Provocada por ataques a instalações na Arábia Saudita, a alta na cotação do petróleo deve representar teste de fogo à política de preços da Petrobras. Isso tende a ocorrer porque, no momento de definir os valores dos combustíveis em suas refinarias, a estatal leva em conta a variação da commodity no mercado internacional.
Ou seja, a turbulência tem potencial para aditivar os preços de itens como gasolina e óleo diesel no Brasil. Apesar da perspectiva negativa para os consumidores, o petróleo em alta pode aumentar a arrecadação do governo federal e de Estados produtores por meio de impostos e de royalties – valores pagos por empresas para terem direito à exploração.
– Nenhum governo gosta de aumento nos preços dos combustíveis. Aqui no Brasil, por exemplo, isso foi visto durante as discussões sobre o diesel. Com a disparada do petróleo, veremos em que medida será confirmada ou não a autonomia da Petrobras para definir os valores nas refinarias – pontua o economista Maurício Canêdo, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Após os ataques contra as instalações da estatal Saudi Aramco, no sábado (14), a cotação da commodity saltou no domingo (15). Nesta segunda-feira (16), manteve-se em alta. Ao final do dia, o barril do tipo Brent para novembro subiu 14,6%, a US$ 69,02.
A situação também repercutiu na bolsa de valores de São Paulo, que registrou leve avanço de 0,17%, a 103.680 pontos, influenciado pela Petrobras. Por causa do aumento no petróleo, a estatal teve valorização de 4,52% nas ações ordinárias (com direito a voto) e de 4,39% nas preferenciais. No sentido contrário, empresas aéreas registraram as principais quedas, já que a commodity impacta os custos de operação do setor.
A área atingida pelos ataques no Oriente Médio responde por cerca de 5% da produção mundial. Segundo Canêdo, caso a commodity continue em elevação, e a Petrobras siga sua política de preços, a alta deve ser sentida pelos brasileiros na hora de abastecer, mas a magnitude do possível aumento é incerta.
– Ainda é difícil saber de quanto será o impacto e quando chegará ao Brasil. Se o avanço no preço do petróleo persistir, a Petrobras tende a repassá-lo às refinarias. Esse seria o principal efeito – frisa.
Presidente do Sulpetro, que representa os postos de combustíveis gaúchos, João Carlos Dal'Aqua afirma que, se a tensão internacional permanecer, será "inevitável" o registro de "algum ajuste" nos valores cobrados nas bombas. Até o momento, diz não ter informações de elevação nos preços de gasolina e diesel no Rio Grande do Sul.
– As distribuidoras ainda não passaram nenhuma orientação aos postos. Os ataques na Arábia Saudita são uma prova à política de preços da Petrobras, a exemplo da greve dos caminhoneiros no ano passado. A diferença é que o fato agora não está na nossa mão. É um grande teste com componente externo – observa Dal'Aqua.
Gasolina em baixa nas últimas semanas
O preço da gasolina vem perdendo fôlego no Estado, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na semana passada, o valor médio do litro nos postos gaúchos caiu para R$ 4,33. A marca é a menor em 27 semanas. Ou seja, desde março.
O diesel teve trajetória inversa. Na semana passada, o preço médio no Rio Grande do Sul subiu para R$ 3,477, o maior em sete semanas – ou desde o fim de julho.
– O petróleo subindo gera impactos. A questão é saber se o estresse será recorrente ou resolvido logo. Em alguma medida, a alta não é tão ruim assim para o Brasil porque somos exportadores – pontua o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito.