Após uma tentativa fracassada de negociação entre líderes sobre a votação da reforma da Previdência, o governo afirmou que até deputados da oposição vão votar a favor das mudanças na aposentadoria, enquanto os partidos contrários veem blefe em relação ao suposto apoio que o texto teria na Câmara dos Deputados.
O governo precisa de pelo menos 308 votos a favor em dois turnos no plenário da Casa para que a proposta siga para apreciação no Senado, onde terá que ser aprovada por, no mínimo, 49 senadores.
A primeira tentativa de conciliar posições terminou sem acordo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), convocou para 10h os líderes do governo e da oposição para tentar negociar o debate no plenário da Casa. Os partidos contrários à reforma não concordaram em abrir mão da obstrução e de apresentar requerimentos, e uma nova reunião foi marcada para 14h.
Ao deixar o encontro, a líder do governo, Joice Hasselmann (PSL-SP), disse que até alguns deputados da oposição devem votar a favor das mudanças:
—A oposição que aguarde. Vai ser uma surpresa até para a oposição. Aliás, teremos votos até da oposição.
Líder do governo acredita que placar será o mesmo do impeachment
Na conta da deputada, que foi "baixa" e que conta com "traição", Joice diz que o governo teria 342 votos favoráveis, o mesmo que definiu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff na Câmara.
— Não é um número bonito? Eu lembrei desse número, que foi um número feliz para o país, e a gente vai pagar o jantar da vitória da Previdência com esse bolão aí — complementou, em referência ao bolão realizado pelo DEM sobre o placar da votação no plenário da Câmara.
A parlamentar minimizou a falta de acordo na primeira reunião.
— Não faz diferença. Ou vai no acordo com um debate longo e a votação sem obstrução ou com obstrução reduzida, ou vem obstrução e a gente vence a obstrução e vota —disse.
A líder do governo calcula de três a quatro horas de obstrução pela oposição.
Joice diz que partidos como PSD, DEM e Podemos, que apresentaram destaques na comissão especial, não farão o mesmo no plenário. No entanto, ela avalia que serão apresentados destaques sobre policiais e professores. Assim como Maia, a parlamentar avalia que há a possibilidade de votar os dois turnos na Câmara ainda nesta semana.
A oposição, no entanto, aposta em um blefe do Planalto.
— O governo propôs que nós retirássemos os nossos requerimentos. Nós não aceitamos a proposta do governo, vamos fazer uma reunião da oposição e dar uma resposta sobre qual procedimento nós propomos — afirmou o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).
— O próprio governo pediu o adiamento de votação. Nossa percepção foi muito clara no colégio de líderes que o governo está blefando, não tem os votos, e o próprio governo queria jogar a votação para amanhã, talvez para apostar na liberação de emendas e tentar conquistar, de uma forma irregular e ilícita, os votos que ainda faltam para aprovar essa reforma contra o povo — completou.
O deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), líder do PP, vê chances de votar o texto-base.
— Nós vamos fazer um debate qualificado sobre a proposta, sobre o texto aprovado na comissão, e a partir dessa discussão, se iniciar no dia de amanhã, com apenas dois requerimentos de obstrução. Vencidos esses dois requerimentos, iniciar a votação do texto já amanhã — projetou.
O parlamentar avalia que é mais saudável para o país, em vez de a oposição tentar obstruir a votação, debater o tema no plenário.