Depois de a Polícia Civil desencadear a Operação Lojista, na sexta-feira (29), que investiga supostos desvios na Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas (FCDL) do Estado, o presidente da entidade, Vitor Augusto Koch, principal investigado, revelou que sofria extorsões de opositores.
A defesa do presidente entrega à polícia nesta terça-feira (3) áudios que comprovariam que ele vinha sendo vítima de extorsão dentro da federação.
Koch conversou com GaúchaZH para explicar a disputa política interna na FCDL e apresentou uma conversa gravada em que um dos vice-presidentes, Fernando Palaoro, admitiria ficar calado sobre supostas irregularidades caso recebesse R$ 500 mil (ouça acima). Foi Palaoro quem levantou as primeiras suspeitas em relação a negócios da FCDL.
O vice fez um dossiê apontando o presidente como responsável por pagamentos duvidosos e o levou ao Ministério Público em setembro de 2018. O caso acabou repassado à polícia para investigação, e um inquérito foi aberto em novembro do ano passado pela 17ª Delegacia.
Acompanhado por seu advogado, Ricardo Breier, Koch, 56 anos, disse à reportagem que Palaoro tentou lhe "extorquir por divergências políticas internas da FCDL", ameaçando levar denúncias a autoridades e "destruir a federação e sua família".
— Ele procurou uma pessoa da federação, disse que tinha um dossiê, mas que nada precisava acontecer desde que atendesse a exigência dele. Ele queria dinheiro para ir para Itália. Tinha dívidas com a federação e estava passando por dificuldades financeiras. Exigiu R$ 500 mil para não levar adiante o dossiê. Destaquei interlocutores para conversar com ele porque queríamos saber quais eram as supostas acusações. E foi dito a ele que nada seria pago — contou o presidente.
Koch diz ter conversas gravadas que comprovariam as extorsões. Uma das gravações ele apresentou a GaúchaZH.
Os interlocutores seriam o 1º diretor-financeiro da entidade, Moacir Lodi, e Palaoro, em conversa por telefone. No diálogo, de maio de 2018, o homem identificado como Palaoro admite que quer R$ 500 mil para ficar em silêncio.
Em 21 de maio de 2018, Koch registrou ocorrência policial de extorsão contra Palaoro, na 1ª Delegacia da Polícia Civil. Em junho do ano passado, o caso foi levado ao Conselho de Ética da FCDL. Houve a entrega da gravação, e uma série de supostas outras irregularidades por parte de Palaoro passaram a ser apuradas. Em setembro do ano passado, Palaoro levou notícia-crime com suspeitas contra Koch para o MP e, em novembro, a polícia abriu inquérito.
Em abril deste ano, o Conselho de Ética da FCDL concluiu a apuração contra Palaoro. A suposta ameaça ao presidente e pedido de R$ 500 mil para não fazer denúncias foram considerados atos graves e o conselho decidiu pela exclusão de Palaoro da entidade. Ele recorreu. O recurso será julgado em assembleia marcada para o próximo dia 6.
Koch nega todas as suspeitas que constam do inquérito policial, de que desviou valores pagando por serviços fictícios e de que tinha esquema com um empresário para receber os valores pagos de volta. Com base na investigação, ele e sua mulher, além de outros dois investigados, tiveram os bens bloqueados por decisão judicial.
Conforme o delegado Juliano Ferreira, as suspeitas foram confirmadas por testemunhas e por quebra de sigilo bancário e financeiro. Segundo o delegado, teriam ocorrido desvios de cerca de R$ 10 milhões nos 13 anos de gestão de Koch à frente da federação. O mandato de Koch é válido até o final de 2020.
Conforme o presidente, a movimentação de sua loja em Três Coroas é alta porque ele tem convênio para ser correspondente bancário do Bradesco:
— Têm dias que passam R$ 100 mil pela conta das loja. Isso posso provar. Tenho contrato.
Sobre outro ponto levantado na investigação, de que R$ 702,6 mil pagos pela FCDL foram justificados com notas de compra de vinhos, Koch explicou:
— O empresário tinha três empresas, uma delas, essa adega. Ele ficou sem poder usar as notas das duas primeiras empresas e usou as de vinho. Eu nem tinha conhecimento dessas notas, só fui ver agora em outubro depois de saber das denúncias.
Quanto às conversas gravadas, Koch disse que optou por tratá-las apenas no âmbito interno para "proteger e preservar a federação". O advogado Ricardo Breier promete entregar nesta terça-feira o material à 17ª DP para a devida investigação.
Questionado sobre as revelações de Koch, o delegado Juliano explicou:
— Recebemos notícia-crime sobre desvios que teriam sido praticados pelo presidente e estamos trabalhando nesse sentido. Se houve extorsão ou não, isso não torna legal os desvios praticados pelo presidente. O que vamos fazer é instaurar um inquérito para apurar essa extorsão ou encaminhar para a 1ª DP apurar, já que a ocorrência da extorsão foi feita lá.
Trecho da conversa que teria como interlocutores Moacir Lodi e Fernando Palaoro:
Lodi — Tu foi vice-presidente 12 anos, ficou junto, viu todos esses erros, não consigo te entender, tu também vai ficar com problema, Fernando, pense bem.
Palaoro — Posso ficar com problema, sim.
Lodi — Se tu denunciar, mas tu tava sabendo de tudo isso.
Palaoro — Documento que eu assinei, tenho certeza que estão todos eles na legalidade.
Lodi — Os documentos são as atas.
Palaoro — Encontra alguma ata que eu autorizei ou avalizei que fosse feitos pagamentos da forma que são feitos.
Lodi — Isso também ninguém assinou.
Palaoro — É decisão tomada, eu dei um prazo. Pelo que tu tá me ligando, tu será o interlocutor.
Lodi — Sim, o presidente me pediu.
Palaoro — Estou totalmente decidido, é só questão de eu saber de vocês se há o interesse ou não.
Lodi — Tu pode me responder uma pergunta: teu interesse tu pede R$ 500 mil para tu não falar nada, é isso?
Palaoro — Exatamente.
Lodi — Mas o que garante esses R$ 500 mil, vamos dar o exemplo que ele (presidente) tivesse (o dinheiro). Ah, vou dar minha palavra?!
Palaoro — Não tenho como dar garantia, a única coisa que te digo é assim: eu tô sumindo, tô indo para a Europa, tenho cidadania italiana, e vocês terão o prazer de nunca mais ouvir falar do Fernando Luis Palaoro.
Contrapontos
O que diz Fernando Palaoro
"Como a polícia está apurando a veracidade das denúncias, só vou me pronunciar no momento oportuno."
O que diz Moacir Lodi
"A fim de não atrapalhar a investigação da autoridade policial acerca dos supostos desvios praticados pelo presidente Vitor, não irei me manifestar neste momento."