A afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que sancionará o auxílio de R$ 600 prova que as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a ajuda dependeria do Congresso não eram 100% verdade, disse o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A declaração foi dada pelo parlamentar nesta quarta-feira (1º) em entrevista concedida ao apresentador José Luiz Datena na Rádio Bandeirantes.
Esse foi o terceiro ataque de Maia a Guedes desde que o ministro tentou transferir ao Congresso a responsabilidade pelo atraso na liberação dos recursos. O deputado também elogiou as medidas anunciadas nesta tarde pelo governo para manter empregos formais no país e falou que as decisões tomadas foram corretas.
— Hoje (quarta-feira) o presidente está provando que o que o ministro (Paulo Guedes) disse ontem (terça-feira) não era 100% verdade — afirmou. — É óbvio que o governo tem os instrumentos para editar a medida provisória para garantir os recursos para a renda mínima — completou.
O presidente da Câmara alfinetou o ministro e sugeriu que as acusações de Guedes em direção ao Legislativo tentavam mascarar um erro de avaliação em relação à crise do coronavírus. Maia citou duas entrevistas dadas pelo ministro. Em uma, à revista Veja, Guedes estimou o custo do combate à pandemia em R$ 5 bilhões. Em outra, à Folha de S.Paulo, o ministro disse que não havia propostas imediatas e que o plano era de médio e longo prazo.
— É óbvio que o ministro está tensionado. Quando você vai analisando, um homem com a qualidade dele, com o talento dele, com a formação dele, comete um erro tão grande na sua análise inicial da crise e minimiza os impactos na economia... Ele ainda está organizando o caminho dele — avaliou.
O deputado acusou novamente Guedes de tentar transferir para terceiros — no caso, ao Congresso — uma responsabilidade que era dele. O deputado afirmou, porém, que isso não o incomodava.
Mais cedo, em videoconferência com investidores do banco Bradesco BBI, Maia acusou o ministro de cobrar a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) "que nem sabe qual é porque ele não encaminhou".
O presidente da Câmara demonstrou irritação com a declaração de Guedes de que Maia poderia aprovar em 24 horas uma PEC para regularizar a liberação do auxílio emergencial.
— Mas que PEC, ministro, se o senhor não me pediu nada? Eu, junto com os outros deputados, que propusemos a PEC da guerra — criticou. — Isso não vai nos contaminar. Não vamos atrasar a votação da PEC por isso, mas não acho que a relação está azeitada — disse.
O presidente da Câmara articula a aprovação do orçamento de guerra. A ideia é separar o orçamento fiscal do da crise. Durante a vigência da calamidade pública, o texto permitirá que o governo não cumpra a regra de ouro, norma que impede endividamento para pagar despesas correntes.
Na terça (31), Guedes e Maia travaram disputa de versões sobre a liberação do auxílio.
Enquanto o titular da Economia cobrava a Câmara e afirmava que a efetivação dos pagamentos dependia da aprovação de uma PEC pelo Legislativo, Maia criticou a demora do governo em liberar os benefícios e acusou o governo de mentir na ação que impetrou junto ao STF.
Embora o projeto que cria o auxílio tenha sido aprovado pelo Congresso, restando apenas a sanção do presidente Jair Bolsonaro, Guedes afirmou que o início dos pagamentos à população ainda terá que esperar a aprovação pelo Legislativo de uma emenda constitucional do chamado "orçamento de guerra".