O risco de morte por inanição de parte dos milhões de frangos e milhares de suínos criados em propriedades do Vale do Taquari levou entidades locais a lançarem alerta sobre o perigo de emergência sanitária na região. A possibilidade existe, confirma a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que informa ter equipes a postos para intervir, se for necessário.
Devido à paralisação dos caminhoneiros, as granjas onde os animais são criados não conseguem receber ração desde a semana passada. Embora sem levantamento concluído, há relatos de propriedades que registram os primeiros casos de mortalidade. De acordo com o comunicado, a situação tenderia a se agravar nas 72 horas seguintes após a noite de terça-feira. Nesta quarta-feira (30), os bloqueios não diminuíram, conforme o Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat).
A preocupação é com a impossibilidade de descarte correto das carcaças dos animais em caso de mortandade em massa, com ameaça de contaminação de lençóis freáticos, cursos de água e solo. Ou seja, riscos ambientais e à população. O chefe do divisão de licenciamento de criações da Fepam, Arno Kayser, confirma o alerta:
— Se não houver cuidado com esse descarte, há risco, inclusive para a saúde das pessoas.
Atenta à questão e devido à elevada quantidade de consultas que recebeu nos últimos dias, a Fepam elaborou nota técnica orientando os procedimentos aos criadores (ver abaixo). Devido ao grande número de animais e bloqueio nas estradas, caso não seja possível adotar as técnicas mais recomendadas, o documento aponta como os animais podem ser enterrados em valas. É uma solução de emergência, mas que pode minimizar o riscos, observa Kayser.
Nas propriedades, o ideal é destinar os cadáveres às composteiras construídas para animais mortos. A segunda opção são as centrais de compostagem de dejetos líquidos e estercos. Em último caso, cavar uma vala em um ponto elevado e que deve ser impermeabilizada.
O gerente regional adjunto da Emater em Lajeado, Carlos Lagemann, lembra que, mesmo se os bloqueios cessassem hoje, ainda demoraria para as fábricas receberem insumos, produzir e distribuir a ração.
— Há possibilidade de um desastre ambiental de consequências que não podemos prever. Em uma região muito pequena, temos um grande número de animais. Sem alimento, a imunidade baixa, e isso aumenta o risco de zoonoses, doenças que podem ser passadas dos animais para as pessoas — diz Lagemann.
A nota que faz o alerta sobre o risco de emergência sanitária é assinado por entidades como Emater, Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), Codevat, Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Taquari (Consisa), sindicatos de trabalhadores rurais e Colegiado do Desenvolvimento Territorial do Vale do Taquari (Codeter). A presidente do Codevat, Cintia Agostini, diz que os bloqueios recrudesceram nesta quarta-feira (30).
— Estão caçando caminhões até nas estradas vicinais para levar às barreiras — relata.
A região é responsável por 35% do processamento de leite do Estado. Além disso, 28% da produção de frangos e 15% de suínos. São 5,8 mil famílias no campo que se dedicam a essas atividades prejudicadas, além de outras 9 mil pessoas que trabalham nas indústrias do setor. Apenas nas aves, já seriam 3 milhões de cabeças com fome. Conforme o Codevat, o custo de produção do rebanho suíno da região, que corre o risco de ser perdido para o abate industrial, chega a R$ 222 milhões. Para os frangos, R$ 294 milhões. No caso do leite, R$ 1 milhão por dia. Nas indústrias, a perda de faturamento chega a R$ 40 milhões.
As orientações da Fepam para descarte dos animais mortos:
1) Prioritariamente, destinar os cadáveres às composteiras para animais mortos.
2) As centrais de compostagem de dejetos líquidos e os pátios de compostagem de estercos podem ser usados para destino dos cadáveres, em um segundo momento.
3) Esgotadas essas possibilidades, os animais podem ser destinados a uma central licenciada de tratamento de dejetos orgânicos de origem industrial. São empresas que tratam material orgânico descartado.
4) A última alternativa, considerada excepcional, é enterrar os cadáveres, nas seguintes condições:
— O local dever ser em ponto elevado do terreno, com o lençol freático a pelos menos dois metros de profundidade. O ponto também deve estar afastado pelo menos 30 metros de residências vizinhas.
— A vala deve ter o fundo impermeabilizado (o ideal seria lona ou cimento). É possível usar ainda na base camada de no mínimo 20 centímetros de cama de aviário, serragem ou resíduo de lavoura (que atua como uma esponja para reter o necrochorume, líquido resultante da decomposição dos animais). Colocar os cadáveres sobre esta camada, cobertos com cal. Deve ser posta ainda, por cima, pelo menos um metro de altura de terra, com 50 centímetros ou mais se sobressaindo do terreno.
— O local deve ser identificado com a data do enterro e a quantidade animais acomodados. Esta prática será tolerada até o restabelecimento do abastecimento.
Atenção
As equipes da divisão de emergências ambientais da Fepam estão em plantão permanente e podem ser acionadas pelo celular (51) 99982 7840, que também tem WhatsApp. A orientação é buscar a ajuda dos técnicos antes de alguma medida que possa colocar o ambiente em risco.