Colaborou Leticia Szczesny
Agricultores familiares apostam na diversificação ao desenvolverem produtos diferenciados para agregar renda às propriedades. Mais do que colorir e embelezar, flores são fontes de nutrientes na culinária. E hoje, além de consumidas individualmente, podem ser encontradas em temperos, como na receita da família Bellé, de Antônio Prado, na Serra. Há cerca de um mês, a agroindústria familiar lançou uma linha de condimentos de cada uma das quatro estações (outono, inverno, primavera e verão).
A base do tempero é a mesma: plantas alimentícias não convencionais (pancs), ervas aromáticas e medicinais e folhas de frutas nativas. O que difere cada versão são as variedades utilizadas. Com ingredientes orgânicos e originais, a família oferece um condimento que vai muito além do sal com alho, garantindo sabor e substâncias nutritivas aos consumidores.
Para criar o produto, Franciele Bellé contou com a colaboração da gastrônoma e pesquisadora Márcia Tamiozzo. A parceria começou na Feira dos Agricultores Ecologistas, no bairro Bonfim, em Porto Alegre, onde a família vende sua produção. Na época, Márcia estava desenvolvendo seu trabalho de conclusão de curso em Gastronomia, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e sugeriu à agricultora que produzissem um tempero com base na sazonalidade das estações. E funcionou. Cada produto tem sabor diferente.
— O tempero de outono foi um sucesso — comemora Márcia, detalhando que foi lançado na Expointer e é o único colocado no mercado até o momento.
Enquanto o produto de outono é forte e picante, defumado, com folhas vermelhas ou amarelas, o de inverno — que será lançado em breve — é terroso e encorpado. A proposta para a primavera é mais suave, com toque floral, feito com pétalas de flores esmagadas. E, no verão, remete a um sabor mais fresco, elaborado com folhas cítricas.
— Nosso intuito é melhorar o processo de produção para fabricarmos em larga escala — projeta a gastrônoma, ressaltando que a ideia é ter embalagens sustentáveis e criar eco pontos para venda.
Para mostrar a versatilidade do condimento, Márcia o utilizou em duas receitas no menu do trabalho de conclusão. Na entrada, como ingrediente da massa de um pão pita (sírio) e, no prato principal como parte de receita vegana:
— Não é para ser somente um tempero, mas ingrediente que agregue valores nutricionais. Queremos trazer, de forma prática, a natureza para o urbano.
Diversificação permite novos experimentos
A nutricionista e extensionista rural social da Emater, Leila Ghizzoni reforça que o uso de ingredientes frescos pode ser estimulado em casa, ao plantar uma horta. E, no caso de produção agrícola, iguarias originais podem se traduzir em novos mercados:
— Os agricultores podem aproveitar o que cultivam na propriedade para desenvolver produtos e agregar renda na propriedade, sempre, claro, dentro da legislação e de boas práticas.
O desenvolvimento de temperos faz parte de oficinas realizadas nos centros de formação da Emater no Interior, nos cursos de plantas medicinais, aromáticas e condimentares.
Para o consumidor, os temperos de agroindústrias geralmente são mais saudáveis, explica Leila. Isso porque os industrializados contêm uma série de conservantes, espessantes e aromatizantes.
Os agricultores podem aproveitar o que cultivam na propriedade para desenvolver produtos e agregar renda na propriedade, sempre, claro, dentro da legislação e de boas práticas.
LEILA GHIZZONI
Nutricionista e extensionista rural social da Emater
A ligação da família Bellé com a produção de temperos começou antes da linha das estações. Em 2015, Franciele criou o primeiro condimento para consumo próprio. A agricultora colhia todas as pancs da propriedade e transformava em produto no mesmo dia. Os familiares e amigos gostaram tanto que a incentivaram a comercializar. Hoje, faz parte do portfólio, que inclui ainda geleias, sucos de frutas nativas, polpas, conservas, doces e desidratados (flores, temperos e frutas).
— Cada lote do tempero tem de 80 a cem pancs diferentes — detalha Franciele.
As flores, vendidas em bandejas e presentes nos condimentos, têm relação especial e simbólica na vida da agricultora.
— Na última gestação, passei muito mal, fiquei muito fraca e perdi completamente o apetite. A partir do uso de flores, consegui voltar a comer. O prato ficava muito mais bonito e dava mais vontade de me alimentar — lembra Franciele, mãe de Angelica, Diego e Roberta.
Hoje, a propriedade, com aproximadamente 400 variedades na lavoura, entre pancs, verduras e frutas, e cerca de 40 produtos da agroindústria familiar, é comandada por Franciele, o marido, Rodrigo Foscarini Zen, a mãe, Aldaci Menoncin Belle, e o pai, Nelio Roberto Belle.
A família participa de três feiras na Capital. Segundo Franciele, cerca de 80% da renda da agroindústria vem das exposições.
Assentamento de Nova Santa Rita produz condimento caseiro
Com o objetivo de eliminar temperos tradicionais à base de químicos, a Família Argolo Nunes, do assentamento Itapuí, de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana, desenvolveu um condimento caseiro com ingredientes orgânicos cultivados na propriedade. O produto é elaborado com alho nirá, cebolinha, louro, manjericão, manjerona, orégano, sal marinho e salsa. A agroindústria levou cerca de quatro anos para chegar à receita ideal.
— O segredo do tempero é a quantidade de ervas verdes, que são colhidas da lavoura e em seguida higienizadas e processadas — explica Olair Nunes dos Santos, um dos donos da propriedade, que reúne cultivo de verduras, legumes, frutas e criação de peixes.
A ideia é que os consumidores possam utilizar o condimento para realçar o sabor dos alimentos, reforça Santos. O produto é bem aceito nas feiras que participam, como na Feira Ecológica do Menino Deus, em Porto Alegre. Hoje, a família trabalha para certificação e construção do espaço para o processamento do tempero caseiro.
Ao comprar condimentos:
- Dê preferência por temperos in natura.
- Armazene em recipiente de vidro bem fechado.
- Tempero seco deve ser guardado em local sem incidência de luz.
Fonte: Leila Ghizzoni, da Emater-RS
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