No day after da mais recente ameaça do presidente Jair Bolsonaro de interferir na gestão da Petrobras, nem o lucro do terceiro trimestre muito acima das expectativas do mercado resgatou as ações da empresa da queda.
No meio da tarde desta sexta-feira (29), as ordinárias tombam 6,18% e as preferenciais, 6,01%.
Durante a entrevista coletiva online sobre os resultados da empresa, o diretor de comercialização e logística da estatal, Claudio Mastella, respondeu assim a uma pergunta sobre a possibilidade de a estatal congelar preços, como os Estados combinaram de fazer com o preço de pauta sobre o qual incide o ICMS:
— Não estamos avaliando congelar preços. Isso faria o preço dos combustíveis no Brasil se descolar do preço internacional, o que faria com que o abastecimento dependesse exclusivamente da Petrobras.
Pouco antes da perguntas específica, Mastella já havia se manifestado sobre os riscos de um congelamento:
— A tentação de congelar preços, como foi tentada em países vizinhos, tem consequências no abastecimento de produto logo em seguida.
Para lembrar, a Petrobras avisou aos distribuidores, há poucos dias, que não poderia atender a todos os pedidos de aumento de volume de fornecimento de combustível. Sobre o tema, Mastella afirmou que não há motivos aparentes para o aumento da demanda e afirmou que os pedidos adicionais serão atendidos "por outros atores" — ele não disse, mas os que existem são os importadores diretos.
O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, teve de responder se não se sentia "pessoalmente pressionado" por queixas de caminhoneiros e tanqueiros, distribuidoras, importadores e políticos. Aproveitou para dar uma resposta à crítica de Bolsonaro sobre o lucro "alto demais" da estatal:
Tudo o que impacta a sociedade impacta a empresa. Por isso, estamos gerando o máximo de dividendos e resultados para a União, pensando também nos mais vulneráveis. A Petrobras inclusive participa de conversas sobre isso, para que o Congresso e o governo possam encontrar soluções para apoiar os mais necessitados com os recursos que entregamos. O Congresso está estudando um colchão amortecedor de preços, vale-gás, vale-caminhoneiro. Mas não no sentido de se sentir pressionado mas como a Petrobras pode ser ainda mais sensível em relação ao que está acontecendo.
Rodrigo Araújo, diretor financeiro e de relações com investidores, reforçou:
— Estamos distribuindo dividendos e vamos distribuir cada vez mais. A União, que tem 37% da empresa, é a maior beneficiária dos resultados.
Como a coluna havia projetado, dos R$ 63,4 bilhões que a estatal vai pagar a seus acionistas em seis meses, a União vai receber perto de R$ 23 bilhões, quase metade do valor necessário previsto para o Auxílio Brasil, estimado em R$ 51,1 bilhões em 2022.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.