Enquanto a Espanha, maior produtora de azeite de oliva do mundo, amargura os efeitos de uma seca severa sobre os olivais, a redução na produção do país pode ter consequências tanto para o consumo, com encarecimento dos produtos, quanto de oportunidade para outros mercados. Entre eles, o gaúcho, que desponta pela qualidade do azeite de oliva e cresce em relevância nos últimos anos.
Esta é a segunda seca consecutiva a afetar os olivais espanhóis, reduzindo a produção pela metade, para cerca de 680 mil toneladas na safra 2022/2023. A combinação de chuvas muito abaixo da normalidade e de ondas de calor superando os 40°C secou o solo e chegou a queimar árvores em algumas regiões do país. Com isso, o preço do azeite na Europa ficou cerca de 50% mais caro em um ano.
No Brasil, os azeites europeus representam mais de 90% do consumo nacional. A falta de produto importado no mercado é bastante improvável devido aos estoques e ao tamanho da produção, mas pode haver efeitos de preço. Para especialistas da olivicultura local, o cenário pode contribuir ao menos para que o azeite brasileiro cresça entre as preferências dos consumidores.
— Pode ser que dentro do Brasil essa seca na Espanha influencie no sentido de se voltar para a produção brasileira. O varejo tende a nos procurar, principalmente na gama de azeites de alta qualidade — avalia Paulo Lipp, coordenador da Câmara Setorial da Olivicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do governo do RS.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional de azeitonas, respondendo por 80% da produção nacional de azeite de oliva. A safra da atual temporada se encaminha para a reta final e vem confirmando expectativas, devendo superar o último recorde de 448 mil litros produzidos durante o ano de 2022.
— A produção gaúcha vem aumentando em volume, a quantidade de marcas vem crescendo e os produtores estão tentando se organizar cada vez mais na comercialização. Esse é o grande desafio: fazer chegar mais no consumidor e que o produtor consiga mostrar a qualidade do seu produto — completa Lipp.
Qualidade
Em termos de qualidade, aliás, o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes, diz que o produto brasileiro “está em outra prateleira” se comparado ao azeite europeu importado para consumo local. Conforme o dirigente, muitos azeites que vêm de fora do país são comercializados com a denominação de extravirgem, quando, na verdade, são apenas virgem.
A diferença de um azeite virgem para o extravirgem está na qualidade. O azeite classificado como extravirgem é aquele que não apresenta nenhum defeito sensorial e possui acidez menor do que 0,8%.
A ausência de informações no rótulo leva a uma confusão entre produtos e a uma concorrência desleal, segundo o presidente do Ibraoliva. A entidade vem buscando junto aos ministérios da Justiça e da Fazenda uma atualização da legislação vigente para que novas regras de rotulagem sejam definidas. Entre os pontos, o pedido é para que os rótulos contenham a data da safra e não apenas a data do envase, além de informações sobre características sensoriais. Quanto mais novo o azeite, maior o seu frescor e a sua qualidade.
— A grande maioria dos azeites que são importados está fora de padrão, deixando de ser extravirgem. O nosso mercado é consolidado, recebemos medalhas que nunca imaginamos ganhar. Ninguém é contra o azeite virgem, ele só precisa ser identificado — pede Fernandes.