A safra de frutas na Serra vai render menos nesta temporada. Estimativa inicial da Emater-RS indica que a colheita 2019/2020 deve ter queda de cerca de 6% em comparação com o ciclo passado. A previsão — extraoficial — é colher 70 mil toneladas a menos em pêssego, ameixa e maçã, as principais cultivadas na região no verão junto com a uva. Já os parreirais devem render mais em 2020, cerca de 705 mil toneladas, mas 10% menos em relação à média histórica. A colheita passada rendeu 1,217 milhão de toneladas. Nesta, a previsão é de 1,147 milhão. Na ameixa, a quebra chega a 70% em algumas propriedades.
Na safra 2018/2019, o granizo que caiu em outubro destruiu parte dos parreirais de uva da Serra, reduzindo a colheita em 90 mil toneladas. A safra de pêssego também está quase 20% abaixo do esperado.
O assistente regional de fruticultura do escritório regional da Emater, Enio Ângelo Todeschini, explica que as causas nas perdas envolvem frio tardio, excesso de chuva na florada e falta de luminosidade no período mais crítico das culturas. Em outubro, por exemplo, quando as plantas estavam carregadas de flores, choveu além da média.
Todeschini adianta, no entanto, que os números podem mudar:
— É apenas uma estimativa, pois muitas frutas ainda estão em desenvolvimento.
A família Roglio, na localidade de São Pedro e São Paulo da Terceira Légua, interior de Caxias do Sul, deve ter redução de 20% na colheita da uva. A previsão é de 200 toneladas da fruta. Ano passado foram 240 toneladas.
Mesmo assim, Cláudio, 68 anos, e o filho Gustavo, 38, estão satisfeitos com a produção.
— Ano passado vendemos tudo. Faltou uva — relembra Cláudio.
A tradição de cultivar vinhedos está na quarta geração da família. Nos 16 hectares, eles mantêm variedades Lorena, Isabel, Coder e Niágara.
— É só o que sei fazer — diz o pai.
Agora, é Gustavo quem toma a frente na lavoura:
— Dá trabalho, mas aprendi a lidar com a uva desde cedo.
Ele também comemora a qualidade dos grãos que ainda estão se desenvolvendo na parreiras:
— Tá bonito!
“Não vai pagar nem a despesa”
Alex Mazzochi, 38 anos, não acredita que a sua bem cuidada plantação de ameixa em Ana Rech, localidade de Caxias do Sul, vai render 50 toneladas a menos que o ano passado – de 60 na safra passada para 10 toneladas neste ano.
— Olha, até agora não estou acreditando — lamenta.
Desolado, anda pelos corredores do pomar de cinco hectares e constata que a maioria dos galhos estão praticamente sem frutas.
— Ano passado era bonito de ver. Agora, não vai dar para pagar as despesas — calcula.
Mazzochi conta que a produção normal do pomar é de aproximadamente 20 quilos por pé. Como o clima não ajudou, a média é de quatro quilos. A variedade que menos produziu foi a Letícia, mas a Fortune também deixou a desejar.
Na colheita, que está iniciando, o que deve compensar um pouco é o preço. Se no ano passado o produtor vendeu a fruta na propriedade a R$ 3 o quilo, nesta safra já saltou para R$ 5.
Mazzochi pretende recuperar parte do prejuízo com as culturas de caqui e uva.
— Por enquanto, as videiras e os caquizeiros estão carregados.
E a maçã que também cultiva? Nesta cultura, a quebra também passa de 70%.
Cor e sabor chamam a atenção nos pessegueiros
Giovani Bonatto, 37 anos, também vai colher menos pêssegos na safra. De 500 para 200 toneladas este ano. O produtor de Vila Cristina explica que, além do frio insuficiente, 2018 rendeu uma megassafra.
Na propriedade, a movimentação era intensa nos últimos. No período final da colheita, dezenas de caixas da fruta eram retiradas das plantas, selecionadas e guardadas com cuidado nas câmaras frias.
Com 20 hectares de área plantada, Bonatto vai faturar menos, mas a qualidade está acima da média. Há cinco anos, o produtor investiu em novas variedades de pêssego: a Rubinel e a BRS Fascínio. Ele já está colhendo os bons resultados. No pomar, a cor e o sabor da fruta surpreendem e fazem a diferença na hora da venda. O preço está variável, mas pode chegar a R$ 5 o quilo.
— Ainda vale a pena cultivar — garante Bonatto, que também trabalha com ameixa e caqui.
Atenção: acesse o site e o aplicativo GaúchaZH usando o seu e-mail cadastrado ou via Facebook. O nome de usuário não está mais disponível. Acesse gauchazh.com/acesso e saiba mais.