Luis Carlos Ewald ficou conhecido como Sr. Dinheiro quando apresentava o quadro de mesmo nome no Fantástico. Pelo programa da TV Globo, o economista e engenheiro levou o tema da educação financeira a milhões de lares.
Orgulhoso de alcunhas como “economista mão de vaca”, Ewald traduz em orientações e dicas acessíveis os mistérios do orçamento doméstico, das estratégias de marketing do comércio e dos caminhos para uma vida próspera, com menos gastos naquilo que não é tão importante e mais tranquilidade. E vê com serenidade de um pioneiro a proliferação de outros “senhores dinheiro” em canais do YouTube.
— Hoje, qualquer um se diz entendido em finanças pessoais. Como eu faço isso há uns 30 anos, tudo que eu ensinei está sendo bem difundido agora por terceiros — pondera, em conversa por telefone.
Confira, abaixo, trecho de entrevista concedida por ele à reportagem de GaúchaZH.
Qual é o elemento-chave para conseguir colocar ordem nas finanças?
Costumo dizer que a questão é de decisão pessoal: a pessoa quer fazer, faz e dá certo. Não precisa ser perito. O principal é não gastar mais do que ganha. O problema do endividamento vem do crédito. Se não tiver crédito, não tem esse problema. Costumo dizer que quem está no SPC e Serasa tem sua situação resolvida: não tem mais cartão, cheque especial. Depois de cinco anos (quando deixam de valer as restrições ao crédito relacionadas a uma determinada dívida não paga), a pessoa está acostumada a viver sem crédito, só gasta o que ganha, e aí pode voltar a ter o cartão de crédito, que é um instrumento bastante confortável, mas precisa ser usado com juízo.
Quem está endividado contratou um ou dois gigolôs para cuidar do seu dinheiro.
LUIS CARLOS EWALD
Em todos os lares existe gordura para queimar? Por onde começar?
São as tentações. Para as mulheres, bolsas, sapatos, perfumes. Para os homens, os gadgets (aparelhos eletrônicos). É um desperdício impressionante. Você vê pessoas sem condições de viver com o que ganham com celulares de R$ 2 mil.
Você chegou a ser chamado de “economista mão de vaca”. As pessoas têm vergonha de economizar?
É muito difícil uma pessoa com menos dinheiro resistir a toda propaganda de marketing, familiarmente é complicadíssimo, os filhos pedem tênis novos, roupas novas. É nessa administração que o dinheiro vai embora, o crédito corrói (o orçamento). Quem está endividado contratou um ou dois gigolôs para cuidar do seu dinheiro. Entra o salário, 10% a 12% vão para juros. Isso é burrice. Pare para pensar e mude já seu sistema de controle!
Cerca de 80% dos inadimplentes ganham até dois salários mínimos. Como poupar nessa faixa salarial?
Nesse padrão de renda é muito difícil ter condições de poupar, porque o dinheiro não dá. Mas há os que são ajuizados, não gastam mais do que ganham e me perguntam: “Sou organizado, mas o dinheiro não dá, o que eu faço?” Para esses, eu recomendo: “Faça como a Igreja, cobre o dízimo, mas de você mesmo: tire 10% e bote todo mês na poupança”. Se, primeiramente, a gente paga a nós mesmos, já poupamos 10%. Vá ao banco e fale com o gerente: “Vou assinar uma carta autorizando a reservar 10% do que eu ganho todo mês”. Pronto: proteja-se de si mesmo.
É possível investir com pouco?
As taxas de juros caíram bastante, mas ainda há boas aplicações em CDB, Tesouro Direto e ações — estas, para quem ganha muito. O que é importante é que haja organização. Para quem ganha pouco e está apertado, não adianta inventar nada fora da poupança, que não cobra Imposto de Renda. Podem dizer que há outras oportunidades, mas no fim as taxas tornam a opção pior. Agora, quem tem uma boa quantidade de poupança tem de ter planejamento para seu investimento e, se quiser ficar rico, investir no mercado de ações, porque você consegue comprar um pedaço de empresa. Se você comprou um pedacinho da Apple quando estava começando, hoje tem o mundo nas suas mãos. Quem permite isso são as empresas.
O que tem gerado esse maior interesse pela educação financeira?
Pode-se olhar pelo viés governamental. Em 2011, foi feito um programa estruturado (Estratégia Nacional de Educação Financeira, a Enef), em que mais de 400 escolas públicas tiveram orientação para testar um modelo de educação financeira no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, com uma visão prática muito rara no governo, que é uma esculhambação. Aprovaram o programa sem ter o ranço de obrigatoriedade, que a garotada acharia horroroso. Dividiram nas disciplinas já obrigatórias: em matemática, juro simples e composto, em Geografia, o câmbio, mostrando que cada país tem uma regra de valorização, em História a história do dinheiro, como se passou do escambo para uma representação material de moeda. Foi testado com sucesso e hoje já tem obrigatoriedade sendo levado a todas as entidades para que o povo, desde pequeno, aprenda a cuidar do dinheiro. Isso ajudou nessa novidade dos blogs e canais sobre educação financeira.