Recentemente, muitos brasileiros passaram a buscar alternativas mais rentáveis que a poupança, migrando para produtos de renda fixa ou até mesmo para opções na renda variável, como o mercado de ações. Especialista em finanças e professora da Faculdade Instituto de Administração (FIA), Betty Grobman classifica esse movimento como algo positivo, mas enfatiza que deve ser conduzido com cautela.
— O público da poupança é megaconservador. Tem muita gente no mercado acenando com fundos imobiliários e ações na bolsa de valores, que não são exatamente para esse tipo de público. Mas existem algumas opções para quem não quer se sentir órfão da poupança —aponta Betty, destacando que títulos do Tesouro e Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de bancos pequenos podem ser alternativas para quem deseja dar os primeiros passos no universo dos investimentos.
Mesmo que os produtos de renda fixa em geral tenham perdido rentabilidade, em razão da baixa da Selic, ainda há opções que superam a poupança e têm o mesmo nível de segurança, já que possuem chancela do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Ou seja, caso o banco emissor do título quebre, há garantia de proteção para aplicações de até R$ 250 mil, por pessoa, naquela instituição.
Em geral, as aplicações ofertadas podem ser pré-fixadas — com rentabilidade definida no momento da aquisição — ou pós-fixadas — atreladas à chamada Taxa DI, que é próxima da Selic. Há alternativas com liquidez garantida apenas no vencimento ou diária, com a possibilidade de saque a qualquer momento e o recebimento dos juros proporcionais ao período aplicado.
Em boa parte dos produtos incide Imposto de Renda (IR), com alíquota regressiva de 22,5% a 15% sobre o valor ganho, dependendo do prazo de retirada. Também há cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos casos de saque antes de 30 dias.
Para ter acesso às aplicações, o investidor precisa criar uma conta em um banco ou corretora. Assim, por meio do celular ou do computador, ele poderá decidir onde alocar os recursos. O diretor executivo do Yubb, Bernardo Pascowitch, recomenda que a decisão seja tomada após pesquisa sobre o portfólio de produtos no site da empresa. Se a prioridade é renda fixa, por exemplo, a dica é procurar uma companhia que não cobre taxas sobre esse tipo de aplicação. É preciso verificar também se a instituição está habilitada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
— É importante que, antes de investir, a pessoa entenda seu próprio perfil (conservador, moderado ou arrojado) e quais são seus objetivos ao aplicar o dinheiro. Isso permitirá que ela identifique quais são os produtos mais adequados — analisa Pascowitch.
O especialista ainda ressalta que diversificar a carteira de investimentos com diferentes produtos e realizar aportes mensais podem contribuir para que o aplicador diminua riscos e consiga melhores rendimentos.
Confira as características de algumas aplicações
Títulos do Tesouro
Como funcionam: são títulos da dívida pública emitidos pelo Tesouro Nacional, espécie de caixa do Brasil. Os papéis se dividem em três tipos – os pré-fixados têm a rentabilidade definida no momento da compra, o Tesouro Selic é uma opção pós-fixada cujo retorno é praticamente igual à variação da taxa básica de juros a cada dia e o Tesouro IPCA se constitui em um produto híbrido, já que paga a variação da inflação oficial mais um percentual anual estabelecido na hora da aquisição.
Prós: é considerado o investimento mais seguro da economia brasileira, por ser emitido pelo governo. Os títulos podem ser negociados por frações, o que possibilita que qualquer pessoa consiga investir a partir de R$ 30. O Tesouro Selic pode ser uma alternativa à poupança para a criação de uma reserva de emergência.
Contras: incide IR na fonte sobre o rendimento e IOF em caso de saque antes de 30 dias de aplicação. Ainda é cobrada pela bolsa de valores, a B3, uma taxa anual de 0,25% sobre o valor total aplicado. Caso o dinheiro seja retirado antes do prazo de vencimento do título, a rentabilidade poderá ser inferior à contratada inicialmente ou poderá haver até prejuízo.
Certificado e recibo de Depósito Bancário (CDB e RDB)
Como funcionam: o CDB é um título de renda fixa emitido por bancos. Na prática, o investidor está emprestando dinheiro para a instituição financiar suas atividades. Pode ser pré ou pós-fixado. O recibo de depósito bancário (RDB) é um produto semelhante.
Prós: alguns CDBs têm liquidez diária, podendo ser uma alternativa para a criação de uma reserva de emergência. Vasta oferta no mercado, com bancos de menor porte geralmente oferecendo remuneração superior à de instituições maiores. Há garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até R$ 250 mil.
