A comemoração dos 40 anos da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) foi marcada por uma sessão especial no Senado, nesta quinta-feira (15). Acompanhada por representantes de empresas de comunicação de todo o país, a homenagem foi pautada pela defesa da valorização da imprensa profissional, o combate à desinformação e a busca de alternativas sustentáveis para o setor em um cenário de crescimento das mídias digitais.
Ao defender a liberdade de atuação dos profissionais de imprensa, o presidente da ANJ e vice-presidente Editorial e Institucional do Grupo RBS, Marcelo Rech, alertou para a necessidade de ações contra a divulgação deliberada de informações falsas, impulsionadas por aplicativos de mensagens e redes sociais. Ainda assim, fez uma ressalva:
— Vamos aproveitar essa sessão para falar do contraveneno para a desinformação e a polarização. O antídoto não é e nunca será o controle oficial sobre conteúdos. O antídoto mais eficaz é a valorização da comunicação profissional, formada por veículos em torno de princípios e valores jornalísticos como os jornais.
Rech listou países onde há uso de instrumentos oficiais para cercear o trabalho da imprensa, como Turquia, Hungria e Rússia, e pontuou que, aos olhos internacionais, o Brasil começa a ingressar no rol de países com governos que usam a estrutura do Estado “para retaliar veículos e intimidar a imprensa”.
Como exemplo, citou a Medida Provisória 892, editada neste mês pelo presidente Jair Bolsonaro, que cancelou a obrigatoriedade de empresas publicarem balanços em jornais, apesar de uma lei sancionada neste ano definir regras de transição da medida, visando a não penalizar as companhias de mídia.
A vice-presidente de Produto e Operação do Grupo RBS, Andiara Petterle, avaliou que, além de medidas governamentais que impõem dificuldades à atividade jornalística, é preciso discutir o papel que o duopólio virtual, integrado por Google e Facebook, exerce no mercado de comunicação:
— A forma mais fácil de matar a democracia hoje é matando a imprensa na origem, não por uma decisão autoritária, ditatorial, mas por condições econômicas que inviabilizem a atividade do jornalismo profissional. É importante iniciar esse discurso aqui no Senado. Há muitíssimo a ser feito para que a gente continue podendo exercer o jornalismo independente e profissional.
Proponente da homenagem, o senador Lasier Martins (Pode-RS) exaltou a atuação da ANJ em um dos pilares da comunicação social: a defesa da democracia e liberdade da população. Ainda salientou a busca de alternativas da entidade, através de estudos e ações, para manter a estrutura da saúde financeira dos jornais frente ao avanço do meio digital e à gradual migração da publicidade para o ambiente virtual.
— A ANJ, integrada por cem associados, 90% do público-leitor de jornais no Brasil, em todas as plataformas, merece o nosso irrestrito apoio. Em suas quatro décadas, a ANJ se tornou referência aos brasileiros, pela defesa e promoção da democracia, pela liberdade de imprensa e difusão das melhores práticas jornalísticas — afirmou Lasier.
A ANJ foi fundada em 17 de agosto de 1979. Atualmente, a entidade é integrada por 94 associados, que representam cerca de 90% do público leitor de jornais no Brasil, nos meios impresso e digital.
Menções:
Presidente do Conselho Executivo das Normas Padrão (Cenp), Caio Barsotti.
“Nunca a verdade foi tão importante, seja no fato notícia, seja no fato publicitário, que são guias para o mesmo enredo, no que fazemos, consumimos e desejamos. A ANJ tem história exemplar em juntar editores na discussão sobre o que o tempo indica como essencial na atividade que constrói a vida narrada e registrada.”
Presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), Rafael Soriano.
“É impossível manter o processo democrático sem a existência de uma imprensa livre, defendida dia a dia com coragem, independência e a pluralidade, como vem sendo feito pela ANJ e seus associados, cuja missão é garantir o sagrado direito de acesso a melhor informação. O local desta comemoração, o plenário do Senado, não poderia ser melhor. As trajetórias dos jornais brasileiros e do Congresso Nacional, a casa do povo, se entrelaçam no processo de amadurecimento da democracia do país.”
Presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), Paulo Tonet Camargo.
“Esta entidade internacionalmente reconhecida tem se dedicado à defesa da liberdade de imprensa e de expressão, direito consolidado no Brasil, mas que exige de toda a sociedade uma constante vigilância (...) Nunca é demais repetir que nenhum estado, nem ninguém, deve ter o poder de decidir sobre o que a sociedade deve ou não saber. A população deve saber rigorosamente tudo e formar seu próprio juízo.”
Secretária de Relações Federativas e Internacionais do RS e ex-senadora, Ana Amélia Lemos (PP-RS).
“Essa reverência agora tem tudo a ver com liberdade de expressão e responsabilidade nos meios de comunicação (...) Nossa Constituição é de 1988, ela é antiga, mas foi mudada muitas vezes. Deveria ser mais simples para reforçar essa convicção da relevância que tem a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa nos nossos valores democráticos. Por pior que seja uma democracia, ela ainda é melhor do que qualquer regime autoritário."