Mesmo confiante em crescimento mais robusto da economia brasileira em 2019, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) aponta uma série de desafios à frente para que o avanço do país seja sustentável. Fazer privatizações, reformar a Previdência, melhorar a infraestrutura por meio de concessões e dar um salto na produtividade da mão de obra são algumas das lições de casa essenciais, avaliou nesta quinta-feira (6) o presidente da entidade, Gedeão Pereira, em evento para avaliar 2018 e projetar o próximo ano. Para o dirigente, o resultado das eleições devolveu otimismo, mas são necessárias medidas para que as esperanças se concretizem.
– Isso está enchendo os empresários e empreendedores de todos os setores da economia de boas expectativas, mas, agora, temos de mexer profundamente na estrutura do Estado brasileiro – disse Gedeão, que apontou ainda a necessidade de combater privilégios no serviço público.
Para a entidade, o Brasil deve encerrar 2018 com alta de 1,48% no Produto Interno Bruto (PIB) e acelerar para 2,87% em 2019. No caso do Rio Grande do Sul, a projeção da entidade é de avanço de 1,8% na atividade neste ano e 2,6%, no próximo.
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, observou que, a partir dos avanços ainda tímidos na economia desde 2016, o Brasil saiu do fundo do poço, mas ainda não está fora dele. Ainda resta longo caminho até recuperar as perdas acumuladas a partir de 2015, destacou.
– A economia brasileira é uma mola comprimida. Precisamos de regras mais claras e ambiente menos incerto. Quando essa mola for solta, vamos crescer de forma rápida – espera Luz.
Em relação à agropecuária, a Farsul calcula que, no país, a alta será de 0,7% em 2018, passando para 2,1% no ano que vem. No Estado, o campo deve ter pequena retração de 0,5%, para crescer 2,5% em 2019.
A principal preocupação da Farsul para o próximo ano é a rentabilidade da safra. As lavouras do ciclo 2018/2019 foram plantadas com o dólar alto devido a tensões como greve dos caminhoneiros, eleições, subida do juro nos EUA e guerra comercial entre Washington e Pequim. Assim, o receio é quando chegar o momento de colher e comercializar, o câmbio mais baixo jogue contra.
– O que sabemos é que plantamos a safra mais cara da história. O câmbio é o grande temor para 2019 – reforça Luz, ressaltando que a maior dor de cabeça não é a cotação em si, mas a volatilidade da moeda americana.
Apesar dos custos altos, o valor bruto da produção de grãos no Estado deve crescer, puxado principalmente pelo volume maior a ser colhido. A Farsul projeta que a comercialização pode render R$ 32,759 bilhões, 1,5% acima de 2018. Apenas a soja deve contribuir com R$ 21,713 bilhões, 1,7% maior ante 2018. A safra gaúcha, projeta a federação, deve chegar a 34,68 milhões de toneladas, 3,4% acima da anterior.
Na pecuária, o quadro também segue preocupante devido aos baixos preços do boi gordo e do leite. No caso da criação de corte, é resultado da queda do consumo interno e baixo acesso a mercados externo pelos frigoríficos do Estado.
No leite, as dificuldades levaram a uma concentração na atividade. Apesar do crescimento da captação e do valor bruto da produção neste ano, a crise dos preços fez o Rio Grande do Sul perder no ano passado cerca de um terço dos produtores.
Em relação ao novo governo gaúcho, Gedeão sustenta que a secretaria que mais merece atenção da entidade não é a da Agricultura, e sim a do Meio Ambiente, devido à necessidade de desburocratização e simplificação de regras.