A conectividade é relevante para qualquer setor: seja para a maior rentabilidade de um negócio ou pela agilidade de trabalho que proporciona. E no agronegócio não poderia ser diferente. As máquinas agrícolas, por exemplo, levam cada vez mais tecnologia embarcada, que, muitas vezes, precisa de internet para habilitá-las. O problema é que, no campo, esse acesso ainda não está democratizado. Esse foi o assunto do quarto e último dia do Campo em Debate, que ocorre durante a 45ª Expointer, no parque Assis Brasil, em Esteio.
Um exemplo do nível de tecnologia e inovação que o agronegócio vive pode ser visto nesses 10 dias de Expointer, no RS Innovation Agro. Segundo o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, Alsones Balestrin, são mais de cem palestrantes e 75 startups reunidas em torno do assunto no parque.
— Aquela coisa meio idílica de que o produtor rural está lá numa fazenda, distante de todos, que não fala com ninguém, não existe isso mais. Tem limitações, sim. Vai ser muito melhor, vai. Mas tem um avanço importante acontecendo. O agro é inovador, há 50 anos nós crescemos 3% ao ano — afirmou o curador do HackatAgro, Donário Lopes de Almeida.
O próprio HackatAgro é outra ação nesse sentido. A iniciativa promove competições para estimular jovens de universidades, empresas e startups a pensar soluções tecnológicas para o agronegócio. Três startups que participaram dessa atividade, aliás, estão nesse espaço tecnológico da Expointer.
Só que essas tecnologias só são possíveis graças a empresas de telecomunicações, destaca o diretor de negócios e IOT da Claro, Eduardo Polidoro:
— A gente sabe que o campo está passando por uma transformação digital e a conectividade é o habilitador dessa tecnologia.
— É por meio dela que se habilita as tecnologias mais inteligentes — emendou o diretor de vendas da Embratel, Adriano Pires.
Para o CEO e cofundador da Sol, Rodrigo Oliveira, a conectividade e as tecnologias de ponta já foram e estão sendo desenvolvidas. Por isso, o foco do setor privado agora precisa ser outro: desenhar modelos que insiram os pequenos e médios produtores nesse movimento tecnológico e de conectividade.
— Você tem muita gente que está fora disso. A gente tem de lembrar que tudo o que a gente fala aqui de tecnologia tem de atender 80% dos produtores rurais mais ou menos, que são pequenos e médios. Então se você faz tecnologia, mas ela é cara, não chega neles. Esse é o maior desafio que se tem. E as grandes cabeças devem pensar e já estão pensando nesse mercado — justificou Oliveira.
Na visão do secretário de Planejamento, Governança e Gestão, Claudio Gastal, o tema também precisa estar na mira do Estado:
— O Estado, juntamente a iniciativa privada, tem de ter uma atuação mais forte não só no processo de regulação e acompanhamento dos investimentos necessários, mas também buscar alternativas para conectividade no campo. A infraestrutura da logística, com melhores rodovias, ajudam a escoar a produção, mas efetivamente o que vai continuar dando salto de produtividade no Estado é conectividade para que produtor possa ter acesso à informação, acesso à pesquisa e acesso aos seus dados.
Oliveira também citou a necessidade de apresentar a facilidade que essas tecnologias trazem ao agricultor e incentivar mão de obra qualificada, que ainda é escassa no meio rural para essas novas tecnologias.
— Nós precisamos traduzir a esse produtor o que é ter esse monte de dados em tempo real. E fazer com que ele ache as soluções para os problemas da sua propriedade — concordou Adeliano Cargnin, chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves.
Uma dessas traduções, na visão do vice-presidente da Farmers Edge para América Latina, Celso Macedo, é de que a tecnologia pode aumentar produtividade dentro do mesmo número de hectares — ou seja, de que não será mais necessário aumentar área para aumentar sua produção.
— A informação em tempo real é valiosa. Imagina um agricultor que mora em Porto Alegre e tem uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul conseguir administrar sua fazenda a distância. Conseguir dizer para o seu tratorista, por exemplo, para diminuir a velocidade do trator. E se sabe quanto pode se perder em grãos pela velocidade inadequada da máquina durante a colheita — explica Macedo.
Para o head do Celeiro AgroHub Tecnopuc e coordenador da Riagro-RS, Luís Humberto Villwock, o produtor entender a relevância dessa tecnologia pode fazer com que essas commodities que produz se transformem em produtos de maior valor agregado:
— O agronegócio não termina na Ceasa, não termina no porto. O agronegócio é a base daquela marca de café que a gente coloca dentro da nossa casa ou num consultório chique de medicina nuclear ou de advogados — acrescentou.
*Produção de Carolina Pastl