Há um ano no cargo de diretor industrial e de fomento agropecuário da Languiru, Fabiano Leonhardt, 38 anos, teve a trajetória profissional e de educação ligada à cooperativa localizada em Teutônia, no Vale do Taquari. Filho de produtores associados, ganhou bolsas de estudo para toda a formação — do curso de técnico agrícola quando jovem ao MBA em Gestão de Empresas na vida adulta.
— Não foi algo planejado, foi acontecendo. Quando vi, já estava mudando de posições e me qualificando para assumir a responsabilidade que tenho hoje — conta Leonhardt.
O primeiro estágio foi na área de produção de ovos férteis da Languiru. Logo em seguida, veio o emprego de técnico agrícola — função que desempenhou por oito anos. Nesse período, foi estimulado a cursar Administração, novamente com bolsa-auxílio da cooperativa. Do trabalho no campo, passou então ao mundo da gestão empresarial. Atuou nas gerências da fábrica de ração e dos frigoríficos de aves e de suínos até assumir o cargo que abrange todas as unidades industriais da cooperativa.
— Conheci todos os setores. O único que tive menos contato, e que estou me dedicando para aprender agora, é o de lácteos — conta o executivo.
Indústrias da cooperativa geram 3 mil empregos
Com mix de quase 400 produtos, principalmente de origem animal, a Languiru é uma das únicas cooperativas agropecuárias gaúchas que atua em quatro ramos industriais: suínos, aves, lácteos e ração. Não por acaso, gera quase 3 mil empregos diretos nos vales do Taquari e Rio Pardo.
— O perfil do nosso associado é muito diversificado, o que nos dá sustentação em anos em que um segmento de atuação vai melhor do que outro — explica Dirceu Bayer, presidente da cooperativa.
Hoje, 30% do faturamento da organização vem do mercado de suínos, beneficiado pela importação recorde da China, que sofre com prejuízos milionários causados pela peste suína africana. A planta está localizada em Poço das Antas. O frigorífico de aves, em Westfália, e a indústria de lácteos, em Teutônia, respondem cada uma por cerca de 20% dos negócios. O restante é completado pela fábrica de ração, em Estrela, além de lojas agropecuárias e supermercados distribuídos em dezenas de municípios.
A industrialização preconizada na Languiru é considerada modelo para o setor, segundo o presidente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocergs-Sescoop/RS), Vergílio Perius, que defende o aumento do número de agroindústrias para verticalização das atividades:
— Já avançamos muito, mas podemos ir além, principalmente na produção vegetal, de grãos.
Do total de 128 cooperativas agropecuárias no Rio Grande do Sul, 62 têm parques fabris. O aumento do beneficiamento, acrescenta Perius, é uma forma de agregar valor à produção e reduzir a dependência do mercado de commodities:
— Isso sem contar o aspecto social. Indústrias geram mais mão de obra, um ponto extremamente sensível em período de recessão econômica como o que estamos passando.
Mas o processo de industrialização, pondera o dirigente, não depende apenas da vontade das cooperativas. Exige também políticas de incentivo e ambiente institucional favorável.
Da criação de suínos às hortaliças
Na propriedade de 12 hectares da família Flach, em Poço das Antas, no Vale do Taquari, toda a produção é atrelada à Languiru. Além da criação integrada de suínos, o casal Valdecir Antônio Flach, 43 anos, e Vanessa Ludwig Flach, 27 anos, produz hortigranjeiros para os restaurantes dos frigoríficos de suínos e de aves da cooperativa.
Em estufas, os agricultores cultivam alface, tomate, pimentão e brócolis — além de aipim, o qual vendem descascado e limpo. Antes de fornecerem a restaurantes, destinavam a produção aos supermercados da sociedade.
— Temos um compromisso mensal de entrega. Isso é bom, porque não temos intermediário e certeza da venda — conta Flach que, com a esposa, está ampliando e modernizando a estrutura para alojar 930 leitões na fase inicial de criação.
O casal, pai da pequena Bianca, de 11 meses, faz parte de um perfil de associado que vem crescendo na Languiru, focado na diversificação das atividades. São 2 mil sócios na criação de suínos, aves e leite e outros 4 mil em hortaliças e grãos. Estão distribuídos em 69 municípios dos vales do Taquari, Rio Pardo, Caí e Serra.
— É uma forma de segurar as famílias no campo, estimular a sucessão e rejuvenescer o quadro social — destaca Dirceu Bayer, presidente da cooperativa.
Hoje, divididos em área animal e vegetal, os produtores serão integrados em modalidade única de associação no próximo ano, fazendo com que todos tenham direito a voto e decisão.