Por unanimidade, o Banco Central (BC) manteve nesta quarta-feira (6) a taxa básica de juro da economia nacional em 6,5% ao ano. Com a decisão, confirmada após reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic permanece, pela sétima vez consecutiva, no menor nível já registrado no país. O encontro foi o primeiro do colegiado em 2019 e, portanto, durante o governo Jair Bolsonaro.
A decisão marca a saída de Ilan Goldfajn da presidência do BC. O economista havia sido indicado ao cargo, em 2016, pelo então presidente Michel Temer. Para o lugar de Ilan, Bolsonaro designou Roberto Campos Neto, que deverá passar por sabatina no Senado neste mês — a chancela na Casa é necessária para a nomeação do ex-executivo do banco Santander.
Sócio-diretor da Ativa Investimentos, Arnaldo Curvello explica que a decisão do BC de manter a Selic em 6,5% já era aguardada por analistas pelo fato de as expectativas de inflação continuarem em nível confortável. A projeção do mercado financeiro aponta para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 3,94% ao final de 2019, segundo o boletim Focus, do Banco Central. Se a estimativa for confirmada, a inflação terminará o ano dentro do intervalo da meta perseguida pelo BC.
A expectativa do mercado financeiro é de que a Selic permanecerá em 6,5% ao longo de 2019, mas Curvello frisa que o transcorrer das negociações em torno da reforma da Previdência poderá modificar esse cenário. A próxima reunião do Copom ocorrerá em março. Se o governo promover mudanças na Previdência, o juro poderá ficar ainda mais baixo, diz o analista, abrindo espaço para mais investimentos.
— Por outro lado, a eventual frustração com a reforma poderá causar descontentamento no mercado financeiro, com alta no dólar e, consequentemente, impactos na inflação. Esse movimento poderia resultar em elevação no juro — observa Curvello.
Em comunicado divulgado após a reunião desta quarta-feira, o Copom afirmou que a economia brasileira apresenta "recuperação gradual" e destacou que o cenário externo permanece "desafiador, mas com alguma redução e alteração do perfil de riscos". O comitê ainda sugeriu que "reformas e ajustes" são necessários para a "manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos" e a retomada "sustentável" do país depois da recessão.
Economista-chefe da gestora Infinity Asset, Jason Vieira acrescenta que seria "difícil" o BC promover mudança na Selic às vésperas da troca de comando na instituição. Para o analista, Campos Neto tende a conduzir a política monetária do país com atuação similar à de Ilan e discurso favorável ao controle das contas públicas.
— O cenário é de inflação baixa e atividade econômica ainda fraca. Isso por si só estimula a manutenção do juro em patamar baixo. É muito provável a permanência da Selic nesse nível ao longo do ano — menciona Vieira.
A taxa é uma das referências para as linhas de crédito oferecidas aos consumidores brasileiros. Ao mantê-la em nível reduzido, o BC busca tornar empréstimos mais atrativos e, consequentemente, estimular o consumo e os investimentos de empresas após a recessão. Ao elevá-la, a instituição visa a controlar a inflação, incentivando a poupança.