplacamentos. Essa inflexão, daqui para frente até o final do ano, deve ser de tal maneira importante que esse número pode criar uma pequena queda em relação ao ano passado ou ficar mais ou menos pelos mesmos números.
Siqueira afirma que essa crise deve começar a dar trégua apenas na segunda metade de 2022, com readequação de preços e de estoques nas cadeias de insumos.
No caso dos seminovos e usados, o presidente da Agenciauto/Fenauto-RS, Rodrigo Dotto, estima que o setor seguirá mais aquecido enquanto a queda de ritmo de produção e de vendas seguir afetando o segmento do zero-quilômetro.