A reboque da indústria, Caxias do Sul foi, até fevereiro, a segunda cidade que mais gerou empregos formais no Estado e a oitava no país em 2018. Foram 3,3 mil postos com carteira assinada criados, 2,1 mil apenas nas fábricas, mostram dados do Ministério do Trabalho. Os números reforçam a percepção de começo de recuperação, após as demissões em massa durante o auge da crise e medidas de flexibilização de jornada, como férias coletivas.
Apenas as indústrias metalmecânicas eliminaram cerca de 21 mil postos entre agosto de 2013 e o final de 2017, apesar de o ano passado ter encerrado com o saldo de 61 contratações, levemente positivo, mas indicativo de reversão do ciclo de dispensas de mão de obra.
Parte dessa estatística, o desenhista-projetista Aliandro Pereira Lopes, 27 anos, foi demitido em julho de 2015 pela Marcopolo e chamado de volta pela empresa em agosto do ano passado, quando o mercado esboçava os primeiros sinais de recuperação. Neste meio tempo, viveu a angústia de tentar e não conseguir recolocação. Voltou para Pelotas, de onde é natural, buscou em vão emprego no polo naval de Rio Grande e acabou tendo de iniciar um negócio próprio.
— Sabíamos que isso iria ocorrer. Mas o pior é que, naquele momento, todo o mercado estava em colapso. Ninguém contratava — lembra Lopes.
Quando já estava conformado com a nova situação, veio a surpresa do contato da antiga empresa:
— Me ligaram em uma quarta-feira, na quinta resolvi todas as pendências de documentos e na sexta já estava aqui — recorda ele, que recomeçou com contrato temporário e, agora, foi efetivado.
Ainda na época da euforia, em julho de 2013, a Marcopolo tinha 9 mil trabalhadores apenas em Caxias. O fundo do poço foi maio do ano passado, com 5,9 mil empregados. Hoje, são 6,28 mil. O ritmo da fábrica vai subir no segundo trimestre, adianta o diretor-geral da empresa, Francisco Gomes Neto. Mas ainda há cautela para falar em mais contratações. Cerca de 400 funcionários em férias programadas retornam. Mais cem jovens que concluíram a escola de formação profissional da empresa, em fevereiro, serão absorvidos. Mão de obra treinada e pronta para arregaçar as mangas, os dispensados durante o período mais agudo da crise também são prioridade na Randon:
— Tivemos todo o cuidado de privilegiar quem estava aqui. Também contratamos bons profissionais da Guerra — ressalta o diretor da área de operações de montadoras da empresa, Alexandre Gazzi, referindo-se à concorrente que teve falência decretada em 2017.
Em 2013, a Randon chegou a ter 9,9 mil funcionários apenas na cidade. Ao final de 2016, o contingente caiu para 6,4 mil. No ano passado, com o cenário um pouco melhor, fechou em 6,8 mil. Agora, são 7,6 mil. O abastecedor de almoxarifado Alexandre Squinalli, 40 anos, foi demitido em julho de 2016. De porta em porta para largar currículos, ouvia apenas que as empresas não estavam contratando. Pelo contrário, o cenário era de cortes. Sobreviveu de bicos.
— Me sentia bem ruim. Até que o meu ex-gestor entrou em contato, disse que a situação estava melhorando e iriam fazer uma seleção, dando preferência para quem tinha experiência— conta Squinalli, que voltou à Randon no ano passado, mas ainda lamenta os vários ex-colegas que garante serem qualificados, mas que ainda não conseguiram emprego.
O operador de máquinas Vantuir José Bianchi, 40 anos, tem história semelhante. Foi dispensado em janeiro de 2016 e retornou em setembro do ano passado à Suspensys, joint venture da Randon com uma empresa americana.
— No começo, era uma angústia. Senti aquele baque. Mas eles disseram que, quando reabrissem as vagas, me trariam de volta — rememora Bianchi, satisfeito com a promessa cumprida.
A crise forçou a indústria de Caxias a rever processos internos. Como não há previsão de quando o mercado vai retornar de forma sustentável aos patamares de cinco anos atrás e as empresas correram para ampliar a produtividade, o recado é de que nem todos serão recontratados. Os reflexos se espalharam para todos os segmentos da economia de Caxias do Sul. Apesar do desempenho timidamente positivo das indústrias metalmecânicas, o estoque de empregos no município caiu em 2017 pelo quarto ano consecutivo. Em 2013, eram 183,1 mil pessoas com carteira assinada. Ao final do ano passado, 157,9 mil, com a destruição de 25 mil postos, número superior à população de mais de 400 municípios gaúchos.