Comprar passagens aéreas com a maior antecedência possível deve virar uma obsessão, se é que ainda não é, dos passageiros brasileiros nos próximos meses. Isso porque as companhias aéreas estão alertando que um item pesado na hora de compor a tarifa está decolando como nunca em 2018: o querosene de aviação (QAV). A tendência é de que esse custo acabe no bolso dos viajantes.
O querosene de aviação é responsável por quase um terço do preço do bilhete aéreo, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). E, no mês passado, o combustível alcançou o seu maior valor histórico pago pelas companhias: cerca de R$ 3,30, incluindo impostos. Trata-se do maior preço desde 2002, quando entrou em vigor a liberdade tarifária no Brasil. Nos últimos dois anos, a alta acumulada pelo querosene de aviação é de 82%.
Muito dessa alta tem a ver com a cotação do dólar nos últimos meses. Mas a política de formação de preços adotada atualmente é que estaria por trás do que as empresas consideram uma distorção nos valores: o governo federal aplica taxas como se a maior parte do QAV usados nas aeronaves fosse importado.
– A atual política de preços no Brasil é baseada em uma realidade de 30 anos atrás, quando 90% do combustível vinha do Exterior. Hoje, é o contrário. O nível de pressão do combustível sobre o preço da passagem está crítico – afirma o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz.
Impacto no bolso vai chegar
Segundo ele, os passageiros ainda não sentiram esse impacto de maneira mais pesada. Mas os efeitos já começam a entrar nas planilhas das companhias. O quanto isso deve significar no futuro, Sanovicz evita dizer. Cada empresa aérea, segundo ele, tem política própria de preços. Para tentar conter o repasse do combustível, a esperança da Abear e da Associação de Transporte Aéreo da América Latina e Caribe (Alta) está em uma audiência pública com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) no dia 3 de outubro. As entidades esperam ter acesso à precificação do QAV para fazer sugestões.
Mas o resultado dessa reivindicação não deve vir tão cedo. Somada com a alta do dólar, o querosene de aviação tem o potencial de levar os preços das passagens ainda mais para o alto. A única saída, segundo a Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo (Andep), é antecipar ao máximo possível a compra do bilhete.
– Só resta essa defesa ao consumidor. Tão logo saiba quando vai viajar, compre a passagem. Não que vá garantir uma passagem tão barata, mas será sempre menos pior. Quando o voo ainda está vazio, a companhia baixa para chamar passageiros. E, sempre, pesquisar entre diferentes empresas – orienta o presidente da Andep, Claudio Candiota Filho.