O Banrisul anunciou nesta sexta-feira (23), por meio de fato relevante, que estuda a venda de ações de sua operação de cartões. A iniciativa foi elogiada por analistas que acompanham o comportamento do banco. Conforme os especialistas, a possível abertura de capital da Banrisul Cartões poderá trazer benefícios à instituição por conta do bom humor que ronda o mercado financeiro nos últimos meses. A proposta de negociação envolve os papéis preferenciais (sem direito a voto em assembleias) da subsidiária. As ações ordinárias (com direito a voto) não seriam vendidas.
Em comunicado direcionado a investidores, a instituição destacou os recentes resultados positivos da empresa. Em 2017, o lucro líquido da Banrisul Cartões subiu 7,7% em relação ao ano anterior, para R$ 222,1 milhões. O banco ainda acrescentou que há "potencial de crescimento" no setor de meios de pagamento.
– O cenário está favorável para a venda de ativos no Brasil. O banco também olha para esse aspecto – observa o analista Phillip Soares, da Ativa Investimentos.
A abertura de capital, aprovada pelo conselho fiscal do Banrisul, ainda precisa passar por assembleia de acionistas, agendada para 10 de abril. Segundo a instituição, o processo englobaria a redução do capital social do banco em R$ 353,2 milhões. Isso significaria que o Banrisul repassaria a quantia aos seus acionistas. Hoje, 57% do capital do Banrisul pertence ao seu controlador, o governo do Estado.
A venda de ações da empresa de cartões é positiva. Mas o banco, ao abrir o capital, encontrará um mercado muito competitivo
WAGNER SALAVERRY
Sócio-diretor da gestora Quantitas
– É claro que investidores do mercado não sabiam que o anúncio ocorreria. Apesar disso, não chega a surpreender. Nos últimos meses, o Banrisul vinha falando sobre o desempenho positivo da operação de cartões – afirma o analista Wagner Salaverry, sócio-diretor da gestora Quantitas.
A intenção de abrir o capital de sua subsidiária ocorre após a paralisação da negociação de parte das ações do banco. O adiamento havia sido confirmado em dezembro. Na época, o Banrisul alegou "condições desfavoráveis de mercado". A quantia que resultaria da venda seria usada para o pagamento da folha do funcionalismo estadual.
– A negociação da operação de cartões não deve substituir a anterior. É mais uma forma de o governo capturar dinheiro sem perder o controle do Banrisul – pontua Salaverry. – A venda de ações da empresa de cartões é positiva. Mas o banco, ao abrir o capital, encontrará um mercado muito competitivo nessa área – acrescenta.
O governo não tem votos para aprovar, na Assembleia, uma venda integral do banco. Por isso, tenta vendê-lo aos poucos.
PEDRO RUAS
Deputado estadual (PSOL)
Na oposição ao governo na Assembleia, o tom é de críticas ao anúncio. O deputado Pedro Ruas (PSOL) vê no plano intenção de negociar o Banrisul "aos poucos".
– O governo não tem votos para aprovar, na Assembleia, uma venda integral do banco. Por isso, tenta vendê-lo aos poucos. O governo é como um lenhador preguiçoso. Não quer sair de casa para cortar lenha. Então, começa a queimar todos os móveis e acaba morrendo de frio – compara.
Procurado por GaúchaZH, o Banrisul afirmou que nenhum porta-voz se manifestaria sobre o assunto e não respondeu a questionamentos enviados por e-mail.
As opções
-O Banrisul pode negociar os papéis da operação de cartões de maneira primária – quando são vendidos novos títulos – ou secundária – quando são repassadas ações já existentes.
-Em outubro de 2017, o governo estadual havia anunciado a intenção de vender 49% das ações ordinárias (com direito a voto) e 14,2% das preferenciais (sem direito a voto) que ainda detém de todo o Banrisul. Ficaria só com o essencial para manter o controle da instituição.