Contras: incide IR na fonte sobre o rendimento e IOF se houver saque antes de 30 dias de aplicação. Caso o dinheiro seja retirado antes do prazo de expiração do papel, a rentabilidade poderá ser inferior à contratada inicialmente ou poderá haver até prejuízo.
Letra de Câmbio (LC)
Como funciona: é um título de renda fixa similar ao CDB, mas emitido por financeiras. Pode ser pré-fixado, pós-fixado ou híbrido, pagando um percentual fixo mais a variação do IPCA ou do IGP-M.
Prós: há garantia do FGC até R$ 250 mil. Por ser emitida por instituições menores, o retorno costuma ser superior ao do CDB.
Contras: incide IR na fonte sobre o rendimento e IOF em caso de saque antes de 30 dias de aplicação. A liquidez costuma ser garantida somente no vencimento do título. Ou seja, caso o dinheiro seja retirado antes do prazo de expiração do papel, a rentabilidade poderá ser inferior à contratada inicialmente ou poderá haver até prejuízo.
Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Imobiliária (LCI)
Como funcionam: os dois títulos são emitidos por bancos e funcionam de maneira similar, a diferença está no destino que a instituição dará ao dinheiro. A LCA é voltada a projetos do agronegócio, enquanto a LCI ao setor imobiliário. Podem ser pré ou pós-fixadas.
Prós: não incide IR na fonte ou IOF sobre a rentabilidade. Há garantia do FGC até R$ 250 mil.
Contras: a liquidez costuma ser garantida somente no vencimento do título. Caso o dinheiro seja retirado antes do prazo de expiração do papel, a rentabilidade poderá ser inferior à contratada inicialmente ou poderá haver até prejuízo.
Debênture
Como funciona: é um título de dívida emitido por empresas, que buscam recursos junto aos investidores para financiar suas atividades. Podem ser pré-fixadas, pós-fixadas ou híbridas, geralmente pagando um percentual fixo ao ano mais a variação do IPCA.
Prós: no caso das debêntures incentivadas, ligadas à área de infraestrutura, não há dedução de IR na fonte. Costumam oferecer retorno superior a outras aplicações de renda fixa. Agências de rating avaliam o título, permitindo que o investidor saiba seu grau de risco previamente.
Contras: incide IR na fonte, com exceção das debêntures incentivadas. Pode não ter garantia ao investidor, caso a empresa não consiga honrar o pagamento. Se o dinheiro for retirado antes do prazo de vencimento do título, a rentabilidade poderá ser inferior à contratada inicialmente ou poderá haver até prejuízo.
Fundos de investimento
Como funcionam: espécie de investimento coletivo, no qual o aplicador compra cotas e delega a um gestor profissional a decisão de aplicar os recursos em determinados tipos de ativos. As regras de funcionamento e o grau de risco variam em cada caso. Existem fundos de renda fixa, imobiliários, de ações, multimercados (podem investir em renda fixa, ações, câmbio e produtos diversos), entre outros.
Prós: é uma maneira de diversificar a carteira, deixando a decisão de escolha dos ativos nas mãos de um gestor profissional. Há fundos acessíveis, com cotas até abaixo de R$ 100 para começar a investir. Por ser gerido por um profissional, pode trazer retorno acima da média do mercado.
Contras: há incidência de taxa de administração e, em alguns casos, taxa sobre performance do fundo. Também incidem IR e IOF sobre fundos de curto prazo ou longo prazo em caso de saque antes de 30 dias de aplicação, ambos são retidos na fonte. As oscilações do mercado podem fazer com que nem sempre haja retorno positivo sobre o valor aplicado.
Bolsa de valores
Como funciona: o mercado acionário é um dos principais símbolos da renda variável. A bolsa de valores brasileira, a B3, conta com ações de mais de 300 empresas. Os papéis representam parte do capital social da companhia. Ao comprá-los, o investidor se torna sócio dela.
Prós: a chance de retorno é maior do que na renda fixa. Possibilidade de ganho com dividendos (parte dos lucros) e na venda dos papéis da companhia, caso haja valorização. Isenção de IR sobre os dividendos e em vendas de ações no valor de até R$ 20 mil dentro de um mesmo mês.
Contras: o risco é maior do que na renda fixa, pois o sobe e desce das ações torna imprevisível o retorno futuro. Incidem taxas de corretagem, dependendo da corretora, e outras taxas cobradas pela B3 conforme a operação. Também há IR em negociações de compra e venda realizadas dentro do mesmo dia e sobre o lucro nos casos de venda acima de R$ 20 mil no mês.
Leia outras partes desta reportagem