A tensão no mercado financeiro ocasionada pelo avanço do coronavírus fora da China nos últimos dias, incluindo o primeiro caso confirmado da doença no Brasil, começa a influenciar as projeções de diferentes setores da economia do Rio Grande do Sul. A indústria é um dos ramos mais afetados pela situação, pois nas últimas semanas tem dificuldade para importar matéria-prima do país asiático.
Com isso, algumas fábricas gaúchas já vislumbram impactos na produção, no crescimento e na geração de empregos no decorrer de 2020. Nesta quinta-feira (27), o cenário de aversão ao risco se manteve nas bolsas de valores do Exterior e do Brasil na esteira da epidemia do coronavírus e seu impacto na economia global.
As principais bolsas europeias chegaram a cair mais de 3%. Nos Estados Unidos, Nova York fechou com queda de 4,42%. Enquanto isso, em São Paulo, o Ibovespa recuou 2,59%, depois de despencar 7% na sessão de quarta-feira.
Neste contexto, o empresariado gaúcho se mostra cauteloso. Dirigentes industriais reconhecem que ainda é difícil transformar em cifras o impacto da epidemia nos negócios, mas garantem que há sinais de que o crescimento deverá ficar abaixo do esperado inicialmente.
Na Serra, principal polo metalmecânico do Estado, insumos podem começar a faltar nas próximas duas semanas, caso a paralisação de fornecedores e os problemas logísticos no Exterior se prolonguem. Componentes elétricos adquiridos na China e até aços especiais vindos da Europa são artigos que podem ter o abastecimento prejudicado.
O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Paulo Spanholi, avalia que impactos no crescimento do setor são inevitáveis.
– Isso pode fazer com que as empresas da Serra contratem menos e até mesmo reduzam quadros – projeta.
Com mais de 40% de insumos vindos da China, o setor eletroeletrônico já tem fábricas com redução na atividade no Estado. Caso a situação se agrave nos próximos dias, algumas empresas não descartam a possibilidade de dar férias coletivas aos funcionários.
– Em torno de 65% das fábricas estão com alguma restrição na linha de montagem. Este número só está aumentando – diz Régis Haubert, diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) no Rio Grande do Sul.
Diante da perspectiva de redução no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a indústria calçadista nacional, que tem no Vale do Sinos um dos seus maiores polos, decidiu cortar a projeção de expansão em 0,3 ponto percentual. A expectativa da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) agora é de alta entre 1,7% e 2,2% em 2020.
– Mesmo que a situação na China melhore, até se reorganizar todo o fluxo logístico marítimo poderemos ter desabastecimento, o que poderá afetar a produção – afirma Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados.
Na indústria do plástico, a maior preocupação está no fornecimento de polietileno de baixa densidade chinês. Para atenuar a redução na disponibilidade, o produto vem sendo adquirido no Brasil.