Mesmo que os analistas de investimentos revirem os olhos, a poupança segue com espaço especial no coração do brasileiro. Isso apareceu, inclusive, no último levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Entre os 8% que aplicaram em produtos financeiros em 2018, a poupança manteve a liderança: 88% guardaram dinheiro na caderneta. Além de toda a força da marca, ela é isenta de Imposto de Renda (IR) e o dinheiro pode ser sacado a qualquer momento, dando o que chamamos de "liquidez" para a pessoa. Mas mesmo isso não está deixando ela atrativa para seu patrimônio.
A pedido dos leitores e ouvintes do programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha), a coluna responde as cinco perguntas mais frequentes sobre a poupança. No final, ouça ainda entrevista com o consultor financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, detalhando ainda mais o assunto e sugerindo outros investimentos. Vamos lá:
1 - Quanto está rendendo a poupança?
Com o atual patamar da taxa de juro brasileira, abaixo de 8,5% ao ano, a regra de rentabilidade é 70% da Selic mais TR, que é a Taxa Referencial e está zerada. Como a Selic está em 4,5% ao ano, a poupança está rendendo:
Ao mês: +0,26%
Ao ano: +3,15%
2 - Por que o dinheiro na poupança perde o poder de compra?
Porque o retorno da caderneta está menor do que a inflação para o consumidor. Ou seja, considerando a média de variação de preços, o dinheiro na poupança não compra agora o mesmo que compraria há um ano. E, pela expectativa de inflação, também não comprará daqui a um ano e isso sem considerar que o Banco Central faça novas reduções da taxa de juro Selic.
Poupança em 2019: +4,26%
Inflação de 2019: +4,31%
Poupança: +3,15% ao ano atualmente
Inflação prevista para 2020: +3,56%
3 - Onde colocar o dinheiro, então?
Em geral, considerando o conservadorismo de quem só aplica em poupança e a necessidade de começar aos poucos, os consultores financeiros costumam indicar os seguintes investimentos para substituir a caderneta em um primeiro momento:
Tesouro Selic: título do Tesouro Direto que remunera o investidor com base na taxa Selic. A alíquota de Imposto de Renda vai diminuindo conforme o tempo do dinheiro investido, e os bancos e corretoras têm zerado as taxas de administração para usar o investimento como chamariz de novos clientes.
CDB: Certificado de Depósito Bancário é um empréstimo que as pessoas fazem aos bancos em troca de uma remuneração. Fique atento à taxa de administração e cuidado com CDBs que pagam menos de 100% do CDI.
Fundos de renda fixa: são oferecidos por bancos e outras instituições financeiras. Há um gestor do fundo que escolhe onde aplica o dinheiro dos investidores, mas cobra uma taxa de administração por isso. Procure taxas inferiores a 0,5% e leia o prospecto do fundo para saber quais papéis costumam estar na mira do administrador.
Entre outros, como letras de crédito, de câmbio, fundos multimercados e fundos imobiliários. Sobre isso, leia também aqui: Onde investir seu dinheiro, pauta do programa Acerto de Contas
4 - Há outro investimento com a mesma segurança da poupança?
O consultor financeiro Mauro Calil ressalta que a garantia da poupança não vem do governo federal, como muitos pensam. Ela vem do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que garante R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em cada conglomerado financeiro. As aplicações com a mesma garantia são CDB, Letras de Crédito, entre outras. Mas há, então, outra aplicação mais segura? Sim e são os títulos do Tesouro Direto, que têm a garantia do Tesouro Nacional. Quando alguém compra esse papel está emprestando dinheiro para o governo federal em troca da remuneração por meio de juro. Eles correm somente o risco de o governo brasileiro resolver dar calote nos investidores, o que é tão ou menos improvável do que voltarmos a ter um confisco da poupança.
5 - O que é a poupança velha e por que dizem que vale ouro?
É o dinheiro depositado antes de 4 de maio de 2012 na caderneta e que segue lá. Foi nessa data que o governo federal mudou as regras de remuneração da poupança. A poupança "velha" paga hoje 0,50% ao mês, ou seja, 6,17% ao ano. É quase o dobro da inflação e um retorno que está ficando cada vez mais difícil de conseguir, ainda mais na renda fixa. Então, ela vale ouro e o dinheiro deve ser mantido aplicado. No extrato bancário, os saldos das duas poupanças aparecem em separado. Quando é feito saque, o dinheiro sai da caderneta nova, com depósitos feitos após a mudança da regra. Só retira da poupança antiga, quando acaba o saldo da nova e também o da conta corrente, claro.
Saiba mais, no programa Acerto de Contas. Domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha. Ouça aqui:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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