Ao acompanhar as buscas da Polícia Civil na sede da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL), o primeiro diretor financeiro, Moacir Lodi, informou que, desde 2014, nunca teve acesso a pagamentos e às contas da entidade.
Lodi contou em entrevista a GaúchaZH que, quando assumiu o cargo, o presidente da federação, Vitor Augusto Koch, lhe disse que "era assim que funcionava". Diante da afirmação de Koch, ele afirma que não quis fazer questionamentos sobre as contas, para evitar constrangimentos.
A Operação Lojista, desencadeada nesta sexta-feira (29) pela 17ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, apura suposto esquema de desvios que podem chegar a R$ 10 milhões e que teria sido orquestrado por Kock, que comanda a entidade há 13 anos. Ele e outras quatro pessoas foram indiciadas e tiveram os bens bloqueados por ordem judicial. A polícia pediu a prisão de Koch e o afastamento dele da presidência da entidade. Mas a Justiça negou as solicitações.
Em relação à saída temporária de Koch da federação , o argumento da Justiça foi de que se trata de entidade privada e que o afastamento depende de um procedimento administrativo.
Durante mais de três horas de buscas, policiais reuniram cerca de 90 caixas de documentos, além de computadores. Todo material foi apreendido e será analisado na investigação.
A apuração de suspeitas de desvios começou a partir de denúncias feitas por Fernando Paloro, um dos vice-presidentes da FCDL. Ele disse que, ao suspeitar de irregularidades, procurou outros membros da direção, mas não teve apoio para levar o assunto adiante. Ele então entregou um dossiê ao Ministério Público, que pediu investigação para a polícia.
— Depois que vimos que as denúncias do Palaoro tinham fundamento e que o presidente não respondia a contento, fizemos denúncia ao Conselho de Ética. Mas ele manda em tudo, trocou quatro dos seis conselheiros e ficou difícil a apuração. Como ele não me dava acesso a nada, com base no que está previsto no estatuto, fui ao Banrisul pedir acesso a uma conta, mas foi negado sob o argumento de que era assim há muitos anos, ou seja, só o presidente assinava movimentações e tinha acesso. Tivemos que notificar o Banco Central para conseguir acesso. E então percebemos irregularidades — disse Lodi.
O primeiro vice-presidente, Jorge Prestes Lopes, também admitiu que, quando Palaoro apurou as primeiras suspeitas, não acreditou.
— Nós não acreditamos mesmo. Mas depois vimos várias evidências que demonstraram situações graves. Tem um membro do Conselho Fiscal que tem uma agência de turismo que recebe mensalmente pagamentos. Queremos saber que serviço presta, pois acreditamos ser compra de apoio para aprovar contas irregularidades. Também depois que as suspeitas começaram a ser questionadas, o presidente tentou sacar mais de R$ 300 mil das contas da federação — contou Lopes.
Membros da direção da federação estão preocupados com os rumos da entidade. Eles esperavam que a Justiça afastasse Koch, cujo mandato tem validade até o final de 2020.
— Um procedimento interno terá que seguir todo um rito e depende do chamado de uma assembleia, que teria que ser feita pelo presidente — diz Lopes.