A indústria está na raiz do derretimento da economia de Caxias do Sul, mas foi o comércio que teve o maior recuo acumulado na atividade. Foram quatro anos consecutivos de retração, um tombo de 43% de 2013 a 2016, até voltar a crescer 6,2% no ano passado. Apenas em 2015, a queda foi de 29%.
A empresária caxiense Marcia Costa, fundadora da rede de moda Drops de Menta, com quatro de suas 15 lojas na cidade, avalia que a recuperação das vendas será lenta. Para ela, o consumidor ficou calejado com a crise e o desemprego e se acostumou a comprar menos, valorizando produtos de maior qualidade e durabilidade, o que deve levar a um processo de retomada gradual e cautelosa.
— A indústria cresce logo, a partir da volta dos pedidos. Mas as pessoas que trabalham lá não passam a consumir o dobro de roupas. O mercado diminuiu e não vai voltar ao que era antes tão cedo — entende Marcia.
Ela diz que a sua rede não teve queda de faturamento no período, mas qualifica o esforço para manter as metas como "surreal".
— Em dois anos, criamos muito mais do que em 20. Pelo menos a crise serviu para remodelar a empresa — diz Marcia, que calcula ainda em 20% o percentual de enxugamento do quadro de funcionários no período recente.
Membro da quarta geração da família à frente da centenária loja Magnabosco, Pedro Horn Sehbe lembra que, em 2015 e 2016, viu a empresa ter uma grande queda no movimento e no faturamento, o que obrigou a série de ajustes internos para suportar a crise. O resultado veio no ano passado, quando a receita nominal deu salto de 29%, recuperando o patamar de 2014. Sehbe diz estar otimista para este ano. Prevê novo aumento da receita da ordem de 20%.
Há 103 anos localizada na esquina das ruas Sinimbu e Doutor Montauri, um dos pontos mais movimentados da cidade, a Magnabosco tem hoje a circulação diária de cerca de 2,1 mil pessoas pelos seus 4,5 mil metros quadrados, divididos em oito departamentos. Dois anos atrás eram cerca de 1,3 mil clientes, observa Sehbe, confiante em uma retomada rápida do comércio em Caxias.
— A cidade, em razão do perfil superindustrial, teve um baque muito grande. Mas creio que a recuperação também será rápida. A sensação é de que o pior passou. Estamos conseguindo desvincular a política da economia, apesar de a eleição ser sempre um risco, e a indústria dá sinais positivos claros — diz Sehbe.
Janeiro, último mês com indicadores disponíveis para a economia de Caxias, mostra retomada do comércio. A alta foi de 3,1% sobre igual período do ano passado.