Pressionada pelo aumento no preço do diesel, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciou, na noite de sábado (1º), o reajuste na tabela do frete em uma tentativa de frear os boatos de uma nova greve de caminhoneiros. Pelo WhatsApp, os rumores irromperam ao longo do fim de semana e levaram a categoria a contestá-los.
Na sexta-feira (31), a Petrobras comunicou alta de 13% no preço médio do combustível, congelado desde junho. O encarecimento ativou um dos principais pontos da lei do frete - o repasse à tabela quando o diesel subir mais de 10%. Às pressas, a autarquia confirmou o aumentou e abrandou os ânimos dos motoristas mais exaltados.
— Não tem clima. Está todo mundo pisando em ovos, até porque a própria tabela do frete ainda está em discussão — avalia Franck Woodhead, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística (Setcergs).
Os rumores começaram após o compartilhamento de uma nota atribuída ao grupo de WhatsApp União dos Caminhoneiros do Brasil sobre o início de paralisação depois do feriado de 7 de setembro. No domingo, outro grupo com o mesmo nome divulgou comunicado negando responsabilidade pelo documento. "Não compactuamos com essa possível paralisação, estamos alinhados com os líderes de outros grupos e com os representantes da categoria", afirma o texto.
Integrante do movimento nacional, o motorista Bruno Tagliari assegura que a categoria quer evitar uma nova greve. Nos 28 grupos de caminhoneiros autônomos que participa, as principais lideranças têm negado o boato.
— Não existe nenhuma possibilidade, apenas alguns que largam inverdades nos grupos para criar o caos — garante o caminhoneiro de São Nicolau.
Os rumores também surpreenderam o fluminense Nelson de Carvalho Júnior, de Barra Mansa. Porta-voz da categoria, participa de reuniões em Brasília desde maio e considera que o governo federal está cumprindo o acordo com o congelamento do preço do diesel durante 60 dias e a lei do piso mínimo do frete.
— Hoje, sabemos que não temos motivo para greve. Tudo o que foi acordado, o governo está atendendo. Neste momento, desaprovamos greve, nem vamos aderir — contemporiza Júnior.
Pelo WhatsApp, o caminhoneiro distribuiu uma imagem com o timbre "nota falsa" sobre o documento que anunciou a suposta paralisação.
— É boato criado por quem gosta de baderna — confirma o motorista Rogério da Silveira, de São Miguel das Missões.
De acordo com a categoria, o descontentamento está com as empresas que vêm se recusando a praticar os valores previstos na tabela. Por isso, articulam um manifestação em frente à sede da ANTT, em Brasília.
— Hoje, a maioria não quer a paralisação, mas sabemos que é um campo minado porque muitos estão inconformados pelo não pagamento do piso mínimo pelas transportadoras e pela não fiscalização da ANTT — diz o caminhoneiro baiano Alberto Fernandes, líder da categoria.
Para especialistas, porém, a medida é impraticável.
— Do ponto de vista econômico, essa tabela está errada. Quando se regula um setor, o máximo que se faz é estabelecer o valor máximo para evitar abusos. Foi um grande equívoco de um governo fragilizado — analisa Luiz Afonso Senna, professor do Departamento de Engenharia de Produção e Transporte da UFRGS.