Resultado da prioridade da Petrobras em investir na extração de petróleo em detrimento da produção de derivados, o refino cai há três anos consecutivos no país e há quatro no Estado. A tendência, que se acentuou em 2017 e segue em 2018, leva à produção menor de combustíveis e aumenta a dependência das importações. Em meio ao debate acalorado sobre a política de preços da empresa, os petroleiros sustentam que o quadro faz parte de uma estratégia para facilitar a privatização de parte dos negócios da estatal e beneficiar empresas estrangeiras. Para a Petrobras, no entanto, seria apenas a busca por uma melhor rentabilidade dos seus negócios.
No primeiro quadrimestre, a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, colocou no mercado o equivalente a 1 bilhão de litros de diesel, o menor volume para o período desde 2005. No caso da gasolina A (pura, sem adição de etanol – a vendida nos postos é do tipo C, com mistura de 27% de etanol), foram 661 milhões de litros, quantidade superior apenas ao intervalo de janeiro a abril de 2011, mostram os dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Em 2017, a produção de diesel na Refap foi de 3,7 bilhões de litros, 30% abaixo do pico observado em 2013. Na gasolina, foram 2,2 bilhões de litros no ano passado, 24% aquém do auge, em 2014. Enquanto isso, a importação bate recordes. Em 2017, as compras de diesel do Exterior cresceram 63% sobre o ano anterior e as de gasolina subiram 53%. Ao mesmo tempo, no embalo da valorização no mercado internacional, o país aumenta a exportação de petróleo cru, mais rentável para a estatal.
Especialista no tema, a pesquisadora Fernanda Delgado, da FGV Energia, avalia que a principal razão é a defasagem das plantas da Petrobras, que hoje detém 98% do refino no país.
– As refinarias tiveram muito pouco investimento em manutenção e avanço tecnológico nos últimos anos. Estão ultrapassadas. A Petrobras preferiu colocar dinheiro para desenvolver o pré-sal, onde entendeu que haveria maior retorno. Então, há esse descasamento porque o parque de refino não atende ao que precisamos de derivados – diz Fernanda.
Para piorar, enquanto investiu pouco nas refinarias existentes, a Petrobras se jogou em projetos de novas plantas no país, como Abreu e Lima, em Pernambuco, e Comperj, no Rio, que, superfaturadas, foram erguidas a custos antieconômicos ou sequer saíram do papel.
– As refinarias atuais são antigas, não são competitivas. E os outros projetos são inexequíveis, caros, ruins e complicados, como o Comperj. Em Pernambuco, se gastou uma fortuna para uma planta com baixa produtividade. É um problema – avalia Tereza Fernandez, sócia-diretora da MB Associados e responsável pelas análises setoriais da companhia.
Em meio à queda no refino e ao aumento das exportações de óleo cru, a mudança de política de preços de combustíveis da Petrobras, que passou a se balizar pelos valores internacionais, permitiu que as importações – tanto pela estatal quanto por outras empresas – abastecessem o mercado. Isso foi possível porque a Petrobras deixou de subsidiar o valor na bomba, o que inviabilizava a atuação de outros competidores.
O volume de petróleo refinado em todo o país no ano passado, de 101 bilhões de litros, foi o menor desde 2005. Com isso, a produção nacional de diesel também foi a menor desde 2007, e a de gasolina, desde 2011. Na Refap, foram 8,1 bilhões de litros de petróleo processados em 2017, acima apenas a 2006 nos últimos anos.
No final de maio, enquanto a Petrobras sofria uma série de críticas sobre sua atuação em meio à greve dos caminhoneiros, executivos gravaram vídeos direcionados a funcionários para defender a política da empresa. O gerente-executivo de logística da Área de Refino e Gás Natural, Cláudio Rogério Linassi Mastella, disse que haveria um limite para a operação das refinarias ser rentável. A partir deste “ponto ótimo”, as unidades começariam a gerar derivados que valeriam menos ou não teriam mercado nas proximidades, gerando custos de transporte.
Para analistas, venda de refinarias eleva concorrência
Com pouco interesse no refino, a Petrobras colocou à venda o controle (60%) de quatro refinarias no Brasil, uma delas a Refap. A medida, segundo especialistas, além de ajudar a estatal a levantar recursos para diminuir o seu endividamento, pode ter reflexos positivos para o mercado.
– A Petrobras tem o monopólio. É sempre interessante ter concorrência por trazer disputa de preços e melhorar a qualidade de refino. E a Petrobras pode se focar onde ela é melhor, a exploração e a produção de petróleo – entende o economista Vinícius Freitas, da Ativa Investimentos.
A pesquisadora Fernanda Delgado, da FGV Energia, tem pensamento semelhante:
– Com várias empresas fazendo refino, poderia haver uma guerra de preços.
Apesar de o movimento da Petrobras ser visto como positivo, a iniciativa do governo federal de criar subsídio aos preços do diesel após a greve dos caminhoneiros foi interpretada como espécie de intervenção no mercado de combustíveis, um sinal que pode ser visto como negativo por interessados e colocar os candidatos à aquisição das refinarias em posição mais cautelosa.