O economista Roberto Campos Neto foi indicado para presidente do Banco Central no governo de Jair Bolsonaro. Atualmente executivo do banco Santander, responsável pela tesouraria da instituição, irá substituir Ilan Goldfajn, que contava com a simpatia do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, mas que não continuará no cargo a partir do próximo ano.
Nas últimas semanas, Campos passou a frequentar o local onde está reunida a equipe de transição, em Brasília. Para assumir o posto, ele terá que responder a sabatina da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e ter seu nome referendado pelo plenário da Casa.
Perfil
Roberto Campos de Oliveira Neto tem 49 anos e é economista com especialização em Economia com ênfase em Finanças, pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Atualmente ocupa a direção na área de Tesouraria do Banco Santander, tendo ingressado na instituição em 2000.
Na companhia, atuou como chefe da área de Renda Fixa Internacional, do setor de Trending e de Proprietária de Tesouraria e Formador de Mercado Regional & Internacional. Também tem passagens pelo banco Bozano Simonsen e pela gestora de fundos de investimentos Claritas.
Ele é neto do também economista Roberto Campos, defensor do liberalismo e da aproximação com os Estados Unidos. Além de atuar ao lado do presidente Getúlio Vargas, presidiu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo de Juscelino Kubitschek e foi ministro do Planejamento na gestão de Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura militar.
"Roberto Campos Neto é um profissional com sólida formação e profundo conhecimento da área econômica. Desejamos a ele muito êxito no desempenho de sua nova função, tão importante para o desenvolvimento do País", afirmou o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, em nota divulgada à imprensa.
Autonomia
A mudança no comando do Banco Central ocorre no momento em que é discutida no Congresso Nacional a autonomia da instituição. De acordo com fontes ligadas à equipe de transição de Bolsonaro, haverá empenho para aprovar a proposta ainda em 2018. A votação do texto depende do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), responsável pela pauta das sessões da Casa.
Uma das mudanças destacadas no projeto é a adoção de mandato para o presidente do Banco Central O presidente e os oito diretores teriam mandatos de quatro anos, com possibilidade de renovação por uma única vez, por mais quatro anos. A cada dois anos do mandato presidencial, dois diretores poderiam ser trocados.
Saída de Ilan Goldfajn
Na manhã desta quinta-feira (15), o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, avisou à equipe de transição que não tinha o desejo de permanecer no comando da autoridade monetária. A interlocutores, Ilan afirmou que não aceitou o convite de ficar por motivos pessoais.
Na semana passada, fontes da equipe de transição disseram que sua permanência no BC dependia de "motivação pessoal" e que seu nome não estava descartado. Até então, não havia confirmação sobre um convite formal e direto a Ilan.
Guedes e o presidente eleito, Jair Bolsonaro, declararam em diversas ocasiões que tinham o desejo de manter o atual presidente do BC no cargo, mas também era de conhecimento público que eles chegaram a trabalhar com cinco opções para substituí-lo.
Ilan voltou na segunda-feira de uma viagem à Suíça, cumpriu agenda até ontem no Brasil e agora vai tirar férias até o dia 20 de novembro.
Em nota, Ilan elogiou a indicação de seu sucessor. O atual presidente afirmou que vai permanecer no cargo até que o Senado aprove o nome de Campos para a função. Ele atribuiu sua saída do governo a "motivos pessoais" e deseja "pleno sucesso" ao próximo governo.
"Profissional experiente e reconhecido, com ampla visão sobre o sistema financeiro e a economia nacional e internacional, Roberto Campos Neto conta com seu apoio e sua confiança no futuro trabalho à frente do BC", destaca nota assinada pela assessoria da instituição.
Na nota, Goldfajn ainda manifesta apoio ao projeto de autonomia do Banco Central, que ajudou a elaborar, afirmando que atual gestão está empenhada na aprovação da proposta.
Confira a nota na íntegra:
O Presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, felicita o governo eleito pela indicação, ao Senado Federal, do economista Roberto Campos Neto para sucedê-lo no cargo. Profissional experiente e reconhecido, com ampla visão sobre o sistema financeiro e a economia nacional e internacional, Roberto Campos Neto conta com seu apoio e sua confiança no futuro trabalho à frente do BC.
Ilan Goldfajn também ressalta as sinalizações recentes sobre política econômica feitas pela futura administração federal e as importantes indicações a cargos públicos na área, que visam o crescimento, com inflação baixa e estável.
O presidente Goldfajn adotará todas as providências para garantir a melhor transição no comando da autoridade monetária e, atendendo a pedido do novo governo, permanecerá no cargo até que o Senado aprecie o nome de Roberto Campos Neto, nos próximos meses.
A atual Diretoria Colegiada, com membros oriundos do setor privado e servidores de carreira, permanecerá à disposição do novo presidente do BC, contribuindo para a continuidade e a normalidade dessa transição.
Ilan Goldfajn também manifesta seu apoio ao projeto de autonomia do BC de autoria da Câmara dos Deputados e continuará trabalhando junto com os parlamentares para aprovar o texto ainda em 2018. A eventual aprovação da lei, com mandatos fixos e intercalados dos membros da sua diretoria (Presidente e Diretores), permitirá um futuro onde as transições do BC e do governo ocorram em momentos distintos, com conhecidos benefícios para a economia.
A atual gestão do BC tem se empenhado na aprovação da lei de autonomia com mandatos de tempo fixos, mas sempre com o intuito de valer para a próxima Diretoria.
Por fim, o presidente Goldfajn informa que seu afastamento do cargo se dá por motivos pessoais e agradece o apoio recebido dos integrantes do próximo governo, a quem deseja pleno sucesso.