A cena de consumidores empilhando pacotes de papel higiênico nos carrinhos se tornou corriqueira em diversos supermercados em março. O crescimento acelerado das vendas nos estabelecimentos, puxado pela crise do coronavírus, fez com que o produto se tornasse um dos itens da cesta básica que mais encareceram na Região Metropolitana de Porto Alegre, com alta média de 11,05% no período. Isso é o que constata levantamento mensal de preços divulgado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nesta segunda-feira (6).
Dos 51 produtos da cesta básica analisados pelo Iepe, 37 ficaram mais caros em março. Outros 13 artigos tiveram queda nos preços e apenas o cigarro permaneceu sem oscilação. Com isso, o custo do conjunto de itens essenciais chegou a R$ 866,48, alta de 1,22% frente a fevereiro. Artigos de higiene, frutas, legumes e verduras sofreram os maiores reajustes no mês. Além do papel higiênico, cenoura (23,27%), repolho (15%), alface (11,93%), sabonete (6,7%) e sabão em barra (4,71%) são alguns dos itens que ficaram mais caros.
— Março foi um mês atípico. A partir da segunda quinzena, começou a se notar a influência do coronavírus no comportamento de preços, como reflexo da demanda e da distribuição de alguns produtos — aponta o economista Everson dos Santos, coordenador do Núcleo de Pesquisa Econômica Aplicada do Iepe.
Economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patricia Palermo lembra que é natural que preços de alguns itens subam acima da média no atual contexto, marcado pela elevação expressiva de demanda em um curto espaço de tempo.
— Vimos que houve uma corrida aos supermercados, e aí tu começas a enxergar a lei de oferta e demanda. Aumenta muito a demanda por certos produtos, e isso tem reflexo no preço — explica.
Para Patrícia, a pressão sobre os preços de alguns itens não deve se estender além de abril. Com a iminência de recessão, muitos trabalhadores poderão ter redução na renda nos próximos meses ou até mesmo serem demitidos. A perda de salário e a incerteza sobre os rumos da economia brasileira tendem a enfraquecer a demanda e, assim, os preços nas gôndolas deverão se manter estáveis ou até cair a partir de maio.
Supermercados têm movimento intenso
A movimentação intensa de clientes nos supermercados nas últimas semanas fez com que as vendas em março crescessem 10% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Diante da elevação na procura por alguns produtos, estabelecimentos chegaram a colocar um limite de unidades a serem compradas por pessoa. É o caso de álcool gel, água mineral, produtos de limpeza e alguns alimentos, como arroz e feijão.
Ainda assim, o presidente da Agas, Antônio Longo, ressalta que não há risco de desabastecimento e que as restrições muitas vezes atendem a decretos vigentes nos municípios. No momento, as dificuldades junto aos fornecedores acabam se restringindo a itens como o álcool gel.
— Não tínhamos histórico de venda desse produto, e os mercados continuam com dificuldade de reposição, até porque a prioridade são os hospitais. Esse mercado está em ebulição e os preços dos fornecedores subiram — relata Longo.
Apesar do saldo positivo de vendas no mês passado, Longo acredita que em abril os negócios deverão desacelerar. Para o dirigente, a crise econômica afetará o comportamento do consumidor, deixando-o mais cauteloso na hora de comprar.
Preços na Região Metropolitana em março
Em alta
Cenoura (kg): R$ 4,34 (23,27%)
Repolho (kg): R$ 3,16 (15%)
Alface (pé): R$ 2,08 (11,93%)
Papel higiênico (pacote com quatro rolos de 30 metros): R$ 4,71 (11,05%)
Tomate (kg): R$ 4,61 (8,66%)
Cebola (kg): R$ 3,58 (7,29%)
Sabonete (90g): R$ 1,83 (6,7%)
Laranja (kg): R$ 5,18 (6,33%)
Linguiça fresca embalada (kg): R$ 20,76 (5%)
Sabão em barra (400g): R$ 3,65 (4,71%)
Em baixa
Maçã (kg): R$ 7,22 (-4,36%)
Desodorante (90ml): R$ 7,77 (-3,68%)
Café (500g): R$ 8,18 (-1,77%)
Refrigerante (2 litros): R$ 5,64 (-1,7%)
Sal (kg): R$ 1,97 (-1,53%)
Gás de cozinha (botijão): R$ 74,72 (-1,08%)
Xampu (350ml): R$ 11,21 (-0,88%)
Alvejante (litro): R$ 3,10 (-0,54%)
Margarina (500g): R$ 5,25 (-0,32%)
Carne bovina (kg): R$ 30,29 (-0,31%)
Fonte: Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)