Se dividir o pagamento parece ser a única forma de realizar um sonho de consumo, talvez seja o caso de adiá- lo. A ilusão de fatiar um grande valor em várias pequenas parcelas pode dar a impressão de dinheiro infinito, mas frequentemente leva à abundância de dívidas.
Segundo dados recentes do SPC Brasil, 33% dos usuários de cartão não sabem quanto gastaram na última fatura. As dívidas se empilham sem que se tenha consciência do tamanho do bolo, um convite ao descontrole.
O parcelamento é sempre um endividamento: quem tem faturas aguardando ser pagas, tem dívidas. Segundo educadores financeiros, parcelar se torna uma ótima alternativa para quem nunca fica inadimplente, tem controle das finanças e sequer precisaria dividir o pagamento. Com o dinheiro da compra em mãos e a consciência sobre os gastos, pode- se contar com o crédito sem juros oferecido pelas lojas como um recurso financeiro valioso.
Mas antes disso, tem de pôr ordem no orçamento. Confira as dicas para fazer a escolha certa.
1 - É descontrolado? Pague à vista
Depois de muita pesquisa, você encontra a TV que vinha planejando comprar há meses, por um preço tentador e a possibilidade de parcelar em 12 vezes sem juros. Parece óbvio, do ponto de vista financeiro, que parcelar é um melhor negócio.
Não se você costuma ficar inadimplente.
— A indicação primária é fazer a compra à vista. Primeiro porque pode-se tentar um desconto. E, mesmo que não consiga, ao menos se livra daquela dívida — afirma Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.
2 - Quer parcelar? Planeje o pagamento
É claro que pagar à vista nem sempre é uma opção. Neste caso, ainda que a parcela caiba no orçamento do mês, é necessário parar por alguns instantes e refletir: conseguirei honrar as próximas prestações?
— Tem de fazer o planejamento para todo o prazo do parcelamento. Se não faço, esqueço que, dali a uns meses, eu gastarei muito dinheiro, porque será mês de férias, por exemplo. Deve- se tomar cuidado para não fazer o parcelamento de forma automática. Muita gente vai parcelando sem pensar muito no assunto. Depois, a soma de várias parcelas não cabe no salário — explica Marcela.
3 - Leve em conta o preço final
Parcelamentos com juros fisgam o cliente pela suavização das parcelas. Um notebook de primeira linha parece estar ao alcance dos dedos, aquele relógio imponente de repente é um desejo realizável.
O problema, explica Leandro Rodrigues, educador financeiro da Dsop, é que somos seduzidos pelo valor da prestação e nem percebemos o quão mais caro vai sair o produto.
— No relógio que custava R$ 1 mil, acabo pagando R$ 200 de juros. Se botasse esse dinheiro na poupança, nunca renderia essa quantia — destaca o educador financeiro da Dsop.
4 - Poupe, parcele e invista
Uma dica que vale para os parcelamentos sem juros é poupar o dinheiro para a compra à vista para, só então, utilizar o cartão, como explica Leandro Rodrigues:
— Se vou fazer uma compra que custa R$ 1 mil, tanto à vista quanto parcelada, separo o montante na poupança, rendendo juros e parcelo a compra. Quando chegar no aniversário, terei ganho um pouco de juros. E terei gerado pontos no cartão, milhas e outras moedas virtuais que, hoje, pode- se até vender em dinheiro.
5 - Economize com impostos
Para gastos previsíveis como impostos sobre moradia e automóveis, quem se antecipa sai ganhando: reserve o valor aos poucos, diluindo o gasto nos meses que antecedem a cobrança.
No caso do IPVA, embora o desconto para pagamento antecipado seja baixo, há um abono de 5% para o motorista que guardar, pelo menos, cem notas fiscais no programa Nota Fiscal Gaúcha. Dirigir com consciência também gera economia — este ano, foi de 15% para motoristas sem multas nos últimos três anos, 10% nos últimos dois e 5% nos últimos 12 meses.